In conspectu angelorum psallam tibi, adorabo ad templum sanctum tuum – “À vista dos anjos te cantarei salmos; eu te adorarei no teu santo templo” (Sl 137, 2)
Sumário. Depois da oração feita na comunhão, a que se faz na presença de Jesus sacramentado é a mais agradável a Deus e a mais proveitosa para nós. Sim, porque o Senhor está ali presente exatamente para consolar a todos que o vêm visitar e expor-lhe as suas necessidades, e, portanto, dispensa as suas graças com mais abundância. Procuremos, pois, visitar frequentemente o Santíssimo Sacramento e fazer na sua presença as orações que temos por hábito fazer durante o dia.
I. Depois da oração feita na santa comunhão, a que se faz na presença de Jesus Cristo no Sacramento do Altar é a mais agradável a Deus e a mais proveitosa para nós. Sim, pois que o Senhor, embora esteja em toda a parte, pronto a atender ao que reza, todavia no Santíssimo Sacramento dispensa as graças com mais abundância; porque se deixa ficar de dia e de noite em nossas igrejas exatamente para consolar a todos os que o vêm visitar e recomendar-Lhe suas necessidades.
É certo que, se em toda a terra houvesse só uma igreja como residência de Jesus Cristo sobre o altar, ela estaria continuamente repleta de fiéis, ocupados em venerar nosso Salvador que se digna ficar incessantemente conosco sob as espécies de pão. Mas porque Ele quis estar presente em tantas igrejas afim de se fazer achar pelos que O amam, eis que em muitas igrejas Ele fica só durante a maior parte do dia.
Mas, se os seculares não cuidam em visitar a Jesus sacramentado e o deixam só, ao menos os eclesiásticos e os religiosos, que formam a parte escolhida da corte de Jesus, deviam visitá-Lo constantemente. Nos palácios dos príncipes nunca falta quem os procure, especialmente os que moram no próprio palácio. Tais são os religiosos em seus mosteiros; eles têm a honra de morar no palácio que o Rei do céu se elegeu na terra, e, portanto na frase do Padre Balthazar Alvarez, podem visitá-Lo sempre quando quiserem, de dia e de noite. É isso também o que arrancava lágrimas ao grande servo de Deus: ver os palácios dos grandes cheios de gente, e as igrejas, onde reside Jesus Cristo, ermas e abandonadas.
II. O Padre Salésio, da Companhia de Jesus, só de ouvir falar no Santíssimo Sacramento, ficava transbordado de consolação e não se enfadava de O visitar. Se o chamavam à portaria, se voltava à sua cela, ou ia de um para outro lugar na casa, aproveitava sempre estas ocasiões para renovar suas visitas a seu amado Senhor. Observou-se que dificilmente passava uma hora do dia sem que o visitasse. É o que tu também deves fazer. Enquanto possível, procura fazer na presença de Jesus sacramentado todas as orações que tens por hábito fazer cada dia, como sejam: o terço, as horas canônicas, a meditação, etc.
Não deves, porém, ir à igreja para provar doçuras e consolações; mas unicamente para agradar a Deus, pedindo-Lhe que apague o ardor de tuas paixões e te enriqueça de suas virtudes. Deves sobretudo ocupar-te ali em fazer atos de amor, consagrando-te inteiramente à Jesus, e comprazendo-te, à imitação dos Bem-aventurados no céu, na felicidade infinita de que goza.
– Semelhantes atos de amor, produzidos diante do diviníssimo Sacramento, muito embora sem doçura sensível, são muito agradáveis a Deus e serão talvez mais proveitosos a ti do que os outros exercícios piedosos do dia.
Ó Serafins, vós ardeis em vivas chamas de amor diante de vosso e meu Senhor; e, contudo, não é por vosso amor que este Rei do céu quis ficar neste Sacramento, mas sim por amor de mim. Ó anjos amantíssimos, permiti que eu também arda do mesmo amor; acendei em mim o fogo que vos devora, afim de que eu arda como vós e convosco. – E Vós, ó Senhor, que estais aí encerrado no Tabernáculo, para ouvir as súplicas dos miseráveis que Vos vêm pedir audiência, escutai agora a súplica que Vos faz o pecador mais ingrato de todos.
Conhecendo a vossa amabilidade infinita, sinto-me cativado pelo vosso amor e tenho um grande desejo de Vos amar e de Vos agradar por meio de frequentes visitas. Não tenho, porém, forças de o fazer, se Vós não me ajudardes. Conheça todo o paraíso a grandeza do vosso poder e a imensidade da vossa clemência em fazer-me, de rebelde que tenho sido, grande amante vosso. Supri a tudo que me falta, afim de que chegue a amar-Vos muito, ao menos tanto quanto Vos ofendi. Fazei-o, ó meu Jesus, pelo amor da vossa e minha querida Mãe, Maria.
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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 296-298)