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Jesus é flagelado e preso a uma coluna

Meditação V. Para a Quarta-feira da Paixão

1. “Então Pilatos tomou a Jesus e mandou flagelá-lo” (Jo 19,1). Ó juiz injusto, tu o declaraste inocente e em seguida o condenas a um castigo tão cruel como vergonhoso? Contempla, minha alma, como, depois dessa ordem iníqua, os carrascos se apoderam do Cordeiro divino, conduzem-no ao pretório e o amarram com cordas a uma coluna. Ó cordas bem-aventuradas, vós que prendestes àquela coluna as mãos de meu doce Redentor, prendei também a seu coração divino o meu miserável coração, para que de hoje em diante eu não busque e não queira outra coisa senão o que ele quer.

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Jesus é conduzido a Pilatos e a Herodes e posposto a Barrabás

Meditação IV. Para a Terça-feira da Paixão

1. Chegada a manhã, conduzem Jesus a Pilatos, para que o condene à morte. Pilatos, porém, descobre que Jesus é inocente e por isso diz aos judeus que não encontrava motivo para condená-lo. Como, porém, os vê obstinados em querer a sua morte, o remete ao tribunal de Herodes. Este, tendo diante de si Jesus, desejava vê-lo operar um dos muitos milagres de que tanto falavam. O Senhor nem sequer, porém, respondeu às interrogações daquele temerário. Pobre da alma à qual Deus nada mais diz! Meu Redentor, era isso o que eu merecia, por não haver obedecido a tantos chamados vossos. Mas, ó meu Jesus, vós não me haveis abandonado ainda. Falai-me, pois. “Falai, Senhor, que vosso servo vos ouve” (1Rs 3,10), dizei-me o que desejais de mim, que eu quero fazer tudo o que vos agradar.

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Jesus é preso e conduzido a Caifás

Meditação III. Para a Segunda-feira da Paixão

1. Tendo o Senhor conhecimento de que os judeus que vinham prendê-lo já estavam perto, levanta-se e vai ao seu encontro: sem nenhuma resistência deixa-se prender e amarrar: “prenderam a Jesus e o amarraram” (Jo 18,12). Que assombro! Um Deus preso como um malfeitor por suas criaturas! Minha alma, considera como uns lhe tomam as mãos, outros o amarram e outros lhe batem, e o inocente Cordeiro deixa-se prender e bater conforme a vontade deles e cala-se:

“Foi oferecido porque ele mesmo o quis e não abriu sua boca. Foi conduzido como uma ovelha ao matadouro” (Is 53,7).

Não fala nem se lamenta, porque ele mesmo já havia se oferecido para morrer por nós e assim se deixa amarrar como uma ovelha que é conduzida à morte sem abrir a boca.

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Jesus ora no horto

Meditação II. Para o Domingo da Paixão

1. Sabendo Jesus que era chegada a hora de sua paixão, depois de haver lavado os pés de seus discípulos e instituído o Santíssimo Sacramento do Altar, no qual se nos deixou todo a si mesmo, se dirige ao horto de Getsêmani, onde seus inimigos iriam procurá-lo para o prender, como já era de seu conhecimento. Aí põe-se a orar e eis que se sente assaltado por um grande temor, um grande tédio e uma grande tristeza:

“Começou a ter pavor, tédio e tristeza” (Mt 14,33; Mt 26,37).

Assaltou-o primeiramente um grande temor da morte tão amarga que devia sofrer sobre o Calvário e de todas as angústias e desolações que deveriam acompanhá-la. No decurso de sua paixão, os flagelos, os espinhos, os cravos e os outros tormentos o afligiram cada um por sua vez; no horto, porém, vieram todos juntos atormentá-lo. Ele os abraça a todos por nosso amor, mas isso o faz tremer e agonizar:

“Posto em agonia, orava com maior instância” (Lc 22,43).

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Jesus entra triunfante em Jerusalém

Meditação I. Para o Sábado da Paixão

1. Avizinhando-se o tempo de sua Paixão, nosso Redentor deixa Betânia para se dirigir a Jerusalém. Achando-se perto dessa ingrata cidade, Jesus a contempla e chora. “Vendo a cidade, chorou sobre ela”. Chora, prevendo sua ruína em conseqüência do grande crime que aquele povo iria em breve cometer, tirando a vida ao Filho de Deus. Ah, meu Jesus, chorando então sobre aquela cidade, choráveis também sobre a minha alma, vendo a ruína que eu mesmo me procurava com meus pecados, obrigando-vos a condenar-me ao inferno depois de haverdes morrido para me salvar. Ah, deixai-me chorar o grande mal que me fiz, desprezando a vós, sumo bem, e tende compaixão de mim.

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Da paciência que devemos praticar em união com Jesus Cristo, para alcançar a vida eterna

Capítulo XI

O mistério da paciência.

1. Falar de paciência e de sofrer é tratar de uma coisa que os amantes do mundo não praticam e nem sequer entendem. Só as almas que amam a Deus e compreendem e põem em prática. São João da Cruz dizia a Jesus Cristo:

“Senhor, eu nada mais vos preço que padecer e ser desprezado por vós”.

E Santa Teresa exclamava freqüentemente:

“Ó meu Jesus, ou sofrer ou morrer”.

Santa Maria Madalena de Pazzi:

“Senhor, sofrer e não sofrer”.

Eis como falam os santos extasiados por Deus, e assim falam porque sabem muito bem que uma alma não pode dar uma prova mais segura de seu amor para com Deus do que padecendo voluntariamente para dar-lhe gosto.

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Todas as nossas esperanças devem ser postas nos merecimentos de Jesus Cristo

Capítulo X

Só nele há salvação.

1. “Não há salvação em nenhum outro” (At 4,12). São Pedro diz que toda a nossa salvação está em Jesus Cristo, que por meio de sua cruz, na qual sacrificou por nós sua vida, nos abriu o caminho da esperança de recebermos todos os bens de Deus, se formos fiéis a seus preceitos. Ouçamos o que diz da cruz São João Crisóstomo:

“A cruz é a esperança dos cristãos, o arrimo dos coxos, a consolação dos pobres, a destruição dos soberbos, o triunfo sobre os demônios, a mestra dos jovens, o leme dos navegantes, o porto para os que estão em perigo, a conselheira dos justos, o descanso dos atribulados, o médico dos enfermos, a glória os mártires” (Hom. de cruc. t. 3).

A cruz, isto é, Jesus crucificado, é a esperança dos fiéis, porque, se não tivéssemos Jesus Cristo, não haveria salvação para nós, é o arrimo para os coxos, nós todos somos coxos no atual estado de corrupção e, fora da força que nos comunica a graça de Jesus Cristo, não temos outro para trilhar o caminho da salvação; é a consolação dos pobres, isto é, de nós todos, pois tudo o que temos o temos de Jesus Cristo; é a destruição dos soberbos, já que os sequazes de Jesus Cristo não podem ser soberbos vendo-o morto, qual malfeitor, na cruz; é o triunfo sobre os demônios, pois só o sinal da cruz basta para afugentá-los; é a mestra dos principiantes: que belos ensinamentos não dá a cruz àqueles que começam a palmilhar o caminho da salvação; é o lema dos navegantes: oh! como a cruz nos guia nas tempestades da vida presente: é o porto dos que perigam: os que se acham em perigo de perder-se pelas tentações ou fortes paixões encontram um porto seguro recorrendo à cruz; é conselheira dos justos: quantos santos conselhos não dá a cruz nas tribulações da vida; é o repouso para os aflitos: que coisa poderá aliviar mais os atribulados do que contemplar a cruz em que padece um Deus por seu amor? É o médico dos enfermos, que, abraçando a cruz, ficam curados de todas as chagas da alma; é a glória dos mártires, pois sua maior glória consistia em se tornarem semelhantes a Jesus Cristo, rei dos mártires.

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Da gratidão que devemos a Jesus Cristo por sua paixão

Capítulo IX

O amor de Cristo nos constrange.

1. Diz Santo Agostinho que, tendo sido Jesus Cristo o primeiro a dar a vida por nós, obrigou-nos com isso a que demos a vida por ele (Trac. 46 in Jo). Escreve o santo:

“Conheceis qual é a mesa que contém o corpo e sangue de Cristo: o que dela se utiliza, deverá também tê-la preparada”.

Quer dizer: quando nós vamos à mesa eucarística, para comungar, isto é, nutrir-nos do corpo e sangue de Jesus Cristo, devemos por gratidão preparar-lhe igualmente a oferta de nosso sangue e nossa vida e, se for necessário, sacrificar um e outra para sua glória. Mui belas são as palavras de São Francisco de Sales a respeito do texto de São Paulo:

“A caridade de Cristo nos constrange” (2Cor 5,4).

O amor de Jesus nos força, mas para quê? Nos força a amá-lo. Mas ouçamos o santo:

“O conhecimento de que Jesus nos amou até à morte de cruz não é um conhecimento que força os nossos corações a amá-lo com uma violência tanto maior quanto mais amável ele o é? O meu Jesus se dá todo a mim e eu me dou todo a ele: eu viverei e morrerei sobre seu peito, nem a morte nem a vida dele mais me separarão”.

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Do amor que Jesus Cristo nos demonstrou na sua paixão

Capítulo VIII

Assim amou Deus o mundo.

1. São Francisco de Sales chama o monte Calvário o monte dos amantes e diz que o amor que nasce da paixão é fraco, dando com isso a entender que a paixão de Jesus Cristo é o incentivo mais forte para nos mover e inflamar a amar o nosso Salvador. Para que possamos compreender em parte (pois totalmente é impossível) o grande amor que Deus nos demonstrou na paixão de Jesus Cristo, basta lançar um olhar ao que dizem as Sagradas Escrituras. Escolherei só alguns textos mais importantes que falam deste amor. E que ninguém ache fastidioso repetir eu esses textos que falam da paixão, tendo-os já citado muitas vezes em outras obras minhas. Também certos escritores de obras perniciosas, que tratam de obscenidades, repetem sempre suas pilhérias impudicas para despertar mais fortemente a concupiscência de seus incautos leitores. E a mim não me será então permitido repetir aqueles trechos das Sagradas Escrituras, que são mais aptos para inflamar os ânimos no amor divino?

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Reflexões sobre os prodígios havidos na morte de Jesus Cristo

Capítulo VII

As trevas.

1. Conta-se que São Dionísio Areopagita, estando em Heliópolis, no Egito, exclamou na hora da morte de Jesus:

“Ou o autor da natureza, Deus, está sofrendo ou então é a máquina do mundo que se desfaz” (Corn. a Lápide in Mt c. 27 v. 45).

Miguel Sincelo e Suida escrevem ter o santo dito:

“O Deus desconhecido padece em seu corpo e por isso o universo se cobre de trevas”.

Eusébio escreve que, segundo Plutarco, na ilha de Praxas se ouviu uma voz que dizia: “Morreu o grande Pan” e em seguida o grito de muitos que choravam. Eusébio interpretou a palavra Pan por Lúcifer, que pela morte de Cristo ficou como que morto, vendo-se despojado do império que tinha sobre os homens. Barradas, porém, a entende pela pessoa de Cristo, visto que em grego a palavra Pan significa o todo, que é o próprio Jesus Cristo, Filho de Deus e Deus verdadeiro: o todo, isto é, a plenitude de todos os bens.

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