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Batismo

Batismo, Tesouros de Cornélio à Lápide

O que é o Batismo?

O Batismo é o sacramento que apaga o pecado original, faz-nos filhos de Deus e da Igreja. O Batismo é a cruz de Jesus Cristo aplicada sobre nossos ombros. Por meio do Batismo, somos crucificados com Jesus Cristo. Mas a cruz é a morte e a destruição dos pecados.

Necessidade do Batismo

Em verdade eu te digo, ninguém, senão aquele que nasça de novo, poderá ver o Reino de Deus, disse Jesus Cristo a Nicodemos: Amen, amen, dico tibi, nisi quis renatus fuerit denuo, nom potest videre regnum Dei (Jo 3, 3). E para provar que fala aqui do Batismo e de sua necessidade, acrescenta: Em verdade, em verdade te digo, se alguém não renascer da água e do Espírito Santo, não poderá entrar no Reino de Deus (Jo 3, 5). Por este motivo deu aquela ordem a seus apóstolos: Ide, pois e ensinai a todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo: Euntes ergo docete omnes gentes, baptizantes eos in nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti (Mt 28, 19).

Assim como é necessário nascer de Adão, segundo o corpo, para contrair o pecado original, assim também, para participar da justificação por Jesus Cristo, é necessário nascer Dele, segundo do Espírito, por meio do Batismo.

O homem, no estado de perdição, diz Santo Tomás, necessitava de duas coisas:

  1. Participar da divindade; e
  2. Despojar-se do homem antigo.

Jesus Cristo alcançou-nos ambas: primeiramente, fazendo-nos, por sua graça, participantes da natureza divina; e, logo, convertendo-nos pelo Batismo em uma nova criatura[1].

Excelências e vantagens do Batismo

Tu foste achada sobre o solo, com desprezo de tua vida, no mesmo dia em que nasceste; diz o Senhor pela boca de Ezequiel: Projecta es in abjectione super faciem terrae in abjectione animae tuae in die qua nata es (Is 16, 5). Estavas nua e plena de confusão; eu vi-te, estendi sobre ti a ponta de meu manto, e cobri tua ignomínia e fiz-te um juramento, e fiz contigo um contrato, diz o Senhor Deus; e, desde então, foste minha. E eu lavei-te com água e limpei-te de teu sangue e ungi-te com óleo. Vieste, enfim, a ser extremamente bela, e chegaste a ser a rainha do mundo: eras nuda et confusionis plena. Vidi te et expandi amictum meum super te et operui ignominiam tuam; et juravi tibi et ingressus sum pactum tecum ait Dominus Deus et facta es mihi. Et lavi te aqua et emundavi sanguinem tuum ex te: et unxi te óleo, decora facta es vehementer nimis; et profecisti in regnum (Ez 16, 7.9.13). O profeta fala aqui da necessidade do Batismo, do triste estado do homem que não o recebeu, e das maravilhas que este sacramento produz:

  1. antes do Batismo, havíamos morrido para a graça, para o céu e para Deus; depois do Batismo, já não sucederia o mesmo. Eu tornei saudáveis essas águas, diz o Senhor por Eliseu, e nunca mais serão causa de morte nem de esterilidade: Sanavi aquas has, et non erit ultra mors, neque sterilitas (IV Reg. II, 21);
  1. antes do Batismo, éramos escravos do demônio; depois do Batismo, ficamos livres de seu jugo, e o Espírito Santo tomou possessão de nossa alma: Exi abe o, immunde spiritus, et da locum Spiritui Sancto paraclito (Exord. Eccles.).
  1. Se tu, ó povo gentio, que não eras mais que um ramo selvagem, foste enxertado, pelo Batismo, no lugar dos ramos cortados, e feito participante da seiva que sobe da raiz da oliveira, não tens de que te gloriar contra os ramos naturais, diz São Paulo: Insertus es (Rm 11, 17).

O Batismo, diz São Cipriano, é a morte dos pecados e a vida das virtudes: Est mors criminum, et vitam virtutum (Epist. II ad Donat.).

Pelo Batismo, despojamo-nos do corpo de pecado e nos vestimos com o da graça e o da justiça.

Derramarei sobre vós uma água pura, diz o Senhor pela boca de Ezequiel, e ficareis purificados de todas as vossas manchas: Effundam super vos aquam mundam, et mundabimini ab omnibus inquinamentis vestris (Ez 36, 25).

No Batismo, diz São Paulino, apaga-se em nós a falta original, e é-nos restituída a vida, morre o velho Adão e nasce o novo Adão para tomar posse do reino eterno: Culpa perit, sed vita redit, vetus inserit Adam, et novus aeternis nascitur imperiis. Fostes lavados, santificados, justificados no nome de nosso Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus, diz São Paulo aos Coríntios[2].

Bendito, diz o Apóstolo São Pedro, bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que nos regenerou por sua grande misericórdia[3].

Senhor, diz o Salmista, me lavareis, e ficarei mais branco do que a neve[4].

O Batismo é o sacerdócio dos leigos: consagra-os em Jesus Cristo, diz São Jerônimo: Sacerdotium laici baptisma est (Lib. super Matth.).

No santo Batismo, como sumo gozo no Senhor, diz Isaías, minha alma se embriagará de alegria: meu Deus me adornou com as vestes da salvação, e me cobriu como o manto da justiça, como um esposo adornado com sua coroa, e como a esposa ataviada com suas joias (Is 61, 10).

Vesti-te com roupas de várias cores, diz o Senhor à alma, pela boca de Ezequiel, e dei-te o calçado da cor de jacinto, e cinturão de linho fino, e vesti-te de um manto finíssimo. E engalanei-te com ricos adornos, e pus braceletes em tuas mãos, e um colar ao redor de teu pescoço. E adornei com joias tua fronte, e tuas orelhas com argolas, e tua cabeça com formosa diadema. E ficaste ataviada com ouro e prata, e vestida de tecido fino e de bordados de várias cores. Vieste, enfim, a ser extremamente bela. E tua formosura adquiriu para ti renome entre as nações, por causa dos adornos que eu pus em ti, diz o Senhor (Ez 16, 10ss).

Vós todos que haveis sido batizados em Cristo, diz o grande Apóstolo aos Gálatas, fostes revestidos de Jesus Cristo: Quicumque in Christo baptizati estis, Christum induistis (Gl 3, 27).

Com o santo Batismo, fomos inscritos para o céu.

Santo Optato, bispo de Milevi[5], diz que o santo Batismo é a vida das virtudes, a morte dos crimes, o nascimento para a imortalidade, a compra do reino celestial, o porto da inocência e o naufrágio dos pecados[6].

No santo Batismo, diz Tertuliano, lava-se o corpo, a fim de que a alma fique sem mancha; tem lugar a unção para consagrá-la; faz-se o sinal da cruz para fortificá-la; e com a imposição das mãos, o Espírito desce sobre ela para iluminá-la (De Ressurrect.).

Logo que Jesus foi batizado, saiu da água e foram-Lhe abertos os céus, e viu o Espírito de Deus que descia como uma pomba e vinha sobre Ele. E, de repente, uma voz do céu, disse: Este é o meu Filho muito querido, em quem estão minhas complacências[7]. Todas estas maravilhas tiveram lugar no dia solene do Batismo: abrem-se os céus, desce o Espírito Santo, e Deus Pai declara que é seu Filho muito amado o recém-batizado[8].

Obrigações contraídas no Batismo

Não sabeis, diz São Paulo aos Romanos, que nós todos fomos batizados em Jesus Cristo, temos sido batizados em sua morte? Na ignoratis quia quicumque baptizati sumus in Christo Jesu, in morte ipsius baptizati sumus? (Rm 6, 3). Com efeito, temos sido sepultados com Ele no Batismo morrendo ao pecado, a fim de que, da mesma maneira que Jesus ressuscitou da morte à vida para a glória de seu Pai, procedamos nós com novo teor de vida (Rm 6, 4).

Do mesmo modo que Jesus Cristo morreu para a vida temporal, assim também os que estão batizados devem morrer para o pecado. Estamos sepultados com Jesus Cristo por meio do Batismo: porém não se sepulta aquele que não morreu: por conseguinte, aquele que está batizado deve morrer realmente para o pecado.

Saibamos, continua São Paulo, que nosso homem velho foi crucificado com Jesus Cristo, a fim de que o corpo do pecado seja destruído, e não sejamos doravante escravos do mesmo pecado (Rm 6, 6). Para aquele que morreu desta maneira, fique já justificado do pecado (Rm 6, 7). Mas Jesus Cristo ressuscitado dentre os mortos não morre outra vez, e a morte não terá domínio sobre Ele. Porque morrendo, Ele morreu para o pecado uma vez por todas; mas vivendo, Ele vive para Deus e é imortal. Assim, nem mais nem menos, considerai também que realmente estais mortos ao pecado por este Batismo, e que viveis doravante para Deus em Jesus Cristo, Senhor nosso (Rm 6, 9ss).

Fostes comprados a grande preço, diz São Paulo aos Coríntios; glorificai a Deus, e levai-O em vosso corpo: Empti estis pretio magno; glorificate et portate Deum in corpore vestro (1 Cor 6, 20). Fostes resgatados a grande custo, não queirais fazer-vos escravos dos homens: Pretio empti estis, nolite fieri servi hominum (1 Cor 7, 23). Todos vós que haveis sido batizados em Cristo, estais revestidos de Cristo (Gl 3, 27). Abandonai todas essas coisas: a cólera, a exaltação, a malícia, a maledicência, e longe de vossa boca toda palavra desonesta. Não mintais uns aos outros, em suma, desnudados do homem velho com suas ações e revestidos do novo, daquele que pelo conhecimento da fé renova-se segundo a imagem do Senhor que o criou: Nunc autem deponite et vos omnia (Col 3, 8ss).

Com o santo Batismo, fostes convertidos em filhos da luz e filhos de Deus. Não pertenceis mais à noite nem às trevas: não durmamos, pois, como os demais; antes, estejamos em vigília e vivamos com temperança: Igitur noli dormiamus, sed vigilemos, et sobrii simus (1 Ts 5, 6). Revesti-vos de Cristo, e não procureis contentar a carne: Induimini Dominum Jesum Cristum, et carnis curam ne feceritis in desideriis (Rm 13, 14).

Aquele que abandona a veste das virtudes e toma a dos vícios, despoja-se de Jesus Cristo, e reveste-se com o Anticristo.

Fostes batizados no nome da Santíssima Trindade, diz Santo Ambrósio, confessastes o Pai, lembrai-vos do que fizestes; confessastes o Filho, confessastes o Espírito Santo: atei-vos a esta fé: morrestes para o mundo, e ressuscitastes para Deus; morrestes para o pecado, e ressuscitastes para a vida eterna[9].

Vós que fostes batizados, diz Santo Agostinho, fostes regenerados, e entrastes em uma vida nova; nascestes para a vida eterna, se não afogais com uma má conduta o que em vós nasceu[10] .

Considerai o juramento, diz São João Crisóstomo, atendei à condição, reconhecei a tropa, o juramento que prestastes, a condição que aceitastes, a tropa em cujas fileiras empenhastes vosso nome[11].

No santo Batismo, renunciastes ao demônio. No santo Batismo, renunciastes ao mundo, a suas pompas e a suas obras. No santo Batismo, prometestes viver e morrer por Jesus Cristo. Somente depois destas promessas solenes, derramaram a água regeneradora sobre vossa fronte.

Haveremos de dar conta das graças que recebemos e das obrigações que contraímos no Batismo

Eu visitarei a todos aqueles que levaram uma veste estranha, diz o Senhor por meio do profeta Sofonias: Visitabo omnes qui induti sunt veste peregrina (Sf 1, 8). O sacerdote dá a veste branca aos recém-batizados, dizendo-lhes: Recebei esta veste branca, santa, imaculada, que deveis levar sem mancha ao Tribunal de Jesus Cristo, a fim de obter a vida eterna (Ritual. in Bapt.).

O diácono Muritta disse ao apóstata Epidoforo que havia se convertido em seu verdugo, apresentando-lhe a veste branca com que fora revestido no dia do Batismo:

“Epidoforo, ministro do erro, eis aqui a veste que te acusará no terrível dia do juízo de Deus; eu guardei com cuidado a fim de que seja um testemunho contra ti no dia de tua reprovação. Ela cobria-te quando saístes sem mancha da água sagrada; ela causará teu suplício quando arderes nos infernos; ela te condenará, porque te cobristes com a maldição, como com uma veste, recusando a graça de teu Batismo. Que farás, desgraçado, quando os serventes do Pai de família reunirem aos convidados para o festim das núpcias do Cordeiro? Pleno de cólera, o Rei fixará seu olhar sobre ti, e vendo que perdestes a veste nupcial, te dirá: Como te atrevestes a entrar aqui sem o traje do Batismo? Eu havia te dado uma veste branca preciosa e ela despareceu. Que fizeste dela? Perdestes o sinal de teu compromisso, a arma da cruz que Eu te havia dado. Cobri-te com uma veste empapada em meu Sangue, e não encontro nada em ti que me pertença, não vejo mais em ti o caráter da Trindade. Tu não te podes sentar no festim das bodas. Atai-lhe os pés e as mãos, e lançai-o às trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes”.

Não nos exponhamos a sofrer a sorte que ameaçava aquele desgraçado.


Referências:

[1]   Homo statu perditionis, duobus indigebat, scilicet, participatione divinitatis, et depositione vetustatis. Christus utrumque praestit nobis: prius, dum nos per suam gratiam effecit divinae consortes naturae: posterius, dum per baptismum nos in novam creaturam regeneravit (De Peccat.).

[2]  Sed abluti estis, sed sanctificati estis, sed iustificati estis in nomine Domini Iesu Christi et in Spiritu Dei nostri! (I Cor. VI, 11).

[3]   Benedictus Deus et Pater Domini nostri Iesu Christi, qui secundum misericordiam suam magnam regeneravit nos (I Pet. I, 3).

[4] Lavabis me et super nivem dealbabor (Psalm. L, 9).

[5] Optatus foi um bispo na cidade de Milevi, na Numídia, no séc. IV, lembrado principalmente por suas obras contra o donatismo (Nota do tradutor).

[6]  Est baptismus virtutum vita, criminum mors, nativitas immortalis, caelestis regni comparativo, innocentiae portus, peccatorum naufragium (Lib. V, contra Prax.).

[7]   Baptizatus Iesus, confestim ascendit de aqua; et ecce aperti sunt ei caeli: et vidit Spiritum Dei descendentem sicut columbam et venientem super se. Et ecce vox de caelis dicens: “Hic est Filius meus dilectus, in quo mihi complacui” (Matth. III, 16-17).

[8] Veja-se “Grandeza do homem” no verbete “Filhos de Deus”.

[9]   Tu baptizatus es in nomine Trinitatis; confessus es Patrem; recordare quid feceris: confessus es Filium, confessus es Spiritum Sanctum. Tene ordinem rerum in hac fide. Mundo mortuus es, in Deo ressurrexisti; peccato mortuus es, ad vitam es ressuscitatus aeternam (Serm. CCLX).

[10] Vos qui baptizati estis, regenerati estis, et novam vitam ingressi estis, et ad vitam aeternam renati estis, si hoc, quod vobis renatum est, male vivendo, non suffocetis (Serm. CCLX).

[11]   Considera pactum, conditionem atende, militiam nosce, pactum quod spopondisti, conditionem qua accedisti, militiam cui nomem dedisti (Homil. de Martyr.).