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Tag: paixão de cristo

Jesus ora no horto e sua sangue

Capítulo V

“E tendo dito o hino, saíram para o monte das Oliveiras... Então Jesus foi com eles a uma granja chamada Getsêmani” (Mt 26,30).

Tendo feito a ação de graças depois da ceia, Jesus deixa o cenáculo com seus discípulos, entra no horto de Getsêmani e se põe a orar; mal, porém, começa a orar assaltam-no ao mesmo tempo um grande temor, um grande tédio e uma grande tristeza, diz São Marcos (14,33). E São Mateus ajunta: “Começou a entristecer-se e ficar angustiado”. Oprimido por essa tristeza, nosso Redentor diz que sua alma está aflita até a morte (Mc 14,34). Passou-lhe então diante dos olhos toda a cena funesta dos tormentos e dos opróbrios que lhe estavam preparados. Esses tormentos o oprimiram durante sua paixão cada um por sua vez, sucessivamente, mas aqui no horto todos juntos e ao mesmo tempo o afligiram, as bofetadas, os escarros, os flagelos, os espinhos, os cravos e os vitupérios que teria de sofrer depois.

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Da instituição do Santíssimo Sacramento

Capítulo IV

“Enquanto estavam ceando, tomou Jesus o pão, benzeu-o e partiu-o e deu-o a seus discípulos, dizendo: Recebei e comei: isto é o meu corpo” (Mt 26,26).

Depois do lava-pés, ato de tão grande humildade, cuja prática Jesus recomendou aos discípulos, retomou as suas vestes e sentando-se novamente à mesa quer então dar aos homens a última prova da ternura que nutria por eles: e esta foi a instituição do santíssimo Sacramento do altar. Para tal fim, tom um pão, consagra- o e, distribuindo-o a seus discípulos, disse-lhes: Tomai e comei, isto é o meu corpo. Recomendou-lhes, em seguida, que todas as vezes que comungassem se recordassem de sua morte por amor deles (1Cor 11,26). Jesus procedeu então como um príncipe que amasse muito sua esposa e estivesse para morrer: escolhe entre suas jóias a mais bela, e chamando a esposa, diz-lhe: Vou em breve morrer, minha esposa; para que não te esqueças de mim, deixo-te esta jóia em recordação: quando a olhares, recorda-te de mim e do amor que te dediquei.

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Última ceia de Jesus Cristo com seus discípulos

Capítulo III

“Sabendo Jesus que era chegada a sua hora para passar deste mundo ao Pai, tendo amado os seus amou-os até ao fim” (Jo 13,1).

Sabendo Jesus que estava perto de sua morte, devendo abandonar este mundo, tendo até então amado demais os homens, quis então dar-lhes as últimas e maiores provas de seu amor. Sentado à mesa e todo inflamado em caridade, volta-se para seus discípulos e diz-lhes:

“Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco” (Lc 22,15).

Meus discípulos (e o mesmo dizia a cada um de nós), sabei que não desejei outra coisa durante minha vida inteira senão comer convosco esta última ceia, pois após ela terei de sacrificar minha vida por vossa salvação.

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O conselho dos Juízes e a traição de Judas

Capítulo II

“Reuniram-se os pontífices e os fariseus em conselho e diziam: Que faremos nós? porque este homem faz muitos milagres” (Jo 11,47).

Eis como no mesmo tempo em que Jesus se empenhava em conceder graças e fazer milagres em benefício dos homens, as primeiras personagens da cidade se reúnem para maquinar a morte do autor da vida. Eis o que diz o ímpio pontífice Caifás:

“Considerai que vos convém que um homem morra pelo povo e desta forma a nação toda não pereça” (Jo 11,50).

E desde esse dia, ajunta o mesmo apóstolo S. João, os malvados pensaram em encontrar um modo de fazê-lo morrer. Ah, judeus, não temais, pois este vosso Redentor não vos fugirá, não, ele veio expressamente à terra a fim de morrer e por meio de sua morte vos libertar e a todos os homens da morte eterna.

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Jesus entra em Jerusalém

Capítulo I

“Eis que teu rei vem a ti cheio de mansidão, montado sobre uma jumenta e um jumentinho, filho da que tem jugo” (Mt 21,5).

Nosso Redentor, avizinhando-se o tempo de sua paixão, parte de Betânia para entrar em Jerusalém. Que humildade de Jesus Cristo em querer entrar nessa cidade sentado sobre um jumento, sendo ele o rei do céu. Ó Jerusalém, contempla o teu rei, como ele vem humilde e manso. Não temas que ele venha para reinar sobre ti e apossar-se de tuas riquezas; não, ele vem todo amor e cheio de compaixão para salvar-te e trazer-te a vida com sua morte. Entretanto, o povo, que já o venerava por causa de seus milagres e especialmente por causa da ressurreição de Lázaro, vem ao seu encontro. Uns estendem suas vestes sobre o caminho em que devia passar, outros espalham folhagens de árvores para o honorificar. Quem diria então que esse Senhor, recebido com tantas honras, dentro de poucos dias teria de aparecer aí mesmo como réu condenado à morte com uma cruz às costas?

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Setas de fogo ou provas que Jesus Cristo nos deu de Seu amor na obra da Redenção

OPÚSCULO II

Quem considera o amor imenso que Jesus Cristo nos demonstrou na sua vida e particularmente na sua morte, sofrendo tantos tormentos por nossa salvação, não poderá deixar de sentir-se ferido e obrigado a amar um Deus tão apaixonado por nossas almas. São Boaventura diz que as chagas de nosso Redentor comovem os corações mais duros e inflamam em amor as almas mais frias. Consideremos por isso, nesta breve resenha do amor de Jesus Cristo, segundo o testemunho das sagradas escrituras, o quanto fez nosso amoroso Redentor para dar-nos a entender o amor que nos tem e obrigar-nos a amá-lo. 1. “Amou-nos e entregou-se a si mesmo por nós” (Ef 5,2). Tinha Deus feito tantos favores aos homens para ganhar-lhes o amor, mas os ingratos não somente não o amavam, mas nem mesmo queriam conhecê-lo por seu Senhor. Apenas num recanto da Judéia era ele reconhecido como Deus pelo povo eleito: este, porém, mais o temia do que o amava. Ora, querendo ele ser mais amado do que temido por nós, fez-se homem e escolheu uma vida pobre, atribulada e obscura e uma morte penosa e ignominiosa. E por quê? Para atrair-nos os corações. Se Jesus Cristo não nos tivesse remido, não seria menos feliz e poderoso do que sempre o foi: quis, porém, procurar-nos a salvação com tantos suores e penas como se a sua felicidade dependesse da nossa. Poderia remir-nos sem sofrer, mas quis livrar-nos da morte eterna com sua própria morte, e podendo salvar-nos de mil modos, quis escolher a maneira mais humilde e penosa, morrendo na cruz de pura dor, para conquistar o afeto de nós, vermes ingratos. Pois não foi o amor que nos tem a única causa de seu nascimento tão atribulado e de uma morte tão desolada? Ah, meu Jesus, que o amor que nos fez morrer por mim no Calvário me faça morrer a todos os afetos mundanos e me consuma naquele santo fogo que viestes acender na terra. Maldigo mil vezes os indignos prazeres que vos custaram tantas dores. Arrependo-me, meu caro Redentor, de toda a minha alma, de todas as ofensas que vos fiz. Para o futuro prefiro morrer a dar-vos desgosto e quero fazer quanto puder para agradar-vos. Vós em nada vos poupastes por meu amor e eu também em nada quero poupar-me por vosso amor. Vós me amastes sem reserva e eu quero amar-vos também sem reserva. Amo-vos, meu único bem, meu amor, meu tudo.

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Do amor do Filho de Deus em querer morrer por nós

Capítulo XVI

1. “Eis aí o teu tempo, o tempo dos que amam... e te tornaste extremamente bela” (Ez 16, 8, 13). Quanto nós, os cristãos, somos devedores ao Senhor, por nos fazer nascer depois da vinda de Jesus Cristo! Nosso tempo não é mais o tempo do temor, como era o dos Hebreus, mas é o tempo do amor, havendo um Deus morrido por nossa salvação e para ser amado por nós. É artigo de fé que Jesus nos amou e por nosso amor se entregou à morte:

“Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós” (Ef 5,2).

E quem poderia fazer morrer um Deus onipotente se ele não quisesse de livre vontade dar a vida por nós?

“Eu entrego a minha vida... Ninguém a tira de mim, mas eu a entrego por mim mesmo” (Jo 10,17-18).

Por isso diz São João que Jesus na sua morte deu-nos a última prova que podia dar-nos do seu amor:

“Tendo-os amado, amou-os até ao fim” (Jo 13,1).

Afirma um autor devoto que Jesus na sua morte nos deu a maior prova de seu amor, nada mais lhe restando depois disso a fazer para nos demonstrar quanto nos amava (Contens. 1. 10, d. 4, c. 1). Meu amado Redentor, vós vos destes todo a mim por amor e eu por amor me dou todo a vós. Destes a vida por minha salvação, eu por vossa glória quero morrer quando e como vos aprouver. Vós não podíeis fazer mais para conquistar o meu amor e eu, ingrato, entreguei-vos por nada. Meu Jesus, arrependo-me disso de todo o coração: perdoai-me por vossa paixão e em prova do perdão concedei- me a graça de amar-vos. Sinto em mim um grande desejo de vos amar e tomo a resolução de ser todo vosso: vejo, porém, minha fraqueza, e vejo as traições que vos fiz: só vós podeis socorrer-me e tornar-me fiel. Ajudai-me, meu amor, fazei que vos ame e nada mais vos peço.

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Do amor do Eterno Pai dando-nos o seu Filho

Capítulo XV

1. “Assim Deus amou o mundo que lhe deu seu Filho unigênito” (Jo 3,16). Três coisas devemos considerar nesta dádiva: quem é quem dá, que coisa e com que o amor no-la dá. É sabido que, quanto mais nobre o doador, tanto mais apreciável a dádiva; se alguém recebe uma flor de um monarca, estimará essa flor mais que um tesouro. Quanto, pois, devemos estimar este dom que nos vem das mãos de Deus? E que foi o que nos deu? Seu próprio Filho. Não se contentou o amor desse nosso Deus com dar-nos tantos bens nesta terra, mas chegou a dar-se todo inteiro a nós na pessoa do Verbo encarnado. São João Crisóstomo diz: Deu-nos não um servo, nem um anjo, mas seu próprio Filho (In Jo. Hom. 26). Por isso exclama a Igreja, cheia de júbilo:

“Ó maravilhosa condescendência de vossa ternura! Ó inapreciável rasgo de caridade! Para resgatar o escravo, sacrificastes o Filho!”

Ó Deus infinito, como pudestes usar para conosco de tão admirável piedade? Quem jamais poderá compreender um excesso tão grande, que, para resgatar o escravo, quisésseis sacrificar vosso único Filho? ah, meu benigníssimo Senhor, desde que me destes o que de melhor possuíeis, é justo que eu vos dê o mais que me for possível. Vós quereis o meu amor e eu nada mais de vós desejo que o vosso amor. Aqui tendes o meu mísero coração que eu consagro inteirinho a vos amar. Criaturas todas, saí do meu coração e dai lugar ao meu Deus, que o merece e quer possuí-lo todo e sem partilha. Amo-vos, ó Deus de amor, amo-vos sobre todas as coisas e só a vós quero amar, meu Criador, meu tesouro, meu tudo.

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Da esperança que devemos ter na morte de Jesus

Capítulo XIV

1. Jesus é a única esperança de nossa salvação; fora dele não há salvação, em nenhum outro (At 4,12). Eu sou a única porta, disse ele, e quem entrar por mim encontrará certamente a vida eterna (Jo 10,9). Que pecador poderia esperar perdão se Jesus não tivesse satisfeito por nós a justiça divina com seu sangue e com sua morte? “Ele carregou com suas iniqüidades” (Is 53,11). Por isso, o Apóstolo nos anima, dizendo: “Se o sangue dos bodes e dos touros santifica os imundos para a purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito Santo se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima imaculada, purificará a nossa consciência das obras mortas para servir o Deus vivo?” (Hb 9,13-14). Se o sangue dos bodes e dos touros sacrificados tirava nos hebreus as manchas exteriores do corpo, para que pudessem ser admitidos aos sacros misteres, quando mais o sangue de Jesus Cristo, o qual por amor se ofereceu a pagar por nós, tirará os pecados de nossas almas para podermos servir o nosso sumo Deus.

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Das últimas palavras de Jesus na cruz e de sua morte

Capítulo XIII

1. Diz São Lourenço Justiniano que a morte de Jesus foi a mais amarga e dolorosa dentre todas as mortes dos homens, porque o Redentor morreu na cruz sem o mínimo alívio. Nas pessoas que sofrem, a pena é sempre mitigada por qualquer pensamento ao menos de consolação; mas a dor e a tristeza de Jesus foram inteiramente puras, sem mistura de consolo, como diz o Angélico (III q. 46 a 6). Por isso S. Bernardo, contemplando Jesus agonizando na cruz, exclama: Meu caro Jesus, contemplando-vos sobre esse madeiro, dos pés até à cabeça não vejo senão dor e tristeza. Ó meu doce Redentor, ó amor de minha alma, por que quisestes derramar todo o vosso sangue, por que sacrificar a vossa vida divina por um verme ingrato como eu? Ó meu Jesus, quando será que eu me ligarei tão estreitamente a vós que não possa mais separar-me e deixar de vos amar? Ah, Senhor, enquanto vivo neste mundo, estou em perigo de negar-vos o meu amor e perder a vossa amizade, como tenho feito no passado. Ah, meu caríssimo Salvador, se, continuando a viver, terei de passar por esse grande mal, suplico-vos por vossa paixão, dai-me a morte agora que eu espero estar em vossa graça. Eu vos amo e quero amar-vos sempre.

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