Sicut mandatum dedit mihi Pater, sic facio — “Faço tudo o que meu Pai me ordenou” (Jo 14, 31)
Sumário. Ó! Em que chamas de amor para com seu Pai abrasou-se o Coração de Jesus! Um dos maiores sinais de amor que se pode dar a alguém, é fazer em tudo e sempre a sua vontade. Ora, tal foi a disposição contínua do Coração de Jesus: ele não buscou em toda a vida senão a vontade do seu eterno Pai. A conformidade com a vontade de Deus nos tornará semelhantes a Jesus Cristo e nos fará atingir o cimo da perfeição.
I. Ó! Em que chamas de amor para com seu Pai abrasou-se o Coração de Jesus! Um dos maiores sinais de amor que se pode dar a alguém, é fazer em tudo e sempre a sua vontade, ainda quando seja preciso para isto perder tudo, até a vida. Ora, tal foi a disposição contínua do Coração de Jesus: ele não buscou em toda a sua vida senão a vontade do seu eterno Pai. Apenas encarnado no seio de sua Mãe, ele diz:
“Ó meu Pai, Vós rejeitastes as vítimas que os homens Vos ofereciam; quereis que eu Vos sacrifique o corpo que me destes: pois sim! Aqui estou pronto para fazer a vossa vontade” (1).
Quantas vezes protestou que “descera do céu não para fazer a sua vontade, mas a do Pai que o enviava” (2). Para fazer conhecer ao mundo o amor imenso que tinha a seu Pai, Jesus lhe obedeceu até fazer o sacrifício da sua vida pela salvação dos homens. E precisamente o que dizia ao sair ao encontro dos inimigos que vinham prendê-lo para o conduzirem à morte:
“A fim de que o mundo saiba que amo a meu Pai, e faço tudo o que ele me ordenou, levantai-vos, vamos” (3).
Deus nos promete a glória celeste, mas com uma condição: é que o nosso coração se torne conforme o Coração de Jesus. Ora, a união da vontade do homem com a vontade de Deus, é que produz esta conformidade. Como o ódio divide as vontades, assim o amor as une; de sorte que duas pessoas se amam verdadeiramente quando uma quer o que a outra quer. “As almas fiéis a amar a Deus”, diz o sábio, “submetem-se a tudo o que ele quer” — Fideles in dilectione acquiescent illi (4). São João Crisóstomo diz que toda a perfeição de amor consiste na santa resignação à vontade de Deus. Quando uma alma faz morrer a sua vontade própria para não deixar viver senão a vontade de Deus, atinge o cimo da perfeição.
II. Há pessoas que fazem consistir a sua santidade em fazer muitas penitências, comungar muitas vezes, rezar muitas orações vocais; mas nisto não consiste a perfeição: consiste em submeter-se à vontade de Deus. Tudo o que o Coração de Jesus deseja de nós, é que cumpramos a vontade divina: “Meu filho”, diz ele, “dá-me o teu coração”, isto é, a tua vontade. Praebe, fili, cor tuum mihi (5). Mas nunca se poderá chegar a esta suprema felicidade senão por meio da oração mental e contínuas súplicas, com sincero desejo de ser sem reserva do Coração de Jesus.
Coração de meu amadíssimo Jesus, vossa ternura tem atrativos irresistíveis para arrebatar os corações. Ah! Tocai o meu pobre coração; ele também deseja apegar-se a Vós e viver nas suaves cadeias do vosso amor. Desde este momento, ó meu Jesus, deponho todos os meus interesses, todas as minhas esperanças, todos os meus afetos, a minha alma, o meu corpo, tudo, enfim, entre as mãos da vossa bondade; aceitai-me, Senhor, e de mim disponde segundo o vosso beneplácito.
Ó meu amor, não quero mais me queixar das disposições da vossa Providência; sei que, procedendo todas do vosso Coração tão terno, elas são sempre cheias de amor e vantajosas para mim. Basta que Vós as queirais; eu também as quero sem restrição no tempo e na eternidade. Ó vontade de meu Deus, quanto me sois cara! Quero viver e morrer estreitamente unido a Vós: o que Vos agrada, me agrada; os vossos desejos serão os meus desejos. Meu Deus, meu Deus, ajudai-me; fazei com que de ora em diante eu não viva mais senão para querer o que Vós quereis, para amar a vossa amável vontade. Quem me dera morrer por vosso amor, ó Vós que morrestes por amor de mim e Vos fizestes o meu alimento! Ó Maria, alcançai-me de vosso divino Filho uma perfeita conformidade com a vontade de Deus.
Referências:
(1) Hb 10, 5.
(2) Jo 6, 38.
(3) Jo 14, 31.
(4) Sb 3, 9.
(5) Pv 23, 26.
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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano Eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 405-407)
1 Comment
Valdimir Junior
Que Deus abençoe e conceda um lugar especial nos céus, aos administradores deste site. Obrigado irmãos, por esses textos!