Skip to content Skip to footer

O amor de Deus

Meditação para o 17º Domingo depois do Pentecostes. O amor de Deus

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus 22, 34-46

34Constando-lhes que Jesus reduzira os saduceus ao silêncio, os fariseus reuniram-se em grupo. 35E um deles, que era legista, perguntou-lhe para o embaraçar: 36«Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?» 37Jesus disse-lhe:

Amarás ao Senhor, teu Deus,
com todo o teu coração,
com toda a tua alma
e com toda a tua mente.
38Este é o maior e o primeiro mandamento. 39O segundo é semelhante: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. 40Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.»

41Estando os fariseus reunidos, Jesus interrogou-os: 42«Que pensais vós do Messias? De quem é filho?» Responderam-lhe: «De David.» 43Disse-lhes Ele: «Como é, então, que David, sob a influência do Espírito, lhe chama Senhor, dizendo:

44Disse o Senhor ao meu Senhor:
‘Senta-te à minha direita,
até que Eu ponha os teus inimigos por estrado de teus pés’?
45Ora, se David lhe chama Senhor, como é seu filho?» 46E ninguém soube responder-lhe palavra. A partir de então, ninguém mais se atreveu a interrogá-lo.

Meditação para o Décimo Sétimo Domingo depois de Pentecostes

SUMARIO

Meditaremos sobre o mandamento do amor de Deus, que nos lembra o Evangelho; e veremos:

1.° As razões de amar a Deus;

2.° A maneira de aos conservarmos e crescermos no amor de Deus.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De fazermos todas as nossas obras, as mais pequenas como as maiores, por amor de Deus e com grande desejo de Lhe agradar;

2.° De Lhe dirigirmos muitas vezes, de dia e de noite, orações jaculatórias ou aspirações de amor.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Santo Inácio:

“Senhor, dai-me o vosso amor, e isto me basta” – Domine da amorem, et suffici

Meditação para o Dia

Adoremos Nosso Senhor opondo aos seus inimigos, vindos para o tentar, o mandamento do amor de Deus, que Ele chama o primeiro e máximo de todos os mandamentos. Demos-Lhe graças por este ensino, e supliquemos-Lhe que nos penetre bem dEle.

PRIMEIRO PONTO

Razões de Amar a Deus

Porque amar a Deus? É porque, primeiro que tudo, é Deus, isto é, o ser por excelência, o ser necessário e eterno, o ser infinitamente perfeito, a bondade e beleza infinitas, a sabedoria e santidade por essência, nosso Pai, nosso tudo, a quem pertence tão essencialmente todo o amor de que o nosso coração é capaz, que o mesmo Deus não pode dispensar-nos de O amar.

Porque amar a Deus? É porque este amor é o meio de ser perfeito. Quando se ama verdadeiramente a Deus, não se tem outra vontade senão a Sua, não se ama senão o que Ele ama, não se odeia senão o que Ele odeia, faz-se tudo o que Ele manda e não o que Ele proíbe; e deste modo se cumpre toda a lei.

Porque amar a Deus? É porque se acham todos os bens neste só bem. Encontramos nEle a completa saciedade do nosso espírito e coração, e nada mais resta a desejar. Dai-me o vosso amor, meu Deus, dizia Santo Inácio, e isto me basta. Podemos dispensar todas as ciências, mas não a do amor divino. Com todas as ciências podemos ser desgraçados; com o amor de Deus somos sempre felizes, e o mais ignorante dos homens, que sabe amar a Deus, vale mais que os sábios que não O amam.

Porque amar a Deus?  É porque não O amar é um tríplice crime: crime de menos preço, pois que Deus e as suas perfeições merecem infinitamente mais todo o nosso amor que todas as criaturas juntas; crime de injustiça, pois que o homem, não podendo viver sem amar e amando as criaturas, já não ama o seu Criador, prefere por isso mesmo o finito ao infinito, o nada ao tudo, a pouca bondade e beleza que há na criatura à bondade e beleza infinitas que há em Deus, o que é sumamente injusto; crime de ingratidão, porque temos recebido tudo de Deus, e nada das criaturas, senão alguns benefícios que Deus lhes permitiu que nos fizessem; porque, finalmente, esperamos de Deus uma felicidade eterna, e das criaturas o que unicamente diz respeito à vida presente; porque Deus não nos faz senão bem, e as criaturas não nos fazem muitas vezes senão mal. Ó meu Deus, quão justo é que Vos amemos de todo o nosso coração!

SEGUNDO PONTO

Maneira de nos conservarmos e de crescermos no amor de Deus

1.° Convêm evitar, quanto possível, ainda as culpas leves. Estas culpas, por mais leves que sejam, esfriam o coração de Deus e o nosso próprio coração, enfraquecem o amor, diminuem a graça.

2.° Convém que nos vigiemos a nós mesmo, para impedir que o coração se afeiçoe às criaturas. O amor de Deus e o amor das criaturas são coisas incompatíveis: compete-nos optar entre estes dois amores. Ora, poderíamos nós ser tão cegos que permitíssemos, que o amor das criaturas prevalecesse em nós ao amor do Criador? O amor de Deus enche o coração até lhe não deixar outra necessidade, outro desejo senão o de amar sempre mais, enquanto que o amor das criaturas deixa constantemente no coração o vácuo e a sede de um outro bem. O amor de Deus é cheio de doçura, enquanto que o amor da criatura é sempre misturado de amargura. Este pensamento: «Amo a Deus e dEle sou amado», consola em todas as penalidades da vida; o amor das criaturas consola pouco, e é muitas vezes o princípio dos maiores desgostos.

3.° Convém que entreguemos o nosso coração ao amor de Deus com um grande e contínuo desejo de nos abrasarmos nEle e de fazermos os seus atos as mais vezes possível. É o conselho de São Francisco de Sales: «Como, perguntaram-lhe um dia, crescer no amor divino? Amando, respondeu ele. Assim como se aprende a ler lendo, a escrever escrevendo, assim também se aprende a amar a Deus amando-O», isto é, multiplicando de dia e de noite as aspirações de amor. Cada ato de amor é como a lenha lançada ao fogo: aquece, abrasa, aumenta a chama do santo amor.

4.° Convém refletir muitas vezes sobre o estado da nossa alma, examinar até que ponto o santo amor domina em nós, se é verdadeiramente o motor dos nossos atos e sentimentos; é depois deste exame, ter um grande desejo de amar cada vez mais a Deus, pedir-Lhe essa graça e tomar essa resolução. Sim, meu Deus, eu quero destruir em mim o que é puramente humano e natural; quero que só o Vosso amor me dirija e guie, sem me importar com a repugnância da natureza; quero, no meio de tudo o que muda em redor de mim, permanecer invariável no Vosso santo amor e na dependência das suas inspirações.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Voltar para o Índice das Meditações Diárias de Mons. Hamon

(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo V, p. 19-22)