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Sexta razão de sermos Humildes: Estimamo-nos e Queremos ser estimados

Meditação para o Décimo Sábado depois de Pentecostes. Sexta razão de sermos Humildes: Estimamo-nos e Queremos ser estimados

Meditação para o Décimo Sábado depois do Pentecostes

SUMARIO

Meditaremos sobre uma sexta razão de sermos humildes, que é exatamente a nossa própria soberba, e veremos quão humilhante é para nós:

1.º Estimarmo-nos tanto;

2.° Querermos ser estimados, quando merecemos ser desprezados.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De dizermos muitas vezes a Deus: Senhor, tende compaixão de mim que sou um soberbo;

2.° De nunca dizermos nem fazermos coisa alguma por amor-próprio.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Salmista:

“A mim é-me bom, Senhor, que vós me humilheis” – Bonum mihi, quia humiliasti me (Sl 118, 71)

Meditação para o Dia

Adoremos Jesus Cristo tão profundamente escondido no Sacramento do altar, para nos ensinar a desprezar-nos e a não desejar ser vistos dos homens; digamos-Lhe com Isaías:

“Vós sois verdadeiramente um Deus escondido” – Vere tu es Deus absconditus (Is 45, 5)

Admiremo-lO neste estado, e roguemos-Lhe que se digne fazer-nos participantes de sua vida recôndita.

PRIMEIRO PONTO

Quão humilhante é para nós estimar-nos tanto

Que vergonha mentirmos tanto à nossa consciência, quando, apesar da vigilância, dos combates e orações, estamos continuamente em erro! Não nos conhecemos a nós mesmos, e como aquele que se julga rico porque não quer ver o embaraço dos seus negócios, seguro porque fecha os olhos ao perigo, com saúde porque já não sente o seu mal, julgamos ser perfeitos, porque não reparamos nos nossos defeitos. Toda a gente conhece o nosso ponto fraco, só nós o ignoramos, seja porque vendo-nos de muito perto a nossa vista se confunde com o objeto; seja porque olhando para longe de nós, não nos podemos ver; seja finalmente porque o amor excessivo, que temos a nós mesmos, nos impede de ver-nos tais quais somos. Ainda quando, conhecendo-nos melhor, convimos em que tudo o que temos de bom pertence a Deus, gozamo-lo. Todavia, miramo-nos no nosso mérito como uma mulher vaidosa ao seu espelho; folgamos de que seja sobre nós e não sobre outra pessoa que Deus derrame os seus dons; e sem o dizermos a nós mesmos, apropriamo-nos da melhor parte desses dons. A nós mesmos referimos os nossos atos de humilhação, de paciência, de desinteresse; fazemos deles como que outros tantos motivos para confiar em nós, e nos atribuirmos a nossa própria justiça. Finalmente estimamo-nos, por isso mesmo que julgamos ter ganho a estima própria. Depois de nos havermos elevado acima dos sentimentos vulgares, recaímos em nós mesmos, e achamos prazer em receber das nossas próprias mãos o incenso que rejeitamos da mão dos outros, e em entreter dentro de nós uma certa glória oculta, tanto mais esquisita que, desprezando toda a gente, não precisamos de nenhum apoio estranho. Que cúmulo de miséria! Que objeto de confusão! É com efeito o pobre soberbo, que o Senhor detesta (1).

SEGUNDO PONTO

Quão humilhante é para nós ser tão estimados, quando merecemos o desprezo

Ainda que a nossa consciência nos diga que não merecemos a estima e o louvor, queremo-los todavia e buscamo-los de todos os modos. Nas nossas conversações, procuramos ser louvados, dizer alguma argúcia que nos obtenha a estima; a menor palavra de elogio, o menor testemunho de estima nos comove e nos causa um secreto prazer, assim como, ao contrário, a só aparência de desprezo, a menor falta de atenção nos perturba e irrita. Gostamos tanto de ser louvados, que ninguém há, por mais obscuro que seja, cujo louvor nos não lisonjeie e alegre. Queremos ser preferidos aos outros, detestamos a sua superioridade, a ponto que nos custa ouvir elogiar alguém sem tentar deprimir o elogio com alguma crítica. Ora quão próprias para nos confundir não são tais disposições? Que! Sermos obrigados a reconhecer, perante a nossa consciência, que só merecemos o desprezo, e querermos a todo o custo ser honrados, louvados, e estimados! Não é uma pretensão indigna, muito capaz de nos cobrir de confusão?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Odivit anima mea… pauperem superbum (Ecl 25, 4)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo VI, p. 81-84)

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