Meditação para a Vigésima Quarta Sexta-feira depois de Pentecostes
SUMARIO
Depois de termos visto a natureza e excelência da sabedoria cristã, meditaremos sobre os seus sinais ou caracteres, e veremos:
1.° O que ela é em si;
2.° O que ela é em suas relações com o próximo.
— Tomaremos depois a resolução:
1.° De pedirmos muitas vezes a Deus a sabedoria cristã, e de nos examinarmos a nós mesmos com frequência durante o dia, para ver se as nossas obras, palavras e sentimentos, tem os seus, caracteres;
2.° De nos conservarmos nesse espírito habitual de recolhimento, fora do qual não reside a verdadeira sabedoria.
O nosso ramalhete espiritual será a invocação a Santíssima Virgem como assento ou trono da verdadeira sabedoria:
“Virgem, prudentíssima, trono da sabedoria, rogai por nós” – Virgo prudentissima, sedes sapientiae, ora pro nobis
Meditação para o Dia
Adoremos Nosso Senhor, cheio do Espírito de Deus, que é um espírito de sabedoria de entendimento, e de conselho (1). Admiremos à sua constante aplicação em seguir em todas as suas obras e palavras a luz desta divina sabedoria, e imploremos-Lhe a graça de O imitar.
PRIMEIRO PONTO
O que a Sabedoria Cristã é em si mesma
O Espírito Santo descreve-a admiravelmente na Epístola de São Tiago, capítulo terceiro. Primeiro de tudo diz ele, é casta (2): foge das ocasiões que a poderiam corromper, mortificando por isso os seus sentidos, a sua imaginação, o seu coração, e guardando-se da ociosidade. É pacifica (3), faz cada coisa segundo julga mais conforme com a vontade de Deus, nenhuma coisa por capricho. É cheia de modéstia no aspecto, no andar, nas ações; modéstia fundada no respeito da presença de Deus e no desejo de induzir os outros para o bem; modéstia humilde e dócil, que gosta de obedecer, de sujeitar o seu juiz o e a sua vontade, de consultar e seguir os conselhos que lhe dão (4). Tem em grande consideração estas palavras:
“Ouvindo as palavras da prudência, o sábio ficará mais sábio” – Audiens sapiens sapientior erit (Pr 1, 5)
“Filho, não faças coisa alguma sem conselho” – Fili, sine consilio nihil facias (Ecl 32, 24)
“O conselho te protegerá e te fará obrar com prudência” – Consilium custodiet te, et prudentia servabitte (Pr 2, 11)
Examinemos se temos estes sinais da sabedoria cristã.
SEGUNDO PONTO
O que é a Sabedoria Cristã nas suas relações com o próximo
A sabedoria cristã, nos diz ainda o Espírito Santo pela boca de São Tiago, desvela-se em estar bem com toda a gente: com as pessoas cheias de defeitos, suportando-as sem mostrar o que desagrada; com os maus, buscando atraí-los para o bem por meio de atenções; com os bons, venerando-os e amando-os como amigos de Deus, alegrando-se de os ver cheios, de graças e de talentos, fazer maiores coisas que ela e sobressair nas virtude: porque não conhece essa baixa inveja, que se entristece com o mérito dos outros, e se ofende com os louvores que lhes dão (5). Cheia de misericórdia para com todos os que padecem, está contente com todo o bem que pode fazer, seja na ordem temporal para aliviar o infortúnio, seja na ordem da salvação para ganhar as almas para Deus e para a virtude (6). Severa consigo mesma e indulgente para com os outros, não sabe criticar e censurar, e está tão longe de condenar os outros, que nem sequer se detém em examinar a sua conduta para os julgar, a menos que o seu cargo a isso a não obrigue (7). Finalmente, simples e sem dissimulação, ela ama a candura e a sinceridade, e detesta a dobrez, o artifício e a dissimulação (8).
Examinemos por estes novos caracteres se temos a sabedoria cristã.
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
Referências:
(1) Requiescet super illum spiritus Domini: spiritus sapientiae et intellectus, spiritus consilii (Is 11, 2)
(2) Primum quidem pudica est (Zc 3, 17)
(3) Deinde pacifica (Zc 3, 17)
(4) Suadibitis (Ibdem)
(5) Bonis consentiens (Zc 3, 17)
(6) Plena misericordia et fructibus bonis (Ibdem)
(7) Non judicans (Ibdem)
(8) Sine simulatione (Ibdem)
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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo V, p. 199-201)