Skip to content Skip to footer

Quarta-feira da I Semana da Quaresma

Marcha de Abraão (March of Abraham de Jozsef Molnar)
Marcha de Abraão (March of Abraham de Jozsef Molnar)

<< Esta é uma continuação da Meditação da Segunda-feira da 1ª Semana da Quaresma, se você perdeu, recomenda-se que a faça antes de iniciar esta >>

(5) Ainda falando da fé de Abraão, o Apóstolo faz uma afirmação impressionante, referindo-se ao nosso Pai na fé:

“Ele, esperando contra toda esperança, creu e tornou-se, assim, pai de muitos povos, conforme lhe fora dito: ‘Tal será tua descendência!’ E foi sem vacilar na fé que considerou seu corpo já morto – ele tinha cerca de cem anos – e o seio de Sara também morto. Ante a promessa de Deus, ele não se deixou abalar pela desconfiança, mas se fortaleceu na fé, dando glória a Deus, convencido de que podia cumprir o que prometeu” (vv. 18-21).

Palavras deveras impressionantes!

Observe, meu Amigo, como aparece aqui que a fé sustenta-se unicamente em Deus porque Ele é Deus! Abraão espera contra toda esperança, contra todo limite da lógica humana! Ele pensa, reflete, considera bem sua situação… E, contra toda humana plausibilidade, crê, confiando unicamente no Autor da promessa: “Quem vos chamou é Fiel e é Ele que agirá!” (1Ts 5,24)

Por isso mesmo a fé é uma virtude teologal: ela nos joga diretamente em Deus, ela se apoia unicamente no Senhor e na Sua palavra, na veracidade da Sua promessa e da Sua fidelidade!

Mas, a fé, então, seria ilógica e inumana? Não! Ela simplesmente ultrapassa, transcende os limites estreitos da humana lógica! Ela se inscreve na lógica de Deus, que é infinita! Deus vê até o infinito, que não alcançamos; Deus guia o mundo e a nossa vida de um modo que nos é dado perceber até certo ponto: “Ver-Me-ás pelas costas. Minha Face, porém, não se pode ver!” (Ex 33,25)

Por isso mesmo, a fé tem sempre algo de profundamente escuro. Chega-se a um ponto no qual nosso entendimento não mais consegue alcançar e, numa vertigem em princípio angustiante e até aterradora, não conseguimos mais compreender, ver uma lógica, divisar um sentido! Vem o medo, a sensação de vazio, de estar perdendo a vida, de algo absurdo… É como um salto no escuro, um jogar-se como que no nada…

Como Abraão: já velho, esposo de Sara idosa e estéril… Ele praticamente morto; Sara praticamente morta…
Não! Ali não mais havia possibilidade alguma de vida, ao menos na medida da lógica humana!
O bom senso diria a Abraão que aquela esperança era ilusória, uma quimera, uma inútil e tola ilusão…
Abraão crê, salta na noite, como dizia São João da Cruz, num “saber não sabendo, toda ciência transcendendo”!

Veja, Amigo e Irmão de caminho, que êxodo danado, que partida arriscada, que saída, que viagem tão arriscada: sair da minha lógica para abraçar a lógica de um Outro, Misterioso, que me ultrapassa, que eu não compreendo bem, que eu não posso abarcar com meu entendimento; sair de minha perspectiva, do meu entendimento, da minha segurança lógica para jogar-me na perspectiva de um Outro, tão infinitamente diverso de mim!

Em suma: colocar minha vida, meus sonhos, meu futuro, nas mãos misteriosas de Alguém que vai me conduzir por caminhos que quase nunca haverei de compreender!
Que entrega,
Que abandono,
Que confiança,
Que pobreza tão grande!

E tudo isto simplesmente confiando no Senhor, por causa do Senhor, apostando no Senhor, entregando-se ao Senhor: “foi sem vacilar na fé , “ele não se deixou abalar pela desconfiança“…

Abraão é nosso Pai na fé! Isto significa que, como ele, somos chamados a viver de fé! E ainda mais que Abraão somos chamados a crer, pois vimos o amor, a fidelidade do Senhor Deus: vimos a cruz na qual Ele mesmo nos entregou o Seu Filho amado, vimos a Sua fidelidade ao ressuscitar o Seu Cristo, homem de dores, destroçado pela morte!

Não só vimos Abraão e Sara, marcados pela morte, gerarem vida!
Nós vimos o Filho amado, o Bendito e Santo, entregar-Se morto nas mãos do Pai e ser ressuscitado, feito Vivente e Vivificante, a ponto de dizer com toda a força e verdade: “Eu Sou a Vida! Assim fala o Vivente!” (Jo 14,6; Ap 1,18)

Pense rezando…

Recorde momentos de escuridão do seu entendimento, da sua lógica, da sua compreensão: aquela dor, aquela situação absurda, aquela realidade difícil, penosa, aparentemente sem sentido, aquela perda, aquela queda, aquele sonho desfeito, aquele projeto fracassado… Onde está Deus, que permitiu?

Pense nos por quês da sua vida e do seu coração… Questões sem respostas…

Onde estava a sua fé? Está agora?
Onde está sua confiança em Deus…

A fé de Abraão foi incondicional, foi sem limites…

Por que tendes medo? Ainda não tendes fé?” (Mc 4,40)

Reze o Salmo 138/139