"O que nela se gerou, é obra do Espírito Santo" (Mt 1)
"Ofereçamos, pois por ele a Deus, sem cessar, sacrifícios de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome" (Hb 13)
«Assim como até hoje tudo, se verificou, diz Santo Agostinho, também se há de verificar o que resta: temamos o dia do juízo: há de vir o Senhor; o que veio humilde virá exaltado»
Explica-se literalmente a sexta palavra
A sexta palavra que Cristo proferiu na Cruz, é referida por São João como quase junta com a quinta. Logo que o Senhor disse: Tenho sede e bebeu do vinagre que Lhe ofereceram, acrescenta São João:E sem dúvida aquele — tudo está consumado — à letra não quer dizer mais nada senão a obra da redenção está concluída, rematada; pois dois serviços tinha o Pai imposto ao Filho: pregar o Evangelho, e sofrer pelo gênero humano. Da primeira disse o Senhor em São João:"Jesus, porém tendo tomado o vinagre, disse: Tudo está consumado" (Jo 19)
Isto disse o Senhor depois do último e extensíssimo sermão que pregou aos Seus discípulos depois da ceia, por isso mesmo concluiu a primeira obra, de que seu Pai o encarregara."Eu acabei a obra que tu me encarregaste que fizesse, manifestei o teu nome aos homens" (Jo 17)
Antes, porém de dizermos alguma coisa da necessidade da paciência, é preciso distinguir a verdadeira da falsa. A verdadeira é a que nos manda sofrer o mal do prejuízo, para não nos vermos obrigados a cometer atos culpáveis (2). Tal foi à paciência dos mártires, que antes quiseram sujeitar-se aos tormentos dos algozes do que negar a fé de Cristo; e preferiam perder tudo quanto tinham a prestar culto aos falsos deuses. A falsa paciência é a que nos leva a sofrermos todos os males, para obedecermos às leis do apetite, e a perdermos os bens sempiternos, para conservarmos os temporais. Tal é a paciência dos mártires do diabo, que suportam facilmente a fome, a sede, o frio, o calor, a perda da boa reputação, e, o que mais admira, a do Reino do Céu, para acumularem riquezas, satisfazerem a luxúria, e subirem a cargos honoríficos.«Não acho entre os outros caminhos que levam à sabedoria do Céu, algum, que seja ou mais útil para a vida, ou mais espaçoso para a glória, do que a paciência, a qual deve com todo o empenho fazer por conseguir, quem quiser firmar-se bem nos preceitos do Senhor por obséquio de temor e de devoção»
Como poderá, porém ter sede, quem é fonte de água viva? Não falava Cristo de si, quando no Evangelho: Se alguém tem sede, venha a mim e beba? (Jo 7) e não é Ele mesmo aquela pedra, de que fala o Apóstolo aos Coríntios (1Cor 10): Bebiam da pedra, que os seguia, e a pedra era Cristo? Não é Ele aquele mesmo que diz aos Judeus por Jeremias (Jer 2): Abandonaram-me, sendo eu a fonte d’água viva; e para si cavarem cisternas, cisternas rotas, que não podem conter a água. Parece-me, pois que estou vendo Cristo na Cruz, como numa elevada atalaia, vendo todo o mundo cheio de gente sequiosa, e desfalecida pela sede, e que o mesmo Senhor, compadecido, quando sofria a Sua sede corporal, daquela sede geral do gênero humano, gritara: Tenho sede, isto é, estou sem dúvida sequioso, porque se esgotou já o humor do meu corpo: esta sede, porém breve terminará, mas a minha maior sede é de que os homens conheçam pela fé que eu sou a verdadeira fonte de água viva, e de que venham a mim e bebam, e não tornem a ter mais sede."Se conhecesses o dom de Deus, e quem é que te pede, que lhe dês de beber, talvez tu lhe pedisses, que te desse água viva"
Por isso os que a Cristo, Senhor Nosso, deram pouco antes de ser crucificado, vinho misturado com fel, e os que depois de crucificado, Lhe ofereceram vinagre, eram daqueles de quem Ele se queixa, dizendo: Esperei por quem tomasse parte, etc."Esperei por quem tomasse parte na minha tristeza; e ninguém a tomou; esperei que alguém me consolasse; e ninguém me deu consolação, na minha fome deram-me fel, e vinagre na minha sede"