Skip to content Skip to footer

Sepultura do Salvador e Sua descida ao Limbo

Meditação para o Sábado Santo. Sepultura do Salvador e Sua descida ao Limbo

Meditação para o Sábado Santo

SUMARIO

Meditaremos nos dois grandes mistérios do dia, que professamos no símbolo dos Apóstolos: a sepultura do adorável corpo de Nosso Senhor e a descida de Sua santíssima alma ao limbo (1). Colheremos os ensinos que nos dá este dúplice mistério, e tomaremos a resolução:

1.° De nos prepararmos hoje com um especial fervor para a comunhão;

2.° De nos exercitarmos no espírito de humildade e de abnegação, que nos prega a sepultura de Nosso Senhor.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Apóstolo:

“Estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” – Mortui estis, et vita vestra abscondita est cum Christo in Deo (Cl 3, 3)

Meditação para o Dia

Unamo-nos à devoção com que Maria e o discípulo amado, Madalena e as santas mulheres receberam em seus braços o corpo de Jesus, descido da cruz por José de Arimateia e Nicodemos. Com que ternura e amor considerou Maria todas as Suas chagas, contemplou os Seus ossos deslocados, beijou as Suas feridas! E o discípulo amado, como ele se lançou sobre o sagrado lado, em que havia estado reclinado na noite precedente! Como o beijou! E vendo-o aberto, como aspirou a penetrar nele! E Madalena, como ela abraçou os sagrados pés, onde tinha obtido o seu perdão! Como ela os regou com as suas lágrimas e os enxugou com os seus cabelos! Entremos nos piedosos sentimentos destas santas almas.

PRIMEIRO PONTO

Ensinos que nos dá a sepultura de Nosso Senhor

Este mistério ensina-nos:

1.° Como devemos comungar. Depois que o adorável corpo é descido da cruz, Nicodemos traz uma composição de quase cem libras de mirra e de aloés para o embalsamar; José de Arimateia oferece para o envolver um asseado lençol, e para nele ser depositado um sepulcro novo, aberto na rocha, e que ainda não tinha servido, depois de nele o depositarem, taparam a boca do sepulcro com uma grande pedra; selaram a tampa, e puseram-lhe guardas. É assim, que, quando recebemos o corpo de Nosso Senhor pela sagrada comunhão, devemos embalsamá-lo com o perfume dos santos desejos, com os aromas das boas obras; apresentar-lhe um coração inocente, figurado pelo asseado lençol; uma vontade firme no bem, como a pedra da rocha; uma consciência toda renovada pela penitência; e depois da comunhão, devemos fechar a entrada do nosso coração, como com uma pedra e um selo pela santa meditação; e pôr-lhe como guardas a modéstia, o recato, a vigilância sobre nós mesmos, para impedir que nos tirem o precioso tesouro que recebemos. É deste modo que obramos?

2.° Os três caracteres que constituem a morte espiritual, a que é chamado todo o cristão, segundo a doutrina do Apóstolo:

“Considerai-vos mortos” – Existimate vos mortuos (Rm 6, 11)

“Estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” – Mortui estis, et vita vestra abscondita est cum Christo in Deo

O primeiro destes caracteres é amar a vida retirada, estar como morto para tudo o que podem dizer ou pensar de nós, sem procurar ver nem ser visto – Nec videre nec videri. Jesus Cristo, na noite em que foi sepultado, dá-nos esta grande lição. Pouco nos importa que o mundo nos esqueça e calque aos pés. Não devemos inquietar-nos com isso mais do que se inquieta com isso um morto. A felicidade de uma alma cristã é esconder a sua vida com Jesus Cristo em Deus. Por mais que a nossa má natureza grite, queira ser louvada, amada, distinguida, fazer-se o ídolo da reputação e da amizade: devemo-la deixar falar; quanto maior for o seu melindre a respeito da estima dos outros, mais indigno será dela e necessitará de perdê-la. Tirem-nos a reputação, tenham-nos em pouco, não nos poupem em coisa alguma, odeiem-nos, faça-se a vossa vontade, Senhor.

O segundo caractere da morte espiritual é, usando dos bens sensíveis por necessidade, não lhes ligar nenhuma importância, não nos comprazermos nem na moleza e nas comodidades da vida, nem em ter uma boa mesa, nem em satisfazer a curiosidade, que quer tudo ver e saber; estar, numa palavra, como morto para os prazeres sensuais. — A este segundo caractere devemos juntar o abandono de todo o nosso ser à Providência, abandono pelo qual, como um corpo morto, nos deixamos levar; sem raciocinar, sem querer nem desejar coisa alguma, indiferente a todos os empregos, a todas as ocupações.

Quando chegarei eu a esse ponto, Senhor? Quando deixarei de amar-me? Quando estará tudo morto em mim, para que Vós vivais em mim?

SEGUNDO PONTO

Ensinos que nos dá a descida da alma de Jesus Cristo ao limbo

Este mistério ensina-nos:

1.° O amor de Jesus pelos homens. Ao sair do sagrado corpo, a Sua santíssima alma teria podido voltar para o seio de Deus a fim de ali repousar de todas as Suas dores; mas o Seu amor para com os homens inspira-Lhe que desça ao limbo para consolar os patriarcas e lhes anunciar que dentro de quarenta dias os levaria consigo ao paraíso, É assim que o amor de Jesus não descansa. Depois da morte, assim como durante a vida, faz aos homens todo o bem que pode. Mil graças, ó Jesus! Mil graças por esta solicitude em nos fazer bem.

2.° O amor que deve unir-nos a Jesus. Vendo esta santíssima alma, os justos detidos no limbo não podem conter os seus transportes: rompem em cânticos de louvor, de reconhecimento, de amor; e o seu coração se entrega todo ao Deus seu libertador. Eis os nossos modelos: porque teríamos nós menos reconhecimento e amor, visto que Jesus morreu por nós como por eles, nos ama como os amou, e nos prometeu como a eles o seu paraíso?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Sepultus descendit ad inferos

Voltar para o Índice das Meditações Diárias de Mons. Hamon

(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo II, p. 227-231)