“Não creio senão no que posso perceber pelos sentidos!” dizem alguns. Nossos cinco sentidos! Como nos orgulhamos deles! No entanto, como são fracos e limitados os sentidos do homem!
Estava eu certa vez, a meio dia, num campo. Bem alto lá acima, uma águia descrevia seus círculos … Repentinamente encolheu as asas, e como um raio se lançou à terra, perto de mim. Um segundo depois, já se alçava de novo às alturas — em seu bico levava a presa: um rato. Toda a cena se_ desenrolou ante meus olhos. O rato mantinha-se escondido perto de mim; a pesar da proximidade, não o percebi. A águia, porém, de altura vertiginosa o enxergou. E eu não quero crer senão naquilo que vejo? As formigas vêem os raios ultravioletas, imperceptíveis à vista humana…
As borboletas voam, horas a fio, duma margem dum lago à outra, atraídas unicamente pelo odor das flores que crescem nas margens. Que olfação fantástica deve possuir esses insetos, em comparação com o olfato do homem! E o cão, reparem, que faro…
“Creio apenas naquilo que vejo!”
O besouro voa de encontro à montanha, dizendo:
“Não há monte, não… não o vejo!”
O inseto não vê, de fato, a montanha. Sua vista não atinge o cume da gigantesca massa rochosa. Será que, por isso, o monte não existe?
Portanto, não devemos pensar do mesmo modo a respeito de Deus e dos transcendentes mistérios da religião? Não devo dizer que minha razão e meus limitados sentidos, perante essas verdades, não são mais do que besouros, corujas a piscar na luz do meio dia?!
Vivemos neste mundo como o príncipe encantado dos contos da Carochinha, preso por um feitiço a uma cadeira, em seu palácio dourado. Ele olha para a frente, olha para trás, através das brilhantes salas; suspeita apenas das riquezas nelas existentes; olhá-las de perto não pode.
Já ouviram o que diz o surdo? “Falam de sons? Não existem!” E o cego. “Cores? Lerias!” Nós, porém, sabemos que existem. E que maravilhosa escala de sons, que magnificência de cores! Assim mesmo, nosso ouvido é um órgão mui limitado! Consegue ouvir apenas onze oitavas, quando, segundo a física, devem existir milhares delas. Se o ar fizer 16 a 4O mil vibrações por segundo, percebemo-lo como som. Que serão, porém 😯 mil vibrações? Para isto já não basta nosso ouvido; falta-nos o órgão. De milhares e milhares de oitavas ouvimos apenas onze.
Se o éter fizer por segundo 111 a 365 bilhões de vibrações, sentimo-lo na nossa pele como calor; se forem 395 até 758 bilhões percebemo-lo com nossa vista como cor. De 395 bilhões de vibrações por segundo resulta a cor vermelha, de 758 bilhões a cor violeta. Entre esses extremos se encontra o número de vibrações das demais cores do arco-íris, em incontáveis graduações.
Contudo, que existe aquém das 395 e além das 758 bilhões de vibrações? Nada? Por que não? Há 380 e 900 bilhões de vibrações do éter, mas não para nossa vista. Nem podemos imaginar quanta mais colorido seria o mundo, se tivéssemos sentidos bastante apurados para percebê-lo!
Com os órgãos de que estamos dotados, podemos atingir apenas uma parte mínima do mundo real. Para a maior parte somos cegos e surdos.
Somos cegos, por exemplo, para os microscópicos bacilos. Prova? Perguntemos a uma homem do campo:
“Amigo, diga-me, que vê aqui no ar desta sala?”
“No ar? O senhor está sonhando? Aqui não há nada!”
“Nada? Fique sabendo que nele fervilham centenas de milhares de monstros! Toda a sala está repleta deles…”
A cara que ele faz, bem significa:
“Olhe, se me quiser fazer de tolo, está muito enganado!”
E, contudo, você é que tem razão, não é? O ar está repleto de milhões de seres que poderíamos ver — é um pouco estranho — se Deus nos tivesse criado com olhos de microscópio. Imagine-se o que poderíamos ver com tais olhos!
Compreendemos agora quão ridículo é dizer:
“Acredito só naquilo que vejo!”
Se o Criador não nos tivesse dado um órgão de olfação e gustação, não teríamos idéia de que existe cheiro e gosto sobre a terra.
O rei de Sião mandou aplicar, certa vez, bastonadas num europeu, porque este afirmava que na Europa no tempo do inverno a água ficava tão dura, que se podia andar por cima…
“Castiguem-no! Não nos julgue tão estultos que acreditemos o que está dizendo!”
Em Sião nunca se viu gelo?
E só por isso, segue-se que não existe gelo?
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(TOTH, Monsenhor Tihamer. Na linda natureza de Deus. Editora S. C. J., 1945, p. 159-162)