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Sobre a Rixa, mencionada por São Paulo

Rixa
Por Pe. José Eduardo

Quando enumera as “obras da carne”, São Paulo menciona a “rixa” (ἔρις, eris, em grego), cujo significado original pode ser entendido como “contenda, debate, luta, discussão, divergência” (Strong), “partidos e divisões”, “fações, porfias” e “rivalidades” (Vinev). De fato, parece-me mesmo que a melhor palavra para traduzir termo tão denso seja a pequenina expressão “rixa”.

Qual a importância disso?

Um de nossos problemas é imaginar que o que se opõe à ação do Espírito sejam apenas as ações diretas do maligno, quando o Apóstolo é contundente:

“os desejos da carne se opõem aos do Espírito, e estes aos da carne; pois são contrários uns aos outros” (Gl 5,17)

Em outras palavras, a carnalidade é um obstáculo real à livre ação da graça divina, é um empecilho para que Deus aja desimpedidamente nas almas, é um estorvo e, justamente por isso, é o grande canal para a atuação do inimigo, pois este precisa atuar mediante agentes.

Hoje em dia muitas pessoas confundem a firme convicção da fé com uma espiritualidade revanchista, que imaturamente sobrevive às custas de sua própria neurótica autoafirmação. Trata-se daquela atitude infantil de quem se identifica com um “não você”, como se, por exemplo, “ser católico” consistisse em “não ser” isso ou aquilo.

O Espírito Santo, ao contrário, com a liberdade de ser aquele que “sopra onde quer” (Jo 3,8), nos leva à sensata consciência de São Paulo que, querendo curar os coríntios de partidarismos e rixas, simplesmente escreveu: “TUDO É VOSSO!” — grife bem isso:

“TUDO É VOSSO! — “MAS VÓS SOIS DE CRISTO, E CRISTO É DE DEUS” (1Cor 3,22-23).

Quando sabemos colocar todas as coisas retamente ordenadas a Ele, perdemos esse tipo de complexo e abrimos nossa mente. Descondicionar-nos para termos o nosso próprio espírito sensível aos impulsos do Espírito é uma tarefa árdua, difícil, que exige um esforço cotidiano de esvaziamento e amor gratuito, de graça.

Mas este é o único caminho para termos a alma realmente descomplicada, disponível para as celestes inspirações. Caso contrário, nos estagnamos, paramos o processo de conhecimento sobrenatural porque nos julgamos já no ponto de chegada, e perdemos a qualidade de sermos ensináveis.

A este propósito, afirma Hugo de São Vitor, no início de seu “Opúsculo sobre o modo de aprender e meditar”:

“A humildade é o princípio do aprendizado, e sobre ela, muita coisa tendo sido escrita, as três seguintes, de modo principal, dizem respeito ao estudante: a primeira é que não tenha como vil nenhuma ciência e nenhuma escritura; a segunda é que não se envergonhe de aprender de ninguém; a terceira é que, quando tiver alcançado a ciência, não despreze aos demais”.

A raiz de toda rixa é a arrogância da carne, de quem se sente superior aos outros e, portanto, se torna incapaz de aprender de quem lhe diverge. O homem sábio, ao contrário, aberto à novidade de Deus, torna-se capaz de aprender de todos, inclusive algo de alguém que está errado.