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Quão grande é a obrigação que temos de amar Jesus Cristo

“Não te esqueças nunca da graça que te fez o que ficou por teu fiador, porque ele expôs a sua alma por ti” (Eclo 29,20).

Comumente entendem os intérpretes por tal fiador a Jesus Cristo, que, vendo-nos incapazes de satisfazer a justiça divina por nossos pecados, se ofereceu voluntariamente a pagar por nós, e de fato pagou as nossas dívidas com seu sangue e com sua morte.

Não era suficiente o sacrifício das vidas de todos os homens para compensar as injúrias feitas por nós à divina Majestade; era necessário que a ofensa feita a um Deus fosse satisfeita só mesmo por um Deus, o que realizou Jesus Cristo:

“Em tanto Jesus foi feito fiador de melhor aliança” (Hb 7,22).

Nosso Salvador, pagando pelo homem como fiador com seu sangue, obtém-lhe por seus merecimentos a graça de contrair um novo pacto com Deus, de lhe ser concedida a graça e a vida eterna se ele observar a lei divina. E este acordo Jesus como ratifica na instituição da Eucaristia, dizendo:

“Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue” (1Cor 11,25).

Com isso ele queria significar que aquele cálice com seu sangue era o instrumento ou a escritura de segurança pela qual se firmava um novo pacto entre Deus e Jesus Cristo, por meio do qual se concedia a graça e a vida eterna a todos os homens que lhe permanecem fiéis.
E assim o Redentor, pelo amor que nos tinha, satisfez rigorosamente por nós a justiça divina, sofrendo as penas que nos eram devidas:

“Em verdade ele carregou com os nossos langores e tomou sobre si as nossas dores” (Is 53,4).

E isso tudo foi feito de seu amor:

“Ele nos amou e se entregou a si mesmo por nós” (Ef 5,2).

São Bernardo diz que Jesus Cristo, para nos remir, não se poupou a si mesmo. Ó judeus infelizes, como podeis estar à espera do Messias prometido pelos profetas? Ele já veio e vós o matastes, mas, não obstante esse vosso crime, o divino Redentor está pronto a perdoar-vos, já que ele veio para salvar os que se haviam perdido:

“Veio para salvar o que se havia perdido” (Mt 18,11).

São Paulo escreve que Jesus Cristo, para livrar-nos da maldição merecida por nossas culpas, sobrecarregou-se com todas as maldições a nós devidas e por isso quis morrer a morte dos amaldiçoados, que era a morte da cruz:

“Cristo nos remiu da maldição da lei, fazendo-se por nós maldição, porque está escrito: ‘maldito todo aquele que se for suspenso no lenho’ (Gl 3,13).

Que honra não seria para um pobre camponês se, tendo sido aprisionado pelos corsários, seu próprio rei o resgatasse com perda do reino! Muito maior, porém, é a nossa grandeza por termos sido remidos por Jesus Cristo com a efusão de seu próprio sangue, do qual uma só gota vale mais que mil mundos!

“Não fostes remidos por coisas perecíveis como o ouro ou a prata, mas pelo precioso sangue de Cristo, como o do Cordeiro imaculado” (1Pd 1,18 e 19).

Sendo assim, São Paulo nos adverte que cometemos uma injustiça contra nosso Salvador, quando dispomos de nós segundo a vossa vontade e não conforme a dele e quando nos reservamos qualquer coisa e, ainda pior, quando nos tomamos alguma liberdade com detrimento de Deus, visto que não nos pertencemos mais a nós mesmos, mas somos de Jesus Cristo, que nos adquiriu por um grande preço:

“Acaso não sabeis… que não sois de vós mesmos? Pois fostes comprados por alto preço” (1Cor 6,19 e 20).

Ah, meu Redentor, se eu derramasse todo o meu sangue, se desse mil vidas por vosso amor, que compensação seria ao amor que me demonstrastes, derramando o vosso sangue e dando a vossa vida por mim? Dai-me a graça, ó meu Jesus, de ser todo vosso no resto de minha vida e não amar nada fora de vós. Ó Maria, recomendai- me a vosso Filho.

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