Devoção dos Papas
O Rosário foi justamente denominado a devoção predileta e privilegiada dos Papas.
Nenhuma outra na Igreja teve mais calorosas e insistentes recomendações e mereceu tantas Encíclicas.
Desde Xisto IV até hoje, mais de cinquenta Encíclicas, Bulas, e Decretos sobre a devoção do Rosário. A palavra do Santo Padre é para todo bom católico a palavra de Deus, e ele sempre a recebe com amor e a obedece e venera.
Os Juízes infalíveis da verdade, os mestres e guias da cristandade, falaram em documentos autênticos, solenes e oficiais, sobre o Rosário de Maria.
Os Papas e o Rosário! Que assunto vasto e para volumes!
— O Rosário, desde que Nossa Senhora o trouxe ao mundo, e o propagou por São Domingos e seus filhos, tornou-se como que uma espécie de prece oficial da Igreja depois da Prece litúrgica.
E é justo que assim o seja. Pois não é o Pai-Nosso a melhor de todas as orações, a oração por excelência, ensinada por Cristo Nosso Senhor?
Quando os Apóstolos pediram a Jesus:
“Mestre, ensina-nos a orar!”
A resposta foi o Pai-Nosso! Pois bem, o Rosário é a repetição 15 vezes da Oração Dominical.
E depois do Pai-Nosso pergunta o Catecismo, qual a melhor das orações?
— A Ave-Maria!
O Rosário a repete cento e cinquenta vezes!
Pode existir melhor oração que o Rosário? Evidentemente, não!
Eis porque os Santos Padres tanto a recomendam ao povo cristão. O que os Papas escreveram e disseram do Rosário, daria volumes, e se poderia formar uma antologia das páginas mais belas e expressivas, das Encíclicas e documentos Pontifícios sobre a Rainha das devoções à Maria.
“O Rosário é o açoite do demônio”, dizia Adriano VI.
“Rezai o Rosário como eu o rezo sempre, dizia Pio IX, porque se São Domingos conseguiu no seu tempo a vitória contra os inimigos da Igreja, também a conseguiremos hoje com as mesmas armas.”
Sempre os Pontífices invocaram a Virgem do Rosário contra o inferno nas lutas da Igreja.
No seu tempo exclamava Leão XIII:
“Necessitamos tanto do auxílio Divino como na idade em que o grande São Domingos levantou o estandarte do Rosário de Maria contra os males da sua época”
O Rosário traz cada dia novos benefícios e graças aos fiéis, escreveu Urbano IV. O Rosário honra de modo particular a Deus e a Bem-aventurada Virgem Maria, e afasta do mundo os perigos que o ameaçam, fala Xisto IV.
“O Rosário, diz Nicolau V, é a árvore da vida que ressuscita os mortos, cura os doentes, e conserva a saúde dos que já a gozam”
Leão X, em face da heresia protestante, exclama:
“O Rosário foi instituído contra as heresias e os heresiarcas, ele nos salvará”
E São Pio V, o grande Papa do Rosário e da vitória do Rosário, pôde dizer pela experiência:
“Graças ao Rosário e à sua difusão no mundo, os fiéis excitados pela meditação, abraçados pelas suas orações, se tornaram outros homens. Dissiparam-se as trevas da heresia e a fé católica brilha com novo esplendor”
Poder-se-ia escrever um florilégio vasto, só, dos mais belos pensamentos dos Papas sobre o Rosário de Maria.
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Os Últimos Pontífices
De Pio IX a Pio XII, os Papas dos tempos modernos dos dias mais agitados da História da Igreja, recomendam o santo Rosário. O Papa da Imaculada, até a morte medita um a um os mistérios do Rosário, daquele Rosário que nunca lhe saiu das mãos nas horas mais difíceis do seu longo Pontificado, Leão XIII, já o dissemos e provamos, e toda a Igreja o conhece como o Papa do Rosário. Depois de São Pio V não houve maior nem mais ardoroso apóstolo do Rosário no trono pontifício.
Pio X, o santo pontífice cuja causa de beatificação vai triunfante, confirma com entusiasmo todas as decisões de Leão XIII sobre o Rosário, e quer realizar o seu programa de restaurar tudo em Cristo, com Maria e pelo Rosário de Maria:
“Rezai o Rosário, rezai o Rosário, repetia ele, eis o meu testamento!”
Em plena grande guerra, Bento XV apela para o Rosário.
“A devoção do Rosário é a mais bela flor da piedade humana mais fecunda fonte de graças celestiais. O mês do Rosário em meio de tamanha onda de sangue, dá-nos ensejo para elevar humilde súplica à Mãe de Misericórdia e Rainha da paz”, escrevera o grande Papa.
Sobe à Cátedra de Pedro Pio XI. O Papa das missões e da Ação Católica foi incontestavelmente um fervoroso devoto do Rosário. Escreve a Encíclica Ingravescentibus malis, na qual revela o seu grande amor a mais bela das devoções marianas. Distribui Terços em profusão nas suas audiências do Vaticano, recomendava aos neos-esposos que lhe pediam a bênção, a recitação do Terço em família. Diz aos que lutam na Ação católica:
“Sirva a devoção do Rosário de estímulo aos que se devotam à ação católica para os lançar em seu apostolado com maior fervor e zelo”
E na mesma Encíclica do Rosário diz Pio XI:
“Queremos nos propor como exemplo de não deixar passar um só dia sem recitar o Rosário, apesar das maiores fadigas e preocupações”
E assim era realmente. O saudoso Papa, cansado, enfermo, jamais deixou a recitação do seu Rosário. E o rezava todo, os três Terços. Pela manhã celebrava a Santa Missa e logo depois, como é costume dos Papas, assistia à outra Missa. E nesta Missa… rezava após a ação de graças, o seu primeiro Terço do Rosário! Os outros recitava-os em hora livre e, como disse ele, apesar das fadigas e preocupações, nunca passou dia sem o Rosário todo recitado e contemplado. Que belos e tocantes modelos para estímulo da nossa devoção ao santo Rosário!!
Pio XII continua a gloriosa tradição. Distribui Rosários em audiências, recomenda ao povo o Santo Rosário, reza-o com fervor, e pede ao mundo que por esta devoção implore a Deus a paz nesta hora de angústias. Não é, pois, o Rosário a devoção mais querida dos Papas? Pode ter bom espírito e senso católico, e sentir com a Igreja quem menospreza ou relega esta devoção ao rol de simples devoçãozinha e, às vezes, até sob o especioso motivo de viver melhor o Cristo e a vida litúrgica?
Porventura os Papas não souberam viver o Cristo nem a Liturgia? O Papa da Ação católica e do movimento litúrgico não é aquele mesmo que recitava o Rosário, pregava o Rosário, distribuiu o Rosário e rezava o Terço na Missa?
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EXEMPLO
O Terço do Papa
A convenção havia levado prisioneiro à França o Santo Padre Pio VI. O infeliz Papa, velho e enfermo, fora obrigado a deixar Roma. Quando passava por Gênova o Augusto prisioneiro, um soldado aproximou-se dele respeitosamente e pediu:
— Santíssimo Padre quero uma lembrança de Vossa Santidade, uma lembrança do Papa!
— Meu filho, respondeu Pio VI, levaram-me tudo que possuo. Estou despojado de tudo e só tenho meu Breviário e meu Terço. Porém, eu quero te oferecer o meu Terço. Leva-o, guarda-o e reza todos os dias o Rosário, e ele te alcançará a proteção de Nossa Senhora.
Morrera o Papa. E o feliz soldado, como relíquia preciosa, sempre beijava o Terço do Papa.
Trazia-o dependurado ao pescoço. Era seu tesouro.
André Raymont, assim se chamava, mais tarde deixou o Exército e se recolheu à vida patriarcal das famílias da sua região. Nunca se esqueceu da recomendação do Papa. Todos os dias recitava o Terço em família. Toda gente queria ver o Terço do Papa, e ele o mostrava com veneração. Exclamava feliz:
“O meu Terço querido, o Terço do Papa! Tem sido ele minha proteção, nunca o deixarei até a morte”.
E só pela morte o legou a uma família amiga que sempre o protegera.
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(BRANDÃO, Monsenhor Ascânio. O Mês do Rosário, Edições do “Mensageiro do Santíssimo Rosário”, 1943, p. 47-54)