Reze o Salmo 119/118,17-24
Agora, leia com piedade e um coração que escuta na fé Dt 1,19-46
19«Depois, partimos do Horeb, atravessámos todo aquele deserto grande e temível que vistes, a caminho das montanhas dos amorreus, como nos ordenara o SENHOR, nosso Deus, e chegámos a Cadés-Barnea.
20Então eu disse-vos: ‘Acabais de chegar às montanhas dos amorreus, que o SENHOR, nosso Deus, nos há-de dar. 21Vê: o SENHOR, teu Deus, põe diante de ti esta terra! Vai, toma posse dela, como disse o SENHOR, Deus dos teus pais. Não temas nem te acobardes!’
22Então, vós todos aproximastes-vos de mim e dissestes: ‘Enviemos alguns homens à nossa frente para nos informarem acerca da terra e nos ensinarem o caminho que temos de seguir e para que cidades devemos ir.’ 23A proposta agradou-me; e eu escolhi de entre vós doze homens, um por cada tribo. 24Partiram, subiram o monte e atingiram o vale de Escol, explorando a terra. 25Colheram frutos da terra, trouxeram-nos até nós e fizeram-nos o seu relato, dizendo: ‘É ótima a terra que o SENHOR, nosso Deus, nos vai dar.’ 26Todavia, vós recusastes-vos a subir, desobedecendo ao SENHOR, vosso Deus. 27Nas vossas tendas murmurastes e dissestes: ‘Por nos odiar, é que o SENHOR nos fez sair da terra do Egipto, a fim de nos entregar nas mãos dos amorreus e nos aniquilar. 28Para onde iremos? Nossos irmãos fizeram-nos perder a coragem, quando disseram que viram lá um povo maior e mais forte do que nós, cidades grandes cujas muralhas se erguem até ao céu e até viram lá filhos de Anac.’ 29Respondi-vos, então: ‘Não vos assusteis e nada temais diante deles. 30O SENHOR, vosso Deus, que caminha à vossa frente, Ele próprio combaterá por vós como sempre fez convosco, no Egito, à vossa vista, 31e também neste deserto. Aqui vistes o SENHOR, vosso Deus, conduzir-vos, como um pai conduz o seu filho, durante toda a caminhada que fizestes até chegardes a este lugar. 32E, apesar disso, não confiastes no SENHOR, vosso Deus, 33que caminhava à vossa frente para vos procurar lugares de descanso, mostrando-vos o caminho a seguir, durante a noite com o fogo e durante o dia com a nuvem.
34O SENHOR ouviu o rumor das vossas palavras, encolerizou-se e jurou: 35 ‘Nenhum dos homens desta geração perversa verá esta terra ótima, que tinha jurado dar a vossos pais. 36Só Caleb, filho de Jefuné, a há-de ver: dar-lhe-ei a terra que pisou, a ele e a seus filhos, porque permaneceu fiel ao SENHOR.’
37O SENHOR irritou-se também comigo por vossa causa e disse-me: ‘Tu também não entrarás na terra. 38Josué, filho de Nun, que está ao teu serviço, esse é que entrará ali. Encoraja-o, porque é ele quem a dará em posse a Israel. 39E as vossas crianças, que vós dissestes que seriam tomadas como despojos, e os vossos filhos que ainda hoje não sabem distinguir o bem do mal, esses é que entrarão ali! A eles a darei e eles a possuirão.’ 40Quanto a vós, voltai para trás e encaminhai-vos para o deserto, na direção do Mar dos Juncos.
41Mas vós respondestes-me: ‘Pecámos contra o SENHOR; queremos subir nós mesmos e combater, conforme o SENHOR, nosso Deus, nos ordenou.’ E cada um de vós, cingindo as suas armas de combate, mostrou-se disposto a subir para a montanha. 42Mas o SENHOR falou-me: ‘Diz-lhes: Não subais nem combatais, porque não estarei ao vosso lado; não queirais ser vencidos pelos vossos inimigos.’
43Assim vos falei, mas não me ouvistes; desobedecestes à palavra do SENHOR, fostes arrogantes e subistes para a montanha. 44Os amorreus, porém, que ocupavam aquela montanha, saíram ao vosso encontro, perseguiram-vos como fazem as abelhas e desbarataram-vos, desde Seir até Horma. 45Então voltastes e chorastes diante do SENHOR; mas o SENHOR foi insensível aos vossos lamentos e não vos escutou. 46Por isso é que tivestes de ficar por tão longo tempo em Cadés.»
1. Esta é uma perícope dramática, que traz tristes recordações para Israel! Também para nós, tratam-se de palavras tremendas e de sérias advertências! Vemos meditar sobre ela nesta meditação e na próxima.
2. Releia o v. 19: depois da experiência fortíssima da presença do Senhor Deus no Horeb/Sinai, experiência da santidade tremenda e, ao mesmo tempo, do carinho e da proximidade do Senhor Deus, que cuida do Seu povo, Israel foi conduzido por Deus para caminhar “através de todo aquele grande e terrível deserto”. Sim, Deus coloca os Seus à prova, fá-los caminhar, não os poupa das lutas, dos desafios e reveses da vida! É mentiroso quem promete, em Nome de Deus, facilidades, sucessos, bens materiais! O Senhor educa o Seu povo, conduz o Seu amado Israel por um deserto grande e terrível para fazê-lo crescer…
Para refletir: Olhe um pouco o seu caminho, reflita sobre o traçado da sua própria vida, por onde o Senhor o fez caminhar… Com gratidão, confiança e abandono, diga ao Senhor, de todo o coração, as palavras do Salmista:
“Tu contaste meus passos de errante; recolhe minhas lágrimas no Teu odre. Não anotaste tudo isto no Teu Livro?” (Sl 56/55,9)
3. Nesta perícope, várias vezes, apela-se para a experiência que Israel fez: o povo havia visto e experimentado o deserto (cf. v. 9), havia visto como o Senhor combatera, antes, os egípcios (cf. v. 29b), experimentara também o carinho providente do Senhor, que o conduzira como um homem leva o seu filho (cf. v. 31).
Também nós – cada um de nós! – pode recordar sua história, seu caminho… Se o fizer com olhos e coração de fé, perceberá como, em tantos momentos, o Senhor veio em nosso socorro, tomo-nos pela mão, salvou-nos! É importante recordar sempre esses acontecimentos, guardá-los no coração como um tesouro, para alimentar sempre nossa confiança na presença protetora do Santo na nossa vida! Esquecer é início de todo o pecado e de toda a descrença: “Bendize ao Senhor, ó minha alma, e não esqueças nenhum dos Seus favores. É Ele Quem sacia teus anos de bens e, como a águia, tua juventude se renova!” (Sl 103/102,2.5); “Eu me lembro, sempre me lembro, transido dentro de mim. Eis o que recordarei ao meu coração e por que eu espero: os favores do Senhor não terminaram, Suas compaixões não se esgotaram; elas se renovam todas as manhãs, grande é a Sua fidelidade! Eu digo: Minha porção é o Senhor! Eis por que Nele espero!” (Lm 3,20-24)
4. Mas, Israel, apesar de ter visto e ouvido, ainda duvida do seu Deus; seu cálculo é miseravelmente humano! A Terra que o Eterno prometera, que é dom (cf. v. 21) e para a qual Israel deve dirigir-se sem medo nem pavor, pesem as dificuldades, pois o Senhor está com ele, deve ser também empenho e conquista!
Veja como o Senhor estava com o Seu povo: vv. 29-31.
Veja como o Senhor caminhava à frente do Seu povo, preparando-lhe um caminho, guiando-o, iluminando-o: vv. 32-33. Atenção, que esta Nuvem que ilumina a noite como tocha fumegante e o dia como uma coluna, é símbolo e prefiguração do Santo Espírito, Glória, Luz, Presença, Potência, Vida do Senhor! Este Espírito divino, Nuvem bendita, continua a iluminar e guiar a Igreja de Cristo no deserto deste mundo! Não deveríamos, também nós, ter medo! Nunca!
5. Infelizmente, Israel procura segurança nos seus próprios cálculos. Veja os vv. 22-28: os israelitas convencem Moisés a enviar exploradores para conhecerem a Terra Prometida antes de cumprir as ordens do Senhor de apoderar-se dela. Procura-se segurança, funda-se o caminho em cálculo humano… E, fundamentados no seu próprio cálculo, Israel recusa entrar na terra; tem medo! Apesar de reconhecer que a terra é boa, olha, agora, para as dificuldades; não olha para o Senhor, não reza… Nada!
Veja Mt 14,22-33: Os discípulos, nós, somos como os israelitas: pensamos que o Senhor é um fantasma, ausente, distante, etéreo! O Senhor brada, como no Deuteronômio:
“Tende confiança. Sou Eu! Não tenhais medo!”
Pedro vai ao encontro de Jesus: enquanto vai para Ele, caminha sobre as águas do mar da vida. Quando desvia do Senhor a atenção e, ao invés, preocupa-se com o vento, começa a afundar… Somente quando olha para o Senhor, quando por Ele grita, quando reza, encontra o socorro… Assim foi Israel!
E o resultado: a murmuração, a reclamação, o fuxico:
“O Senhor não nos ama; odeia-nos!”
Muitas vezes Israel caiu neste pecado; pecado tão nosso: não vemos as coisas na perspectiva do Senhor, insistimos em vê-las e medi-las a partir de nossa estreita visão e, então, murmuramos! Esse pecado da murmuração, fruto de uma visão superficial das coisas, leva-nos também à falta de fé. Assim se destroem comunidades, paróquias, presbitérios, dioceses…
Reze o Salmo 4! É um ótimo remédio contra a murmuração: meditar em silêncio, calar o coração, esperar no Senhor, Nele colocando a esperança…
6. Vale a pena voltar ainda para o que o texto afirma sobre os cuidados do Senhor para com Israel: (a) Ele entrega ao Seu povo a Terra, fielmente, como prometera (cf. v. 21); (b) Ele conduziu Israel como um homem conduz o seu filho (cf v. 31); (c) Ele precedia o Seu povo no caminho, indo à sua frente para preparar-lhe um lugar (cf v. 33). Tanto amor, tanto cuidado, tanta providência, tanta discreta presença na vida do Seu povo… E a resposta de Israel:
“Apesar disso, ninguém dentre vós confiava no Senhor vosso Deus!” (cf v. 32)
Pense: como está sua confiança no Senhor? Você tem olhos de quem crê: sabe perceber a presença do Senhor nos momentos bons e maus da sua vida? Crê, realmente, que o Senhor o precede no caminho da vida? Sabe, realmente, confiar Nele, entregando-Lhe a sua existência?
7. Releia, agora, os impressionantes vv. 34-46! O Senhor, que é amor e misericórdia, é também, um Deus exigente, que age como um pai que educa o seu filho! Israel pecou, não confiou no Senhor! O Senhor educará o Seu povo com o castigo, com a punição que corrige e faz crescer! A Escritura ensina a corrigir:
“Aquele que corrige o seu filho usará com frequência o chicote, para, no seu fim, alegrar-se. Aquele que educa o seu filho terá nele motivo de satisfação e entre os conhecidos se gloriará… Cavalo não domado torna-se intratável; filho entregue a si mesmo torna-se atrevido” (Eclo 30,1s.8)
Vale a pena ler todo este trecho: Eclo 30,1-13.
A correção dos filhos 301Aquele que ama o seu filho, castiga-o com frequência, para que se alegre com isso mais tarde. 2Aquele que educa o seu filho será louvado, e, entre os conhecidos, se gloriará dele. 3Aquele que instrui o filho, causará inveja ao seu inimigo, e, entre os amigos, exultará por causa dele. 4O pai morre, e é como se não morresse, porque deixa depois de si um seu semelhante. 5Durante a vida, viu o filho e nele se alegrou; e ao morrer, não ficará afIito. 6Deixou em sua casa um defensor contra os inimigos, e alguém que retribuirá os benefícios aos seus amigos. 7Aquele que amimalha os seus filhos, terá que lhe tratar as feridas, e, a qualquer dos seus gritos, se comoverão as suas entranhas. 8Um cavalo por amansar torna-se intratável, e um filho, entregue a si mesmo, torna-se insolente. 9Lisonjeia o teu filho e ele te causará problemas; brinca com ele, e ele te entristecerá. 10Não te ponhas a rir com ele, para que não venhas a sofrer por isso, e para que não tenhas que ranger os dentes. 11Não lhe dês largas, na sua juventude, e não feches os olhos às suas extravagâncias. Obriga-o a curvar a cabeça, na mocidade, 12castiga-o nas costas enquanto é menino, não suceda que se endureça e se torne desobediente, e venha a ser a dor da tua alma. 13Educa o teu filho, esforça-te por formá-lo, para que não te aborreças com a sua vida vergonhosa.
Numa linguagem própria de outros tempos, a lição permanece válida; é atualíssima e urgente: quem ama corrige, quem ama dá limites, quem ama exige, quem ama faz o outro crescer e, quando necessário, por amor, castiga! Assim Deus tratou Israel; assim nos trata!
“Ditoso o homem a quem Deus corrige: não desprezes a lição do Altíssimo, porque Ele fere e pensa a ferida, golpeia e cura com Suas mãos” (Jó 5,17s)
O Senhor, portanto, julga Israel: (a) Nenhum adulto daquela geração entrará na Terra Prometida; nenhum haverá de vê-la! Porque não creram, não haverão de vê-la! Até mesmo Moisés deverá sofrer esta punição, pois por fraqueza, pensou como o povo e não como Deus (cf v. 37).
Israel é teimoso. Resolve, então “subir” para a Terra Prometida por conta própria, sem o Senhor:
“Eu não estarei em vosso meio!”
As consequências aparecem: Israel é miseravelmente derrotado! E chora sua dor!
“Voltastes e chorastes diante do Senhor mas o Senhor não ouviu os vosso clamores e nem vos deu atenção!”
A ordem do Senhor é clara; e Israel terá que obedecer, querendo ou não:
“Quanto a vós, voltai-vos! Parti em direção ao deserto!” (v. 40)
Israel passará cerca de quarenta anos vagando pelo Sinai! É a duração de uma geração; a geração infiel! Nunca se esqueça: o Deus de amor e compaixão, de ternura e piedade, é também um Deus exigente, que nos educa e corrige! E isto vale para cada um de nós e para a Igreja inteira!
8. Para meditar:
Reze estes versículos com todo o seu coração: Sl 18/17,2-3; Sl 91/90; Sl 84/83,9-13; Na 1,7.
Lembre: Confiar no Senhor, é bom confiar; bom, esperar sempre no Senhor!
Reze também Jt 8,25-27