Livro II. EXORTAÇÕES À VIDA INTERIOR
Capítulo V
1. Não podemos confiar muito em nós, porque freqüentemente nos faltam a graça e o critério. Pouca luz temos em nós e esta facilmente a perdemos por negligência. De ordinário também não avaliamos quanta é nossa cegueira interior. A miúdo procedemos mal e nos desculpamos, o que é pior. Às vezes nos move a paixão, e pensamos que é zelo. Repreendemos nos outros as faltas leves, e nos descuidamos das nossas maiores. Bem depressa sentimos e ponderamos o que dos outros sofremos, mas não se nos dá do que os outros sofrem de nós. Quem bem e retamente avaliasse suas obras não seria capaz de julgar os outros com rigor.Divindade da Confissão
No dia da Ressurreição, Jesus Cristo apresentou-Se no meio de seus discípulos e disse-lhes: A paz esteja convosco! E repetiu-lhes: A paz esteja convosco! Assim como o Pai me enviou, assim Eu vos envio: Sicut missit me Pater, et ego mitto vos (Jo 20, 19-21). E, depois, que pronunciou estas palavras, soprou sobre eles, e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo; ficarão perdoados os pecados daqueles a quem vós os perdoardes; e ficarão retidos os de quem retiverdes: Haec cum dixisset, insuflavit, et dixit eis: Accipite Spiritum Sanctum; quórum remisseritis peccata, remittuntur eis; et quoum retinueritis, retenta sunt (Jo 20, 22-23). Conta-nos São Marcos que Jesus Cristo disse a seus discípulos: Empenho- vos minha palavra que tudo o que atardes sobre a terra será atado no céu; e tudo o que desatares sobre a terra, será isso mesmo desatado nos céus: Amen dico vobis, quaecumque ligaveritis super terram, erunt ligata et in coelho, et quaecumque solveritis super terram, erunt soluta in coelo (Mc 17, 18). Daqui infere-se que, para perdoar ou reter os pecados, para atar ou desatar as consciências, é necessário conhecer as faltas que foram cometidas. E como conhecê-las sem a Confissão?O que é concupiscência
Em si mesma, a concupiscência é o apetite dos sentidos, uma inclinação natural aos bens sensíveis; esta inclinação, este apetite não são maus, a não ser que sejam contrários à razão e à Lei de Deus. A concupiscência não é uma potência mal produzia pelo demônio; nenhuma potência pode ser má por si mesma, nem pode ser produzida pelo demônio. A concupiscência não é tampouco o pecado original; porque o pecado original é destruído pelo Batismo, enquanto a concupiscência ainda permanece. Não é, por fim, como o quer Calvino, uma coisa corrompida pelo pecado original e semelhante a um forno sempre aceso que vomita o pecado.Meditação para a Quarta-feira da Quarta Semana da Quaresma
SUMARIO
Meditaremos sobre a confissão e veremos que ela deve ser: 1.° Humilde; 2.° Sincera; 3.º Inteira. — Tomaremos depois a resolução de aplicar estas três condições a todas as nossas confissões; e conservaremos para ramalhete espiritual o conselho do Espírito Santo:"Não te envergonhes de confessar os teus pecados" - Non confundaris confiteri peccata tua (Eclo 4, 31)
Meditação para a Terça-feira da Quarta Semana da Quaresma
SUMARIO
Meditaremos sobre o firme proposito que faz parte essencial da contrição, e veremos: 1.° Qual é a sua natureza e absoluta necessidade; 2.° Quais são os seus caracteres. — Tomaremos depois a resolução: 1.° De evitarmos com cuidado todas as ocasiões de pecado; 2.° De não desprezarmos meio algum de nos tornarmos melhores, por mais sacrifícios que isto nos custe, por mais preciso que nos seja violentar-nos. O nosso ramalhete espiritual será as palavras do Salmo:"Jurei, Senhor, e determinei guardar os juízos de vossa justiça" - Juravi, et statui custodire judicia justitiae tuae (Sl 118, 106)
Meditação para a Segunda-feira da Terceira Semana da Quaresma
SUMARIO
Prosseguiremos as nossas meditações sobre o Sacramento da Penitência, interrompidas pelos Evangelhos, tão cheios de interesse, que temos meditado, e veremos que devemos ter nas nossas confissões: 1.° Uma contrição verdadeiramente interior; 2.° Uma contrição verdadeiramente universal. — Tomaremos depois a resolução: 1.° De fazermos todas as tardes, em seguida ao nosso exame de consciência, um ato de contrição interior e universal; 2.° De fazermos, de dia ou de noite, a cada pecado que cometamos, um ato de contrição interior. O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Salmo:"Sacrifício para Deus é o espírito atribulado; ao coração contrito não o desprezareis, ó Deus" - Sacrificium Deo spiritus contribulatus: cor contritum... Deus, non despicies (Sl 1, 19)
Meditação para a Sábado da Septuagésima
SUMARIO
Meditaremos: 1.° Na natureza e importância do exame particular de consciência; 2.° Na maneira de o fazer — Tomaremos depois a resolução: 1.º De cumprirmos fielmente daqui em diante este exercício; 2.° De o fazermos consoante as regras dos mestres da vida espiritual. O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Jeremias:"Constitui-te para arrancares e destruíres, para edificares e plantares" - Constitui te... ut evellas, et destruas... aedifices, et plantes (Jr 1, 10)
Meditação para a Quinta-feira da Primeira Semana da Quaresma
SUMARIO
Meditaremos na maneira de fazer o exame de consciência, e veremos: 1.° Os caracteres deste exame; 2.° Os atos que devem acompanhá-lo. — Tomaremos depois a resolução: 1.º De observarmos no nosso exame as regras indicadas pelos santos; 2.º De o fazermos com uma sincera dor das nossas culpas e com um firme propósito de emenda. O nosso ramalhete espiritual será a palavra do santo rei Ezequias:"Repassarei diante de vós pela memória toda a minha vida com amargura da minha alma" - Recogitabo tibi omnes annos meos in amaritudine animae meae (Is 28, 15)
Meditação para a Quarta-feira da Primeira Semana da Quaresma
SUMARIO
Como a primeira condição para bem nos confessarmos é examinar a nossa consciência, destinaremos as seguintes meditações a este exame. Consideraremos: 1.° A importância do exame quotidiano da nossa consciência; 2.° A importância do exame preparatório para a confissão. — Tomaremos depois a resolução: 1.º De fazermos com exatidão, todas as tardes, o nosso exame de consciência; 2.° De empregarmos um particular cuidado em examinarmo-nos bem antes da confissão. Conservaremos como ramalhete espiritual a palavra do Salmista:"Examinei miudamente todos os meus passos, e toda a minha fadiga encaminhei a guardar a vossa santa lei" - Cogitavi vias meas, et converti pedes meos in testimonia tua (Sl 118, 59)