Sumário. Seja qual for o estado da tua alma, sempre tens motivos especiais para celebrar bem o mês de Maria. Se és inocente, deves fazê-lo para que a divina Mãe te conserve sempre tal; se és pecador, para que te ajude a levantar-te; se és penitente, para que te obtenha a santa perseverança. Para praticares bem este santo exercício, imagina-te que terás de morrer no princípio de junho, e emprega todo o mês de maio em te preparar à morte, especialmente pelo cumprimento exato dos deveres do teu estado.Mensis iste vobis principium mensium: primus erit in mensibus anni —”Este mês será para vós o princípio dos meses: será o primeiro dos meses do ano” (Ex 12, 2)
Cumpriu-se principalmente, quando o Senhor, proferidas aquelas palavras"Humilhou-se até morte, e morte de Cruz" (Fl 2)
Imediatamente expirou. Será, porém conveniente ir buscar mais no seu começo o que pode e deve dizer-se da obediência de Cristo, para colhermos um fruto preciosíssimo da árvore da Santa Cruz, pois Cristo, Mestre e Senhor de todas as virtudes, prestou a seu Pai uma obediência tal, que não pode mesmo imaginar-se outra maior."Meu Pai, nas Tuas mãos entrego o meu espírito"
Mas porque Ele se não via na mesma necessidade em que nós nos vemos, porque era Filho e Santo, e nós somos servos e pecadores; por isso a Igreja, nossa Mãe e Mestra, nos ensina a dizermos repetidas vezes a mesma oração, porém inteira, como está no Salmo de Davi, e não metade dela, como Cristo a disse. No Salmo é assim:"Nas tuas mãos entrego o meu espírito"
"Nas tuas mãos entrego o meu espírito; foste tu que me remiste Senhor Deus de verdade" (Sl 30)
"Na verdade este homem era filho de Deus" (Mc 15)
Explica-se literalmente a sétima palavra
Chegamos à última palavra de Cristo, que Ele, a morrer na cruz, proferiu, bradando: Meu Pai, etc. Explicaremos por sua ordem cada uma das expressões. Meu Pai, disse Ele; e com razão assim Lhe chama, porque foi seu Filho obediente até à morte, e por isto digníssimo de ser atendido. Nas tuas mãos. Na linguagem da Escritura chamam-se mãos de Deus a inteligência e a vontade, ou a sabedoria e, o poder, ou, o que vem a dar no mesmo o entendimento que tudo sabe, e a vontade, que tudo pode, pois com estas duas como mãos faz Deus tudo, nem precisa de instrumentos, porque, como diz São Leão (1), à vontade em Deus é potência, e por isso o querer em Deus é ação. Fez tudo quanto quis no Céu e na Terra (Sl 134). Entrego, como, ponho em depósito, para me ser lealmente restituído a seu tempo.Melhor diz São Bernardo (1):"Se é Rei de Israel, desça da Cruz, e acreditamo-lo" (Mt 26)
E pouco abaixo:«Antes, porque é Rei de Israel, não abdique o seu título»
«Não te dará ocasião de nos ser roubada a perseverança, a qual só é coroada. Não fará emudecer as línguas dos pregadores, que consolam os pusilânimes, e que a cada um estão dizendo: "Não abandones o teu lugar", o que sem dúvida aconteceria, se eles lhes pudessem responder que Cristo abandonará o seu»