Skip to content Skip to footer

Os Efeitos da falta de Amor

Capítulo 20. Os Efeitos da falta de Amor - Livro Rumo à Felicidade, de Fulton Sheen
NO MUNDO, há muito quem não seja amado. Alguns, por causa do seu egoísmo, não se tornam amáveis; outros não têm espírito cristão bastante para amar aqueles que os não amam. Como consequência, o mundo está cheio de corações solitários. Fala-se aqui não do amor no sentido romântico ou carnal, mas num sentido mais elevado de generosidade, perdão, bondade e sacrifício. Talvez possa ser útil conhecer alguns dos efeitos psicológicos de não amar os outros de um modo realmente nobre e desinteressado.

O primeiro efeito de não se ser amado, porque não há bastante generosidade e caridade para com os outros, é o cinismo e a hostilidade até. Nem uma palavra agradável se diz, em favor de quem quer que seja. Porque não se é amado, tenta-se fazer que todos os outros não sejam amados também. São assim assassinados os caracteres, os mais nobres motivos denegridos e as calúnias acreditadas e propaladas. Quando os outros se mostram dedicados, eles procuram a cilada aí escondida; até as dádivas são olhadas com suspeita e a saudação mais sincera é acusada de hipocrisia. Porque estes egoístas são assim infelizes, pretendem fazer infelizes todos os outros. Nem uma vez sequer conseguem descobrir que são a causa da sua própria infelicidade. É sempre qualquer outra pessoa que tem a culpa.

«Esbarrei-me contra outro carro, porque «tu» me enervaste de manhã, ao pequeno almoço, interrogando-me sobre o meu balanço bancário»

«Constipei-me, porque não me ofereceste um casaco de pele de marta, como usam as esposas dos outros funcionários»

A falta de amor produz um complexo de martírio que é um esforço mórbido para atrair compaixão e auxílio, quando o verdadeiro amor não existe. Fingir-se doente é um dos processos. Porque a boa saúde não provoca afeto dos outros, fingem-se feridos, na esperança firme de que alguém há de ligar as feridas. A «dor» que existe no espírito, é a perda do amor. Essa «dor» é transferida para o corpo e converte-se em doença. Se se pudesse exprimir por palavras o que se passa dentro daquela alma, poderia dizer-se:

«Eu tenho real necessidade de passar bem, e, se me fizer doente, então os outros são obrigados a amar-me»

Assim como as dores de cabeça podem ser produzidas pelo desejo de fugir à responsabilidade, também a doença pode ser produzida pelo desejo de granjear afeição. Há pessoas em que isto atinge um ponto tal que, durante anos, ficam acamadas ou impossibilitadas de andar. Conta-se que, no terramoto de São Francisco, para cima de trinta pessoas que não andavam há cerca de vinte anos, se levantaram e caminharam. Eram paralíticos mentais, não corporais.

Outra espécie de reação é a daqueles que admitem precisar de amor, mas dizem: «daqui em diante, farei que não preciso de amor». Como resultado, criam um falso espírito de independência, tornam-se quezilentos, contradizem todas as ideias e sugestões, sem olhar se são boas ou não, geram instintos antissociais, fumam diante de avisos em que se diz que é proibido fumar, estacionam em lugares onde é proibido estacionar. A dureza, a aspereza, certa acrimónia e rudeza de caráter muitas vezes não são mais do que um sobrecenho carregado por falta de amor.

É muito provável que a demasiada importância que na sociedade se dá hoje à segurança, seja devida à falta de amor. Noutros tempos, a gente desejava ser feliz, e muitos eram felizes, quer dentro do círculo familiar, quer pelos laços de um matrimônio estável, quer pela profissão da vida religiosa. Agora, a instabilidade do lar, por causa do divórcio, vai aumentando. Urge encontrar um substituto para o amor conjugal, e isto manifesta-se numa busca implacável de poder e de segurança, que são dos menores fatores da felicidade. homem de negócios que está completamente absorvido por eles e se demora no escritório até altas horas da noite, sem grande desejo de regressar a casa, pode, por vezes, fazê-lo para compensar a falta de amor no lar. Estão, agora, alguns médicos a relacionar certas doenças de pele com causas mentais. Diz-se que algumas pessoas que têm receio de «encarar o mundo», revelam manchas de pele. «As nódoas do espírito» convertem-se em nódoas do corpo. Sejam quais forem as provas apresentadas pela medicina para defender este ponto de vista, a verdade é que não há um grupo de mulheres que pareça ter uma tez de rosto como a das freiras. A maior parte nunca se olha ao espelho, mas possuem um meio sem igual de conseguir beleza, o qual falta a muita outra gente, isto é, uma boa consciência e a paz de alma. A pele dos que sofrem por uma sensação oculta de culpabilidade conta, por assim dizer, a história da doença que dentro da alma vai. Uma pessoa que escondera a sua culpa, e a si mesma não desistia de dizer: «eu sou uma leprosa moral», surgiu com uma infecção de pele que só desapareceu, quando se reconciliou com o marido.

Não há outro remédio para a falta de amor senão o amor. Sempre haverá amor para quem é amável, mas nunca haverá amor para quem não é amável, a não ser que o amemos por amor de Deus. Somos assim reconduzidos de novo à religião e a Deus, cuja essência se define no Novo Testamento:

«Deus é amor»

Voltar para o Índice do livro Rumo à Felidade, de Fulton Sheen

(SHEEN, Dom Fulton. Rumo à Felicidade – WAY TO HAPPINESS. Tradução de Dr. A. J. Alves das Neves, pároco de São Pedro da Cova. Livraria Figueirinhas, Porto, 1956, p. 75-78)