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Tag: quaresma

O nosso bom Salvador lastima-se da ingratidão dos pecadores e os convida a virem lançar-se em seus braços

Reconciliação: Misricórdia de Deus

Capítulo XXXVIII

Nunc ergo, habitatores et viri Juda, judicate inter me et vineam meam. Quid est quod debni ultra facere vineae meae et non feci ei? - "Agora, habitadores de Jerusalém e varões de Judá, sede vós os juízes entre mim e a minha vinha. Que mais podia eu fazer por ela, que lhe não tenha feito?" (Is 5, 3-4)

A quem fala assim Jesus? A quem dirige estas palavras? É a mim, pobre pecador, a mim é que ele fala; a mim é que ele diz com assento da mais viva ternura:

“Meu filho, que mais posso eu fazer por ti?"

Amar-me-ás tu agora de todo o teu coração? Acabarás de sacrificar-me de novo com teus pecados? Ah! Filho, meu caro filho! Depois de tantos sinais do meu amor, porque viveste tanto tempo longe de mim? Que mal te fiz? Em que te contristei? Responde-me. Meu Deus! Meu Deus! Nada tenho que responder. Sou culpável, e gemo sob o peso de meu pecados; cobrem de rubor a minha face; ó Jesus meu! perdoai a um pecador suplicante. Seu culpável; nenhuma desculpa tenho a alegar, mas choro...

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Jesus expira

Maria e João aos pés da Cruz

Capítulo XXXVII

Et inclinato capite, tradidit spiritum - "E baixando a cabeça, entregou o espírito" (Jo 19, 30)

Nosso Senhor já tinha perdido quase todo o sangue: estava todo abatido pelos tormentos que sofrera. O peito ía-se-lhe comprimindo, e a respiração tornando-se difícil; e como não estava deitado no leito, mas suspenso no ar pelos cravos que rasgavam os pés e as mãos, não tinha momento de repouso, e suas dores eram imensamente superiores ás que ordinariamente os homens sofrem em sua agonia: porque em nós a ponta da dor embotando-se ás aproximações da morte, cessamos de sentir, à medida que vamos perdendo o conhecimento; mas o nosso doce Salvador teve sempre o juízo perfeito até ao ultimo suspiro, e não cessou de sofrer senão quando deixou de viver (1). Alguns momentos antes de entregar a alma, sua cabeça se inclinou, os olhos começaram a eclipsar-se, e os lábios a ficarem frios e lívidos. Pouco depois, tornou a levantar a cabeça e os olhos ao céu, soltou um grande brado, e deixando segunda vez cair a cabeça sobre o peito, expirou!!!...

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Nosso Senhor recomenda sua alma a seu Pai

Pai, nas tuas mãos encomendo o meu espírito

Capítulo XXXVI

Pater, in manus tuas commendo spiritum meum - "Pai, nas tuas mãos encomendo o meu espírito" (Jo 23, 16)

Tudo quanto nosso Senhor disse ou fez em sua vida mortal, tudo disse e fez não só para nos testemunhar o seu amor, mas ainda para instruir-nos. Assim nem uma só palavra pronunciou, que, bem meditada, não sirva para conduzir-nos a uma maior perfeição. Detenhamo-nos pois a considerar as que acaba de dirigir ao seu Pai celeste:

“Meu Pai, lhe diz, em vossas mãos encomendo o meu espírito"

É como se dissera: Meu Pai, a vós me abandono sem reserva. Cumpri sobre a terra tudo o que de mim exigíeis, e só morrer é o que me resta; mas se todavia quereis ainda que a minha alma permaneça no corpo para mais sofrer, à vossa vontade me abandono; se quereis que passe desta à outra vida para entrar na gloria e receber a recompensa dos meus trabalhos, à vossa santa vontade igualmente me abandono; eis-me aqui pronto a fazer tudo o que vos aprouver dispor de mim. Oh! Que belo exemplo de abandono a Deus e de completa resignação à sua vontade! Oh! Que admirável preparação para a morte!

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Da sexta palavra que Jesus pronunciou na cruz

"Consumatum est" - Tudo está consumado

Capítulo XXXV

Cum accepisset Jesus acetum dixit: Consummatum est - "Jesus havendo tomado vinagre, disse: Tudo está consumado" (Jo 19, 30)

O nosso Jesus, chegado que foi o momento de exalar o ultimo suspiro, disse em voz moribunda:

“Tudo está consumado”

Ao pronunciar esta palavra, Jesus repassou em seu pensamento todo o curso da sua vida, viu todas as fadigas que padecera, a pobreza, as dores, as ignomínias que sofrera, e as oferecera todas de novo a seu Pai pela salvação do mundo. Depois, tornando a nós disse: Consumatum est, como se dissera: Homens, tudo está consumado, tudo está cumprido: está acabada a obra da vossa redenção, satisfeita a justiça divina, aberto o paraíso; e eis o vosso tempo, o tempo dos que amam.

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Meditação para o V Domingo da Quaresma

Dom Henrique Soares da Costa

Por Dom Henrique Soares da Costa

De hoje a oito entraremos na Semana Santa, com a solenidade dos Ramos e da Paixão do Senhor. Agora, neste último Domingo antes dessa Grande Semana, a Liturgia nos apresenta o Senhor Jesus como nossa Ressurreição e nossa Vida. Vida que recebemos no santo Batismo, Vida que nos vem como força na Crisma, Vida que comemos como alimento de Eternidade na Eucaristia. Eis a Vida: Jesus! Eis o que buscam os catecúmenos, aqueles que por toda a terra estão se preparando para receber os sacramentos da iniciação à vida cristã, a vida em Cristo, no Batismo, na Crisma, na participação à Mesa eucarística! Aqui, ao dizermos que Jesus é a Vida, não estamos falando de modo figurado, metafórico! Jesus é realmente, propriamente, a nossa Vida, a nossa Ressurreição! Ele é o cumprimento do sonho de vida e felicidade que o Pai, desde o início, tem para nós:

“Ó Meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel. Porei em vós o Meu Espírito, para que vivais!”

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Da sede de Jesus sobre a Cruz

"Tenho sede" - Paixão de Cristo

Capítulo XXXIV

Sitio - "Tenho sede" (Jo 19, 29)

Avizinhava-se o nosso divino Salvador do seu ultimo momento; breve estava a cumprir a obra da nossa redenção, morrendo por nós na cruz, quando sentindo-se interiormente abrasado dos ardores de uma sede violenta causados pelas dores extremas que sofria há vinte horas, exclamou:

“Tenho sede”

Pois como! Senhor, então a sede causa-vos mais dores que a cruz? Uma arranca-vos suspiros, da outra nem sequer falais. Que sede pois é essa que tanto vos atormenta! Ah! Bem vos entendo; é o ardente desejo que tendes da minha salvação, do meu adiantamento espiritual. Dizeis-me com todo o afeto:

“Meu filho, tenho sede do teu amor; vem, vem aliviar-me”

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Jesus é desamparado de Deus seu Pai

Capítulo XXXIII

Deus meus, Deus meus, ut quid dereliquisti me? - "Deus meu, Deus meu, porque me abandonastes?" (Mc 15, 34)

Profundas trevas cobriam milagrosamente a face da terra; toda a natureza, à vista do seu Deus moribundo, estava na consternação e pasmo... E Jesus há três horas guardava um profundo silencio. De súbito exclama com uma voz forte:

“Deus meu! Deus meu! Porque me desamparastes?...”

Ó meu Jesus! Que cruéis não deviam ser as vossas dores, que de alguma sorte vos forçaram a vós, tão doce, tão resignado, tão paciente, vos lastimardes ao vosso Pai!

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O bom ladrão

São Dimas, o Bom Ladrão

Capítulo XXXI

Domine, memento mei, com veneris in regnum tuum - "Senhor, lembrai-vos de mim quando entrardes no vosso reino" (Lc 23, 42)

Esta foi a oração do bom ladrão, que por sua fé e confiança mereceu de Jesus esta resposta:

“Hoje estarás comigo no paraíso”

Pedira apenas uma simples recordação, e Jesus promete-lhe o seu reino: tão liberal é o nosso bom Mestre! Tão disposto está sempre a dar muito mais do que se lhe pede! Mas quem não se assombrará sobre a profundeza dos conselhos de Deus? No momento em que o bom ladrão dizia a Jesus: “Senhor, lembrai-vos de mim quando estiverdes no vosso reino”, estava este divino Salvador num estado de aflição e humilhação sem exemplo. Seus discipulos haviam-no abandonado, um deles o trairá e vendera, renegara-o outro três vezes, os judeus vomitavam contra ele blasfêmias, expunham-no à irrisão os gentios, quase ninguém acreditava nele. E é neste momento em que Jesus perdia todo o credito para com a maior parte dos que o conheceram, que este bom ladrão, interiormente iluminado da divina graça, o reconhece por seu Rei e seu Deus... Os discípulos de Jesus tinham tanto tempo conversado com ele; ouvido a sua admirável doutrina, tinham um perfeito conhecimento de sua vida, dos seus milagres; e sua fé foi, todavia, terrivelmente abalada, quando o viram pregado na cruz.

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Lamentações que do alto da cruz dirige Jesus a todos os homens

Crucificação de Jesus Cristo

Capítulo XXIX

O vos omnes qui transitis per viam, attendite et videte si est dolor sicut dolor mens - "Ó vós todos que passais pelo caminho, atendei, e vede se há dor como a minha" (Lm 1, 12)

São estas as palavras que nos dirige Jesus a nós, pobres exilados nesta terra de pecado. Ó vós todos, exclama ele do alto da cruz, ó vós todos, que passais pelo caminho da vida, dignai-vos parar por alguns instantes; lançai sobre esta cruz, onde estou cravado, a vossa vista, e vede se há uma dor que à minha se possa comparar; a minha cabeça está coroada de espinhos que me não deixam repouso algum, os meus pés e as minhas mãos estão varados de enormes cravos, o meu corpo não é mais que uma chaga, e o meu sangue corre de todas as minhas chagas. “De todas as partes me cercam as agonias da morte”, e a minha alma está abismada na mais excessiva desolação.

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Do silêncio de Jesus no meio dos desprezos, das afrontas e dos sofrimentos

Capítulo XXVIII

Et quasi agnus coram tondente se obmutescet, et non aperiet os sum - "Semelhantemente a um cordeiro que se conserva mudo diante do tosqueador, não abrirá a sua boca." (Is 53, 7)

Já falíamos do silencio de Jesus no meio dos seus sofrimentos; mas é tão tocante ver este inocente Cordeiro opondo ao furor dos seus inimigos uma doçura e uma paciência tão incomparáveis, que mais uma vez imos deter-nos alguns instantes em considerar este espetáculo. Comecemos pelo ver em casa de Caifás: na presença deste pontífice é acusado de inúmeros crimes; mas ele guarda silencio: Jesus autem tacebat. Em casa de Herodes enchem-no de desprezos; ele sofre tudo sem dizer uma só palavra. Fazem-no sofrer uma cruel flagelação: não reclama contra a injustiça deste castigo. Os algozes em seu furor excedem muito o numero dos golpes prescritos pela lei: ele não se queixa.

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