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Primeiro Mistério Doloroso: Agonia de Jesus

Meditação para 21 de Outubro: Primeiro Mistério Doloroso: Agonia de Jesus

A Agonia de Jesus no Horto

Evangelho de São Mateus: 26, 30-46; São Marcos: 14, 26-42; São Lucas: 22, 39-46; São João: 18, 1

Depois destas palavras, tendo recitado o hino de ação de graças, saiu Jesus com os discípulos para além da torrente de Cedron.

Dirigindo-se para o monte das oliveiras, segundo costumava, chegaram a um lugar chamado Getsêmani, onde havia um jardim onde entrou com seus discípulos. Chegando a esse lugar disse-lhes Jesus:

“Sentai-vos aqui enquanto eu vou ali fazer oração. Orai também para que não entreis em tentação”.

Depois, tomando consigo a Pedro e aos dois filhos de Zebedeu, Tiago e João, começou a sentir pavor e angustia, e caiu em tristeza e abatimento.

— Minha alma está triste até a morte, lhes disse Ele, Ficai aqui e velai comigo.

Adiantando-se um pouco afastou-se deles à distancia de um tiro de pedra, prostrando-se com a face no chão, e começou a orar para que se fosse possível, se afastasse dele aquela hora.

Meu Pai, meu Pai, dizia Ele, se é possível, afaste-se de mim este cálice; todavia faça-se a vossa vontade e não a minha.

Voltando aos discípulos, encontrou-os dormindo, acabrunhados pela tristeza, e disse a Pedro:

“Simão, tu dormes? Assim não pudeste vigiar uma hora comigo? Vigiai e orai para não entrardes em tentação, porque o espírito está sempre pronto mas a carne é fraca”

Afastou-se de novo e orou pela segunda vez, dizendo:

“Meu Pai, se não pode passar este cálice, sem que eu beba, faça-se a vossa vontade”

Voltou ainda e encontrou-os outra vez dormindo, porque tinham os olhos pesados; e não sabiam o que lhes responder. Tendo-os deixado foi de novo, e orou pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras. E tendo caído em agonia, multiplicava as orações. Sobreveio-lhe, então, um suor como de gotas de sangue que corriam até o chão. Mas apareceu um Anjo do céu e o confortou.
Levantando então da oração, pela terceira vez voltou aos seus discípulos e lhes disse:

“Dorme agora e descansai. Eis que chegou a hora e o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos e vamos: — Está próximo aquele que me há de entregar”.

O Getsêmani, observa um comentador do Evangelho, é a paixão da alma de Jesus? Tudo que uma alma pode sofrer, sofreu a alma de Jesus. Traição e abandono dos amigos, tristezas, angústias, terrores, agonia do espírito, do coração, da vontade, tudo se precipita ao mesmo tempo sobre o Salvador e o acabrunha. É o homem das dores. Sofre horrivelmente para expiar cada um dos nossos pecados: pecados do espírito, pecados do coração, pecados dos sentidos, pecados de todos os membros. Com o Rosário nas mãos ao contemplar este mistério ouçamos a voz de Jesus agonizante:

“Ficai aqui e velai comigo!”

***

Fruto: O Ódio ao Pecado

O fruto que nos propõe a meditação deste primeiro mistério doloroso é o ódio ao pecado. Porque esta agonia horrorosa de Jesus no Horto ?

Atritus est propter scelera nostra — Foi esmagado, triturado, por causa dos nossos crimes

O pecado é o grande mal, o único mal. A paixão dolorosa de Jesus nos prova como é de proporções imensas o mal que cometemos num só pecado . E, no entanto, a leviandade, a ignorância, a cegueira de tantos cristãos, jamais suspeitam o mal que é o pecado. E como hão de odiá-lo? O pecado é uma injúria a Deus. A malícia da injúria se mede pela pessoa que recebe. O pecado se volta orgulhoso contra Deus e o insulta. E quem é o miserável revoltado? Um verme da terra, um nada. O pecador para satisfazer sua paixão converte em divindade esta paixão e a põe como seu último fim. Não há compreensão da
malícia do pecado. E eis porque tantos o cometem sem refletir nas consequências eternas da injúria feita a Deus.

A agonia do horto nos manifesta o horror dos nossos pecados causados ao filho de Deus humanado!

Examinemos bem nossa consciência diante de Jesus agonizante e banhado em suor de sangue. Pecados sobre pecados… quantos crimes… sacrilégios… abusos da graça em nossa vida. Pecados da infância, da mocidade, da madureza…

Olhemos um pouco o nosso triste passado de ingratidões e de insultos à Majestade Divina, de abuso da sua Infinita Misericórdia. Na contemplação desde mistério procuremos excitar nosso arrependimento e conceber um ódio ao pecado. Peçamos esta graça a Jesus no Horto pela intercessão de Maria, sua Mãe, a Virgem concebida sem pecado. Somos muito levianos e insensatos! Não compreendemos a malícia do pecado! Que a meditação deste mistério doloroso sempre nos ilumine e nos faça ter horror ao pecado, ódio ao pecado!

***

A Intenção: As Almas Tentadas

O inimigo não dorme. Somos todos tentados. O Demônio quer nos perder. Anda em torno de nós como um leão furioso a procurar a presa, diz a Escritura. Há pobres almas desejosas da perfeição e sujeitas às tentações mais horrorosas. Como sofrem! Que martírio doloroso! Como têm necessidade de oração que as ajude nos combates!… É por elas este mistério doloroso do Rosário. Unidos a Jesus na horrenda agonia do Getsêmani, voltemos nossos pensamentos para as pobres almas tentadas e talvez em risco de se perderem, e à beira do abismo. É verdade que a tentação lhes dará mais valor ao combate e mais glória um dia no céu. Porém, ai, quantos infelizes não sucumbiram pela fraqueza e miséria de nossa pobre natureza humana! Tenhamos compaixão das almas tentadas, elas precisam muito de nossas orações. Vamos ajudá-las! É horroroso o que padecem!

***

EXEMPLO

O Terço no Exército Nacional

Outrora nos quartéis os soldados rezavam em comum entre cânticos piedosos o Terço do Rosário de Maria.

O Duque de Caxias, fervoroso cristão, nunca deixava de rezar com edificante piedade o Terço de Nossa Senhora.

Há páginas edificantes e belas da história do nosso Exército onde sempre o soldado brasileiro guardou as suas tradições de fé e a devoção à Virgem Nossa Senhora da Conceição revelada na devoção ao Rosário. Eis um exemplo tocante:

Em a noite de 3 de Janeiro de 1817, acampava às margens do Catalão o exército do Rio Pardo, chefiado pelo bravo tenente-geral Xavier Curado. O capelão-mor, Padre Feliciano Prates, depois bispo de São Pedro do Rio Grande do Sul, entoara a Salve Rainha, sendo acompanhado por toda a tropa, em tradicional toada. Era a prece que encorajava os nossos na campanha de 1816-1820 contra Artigas, no Rio da Prata.

Dado o toque de silêncio, a tropa foi descansar.

Antes dos primeiros, clarões do dia 4 de Janeiro, os soldados foram despertados por um tiro e brados de alarme, partidos de fora das linhas; todos correram a postos e rechaçaram o primeiro ataque, iniciando a luta, que se desenvolveu com tenacidade de ambas as partes até à tarde.

Venceram os nossos, auxiliados pela chegada do barão de Serro Largo.

O tiro de alarme salvara os nossos soldados de serem surpreendidos de madrugada. Não fora os artiguenses serem descobertos em tempo, teriam eles surpreendido os nossos.

Soube-se, então, quem fora das linhas, descobrira o inimigo, e arriscando a própria vida, dera os tiros e brados de alarme: o capitão de milícias de Santa Catarina, Manoel Luiz da Silva Borges. Antes da Alvorada, segundo seu costume, em lugar retirado, fora rezar o Terço do Rosário.

Terminada a piedosa oração, olhando para o alto, divisou os inimigos. Deu logo os tiros e os brados de alarme, despertando os nossos. Expondo a própria vida, o piedoso militar, pai do general Osório, avisou os nossos, livrando-os da derrota. O Rosário salvara o Exército brasileiro.

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(BRANDÃO, Monsenhor Ascânio. O Mês do Rosário, Edições do “Mensageiro do Santíssimo Rosário”, 1943, p. 169-176)

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