John (17O7-1778), conhecido na biologia das flores, é o fundador da botânica moderna. Todavia, pode ser que se desconheçam as palavras de entusiasmo com que venera o Criador em suas obras. Escreve, por exemplo, em uma passagem (na introdução de “O Sistema da Natureza”:
“Vi passar o eterno, o infinito, o onisciente e onipotente Deus, e fiquei estarrecido em pasmo”.
O químico Liebig (18O3-1873), numa conferência pública, profligou o desvirtuamento das ciências naturais que sonham a negação de Deus. Ele escreve (A Química e sua Aplicação):
“Em verdade, somente reconhecerá a infinita sabedoria do Criador, aquele que realmente faz questão de extrair seus pensamentos do grande livro a que chamamos natureza.”
De entre os químicos, basta citar Pasteur (1822-1895) que foi um dos católicos mais convictos. Quando certa vez um dos seus ouvintes lhe perguntou como podia permanecer católico crente, apesar de seus estudos, ele deu a magistral resposta:
“Exatamente, porque estudei muito, tenho uma fé como a de uma mulher bretã.” (É sabido que a Bretanha é a região mais religiosa da França).
“Volvamos nosso olhar para onde quisermos” reconhece Charles Lyell, professor da universidade de Oxford, geólogo (1797-1875), em sua obra Principies of Geology, “em toda parte descobrimos os sinais palpáveis duma inteligência criadora, sua previdência, sabedoria e poder”.
O naturalista francês Becquerel (1788-1878) escreve:
“Uma vida orgânica só poderia ter surgido de um solo, emergido da água. Como, porém, se processou a transição, da vida inorgânica para a orgânica? É segredo do Criador… Devemos admitir, inevitavelmente, a existência duma causa criadora, que se manifestou em determinado tempo, e parece estar ativa ainda hoje, conservando as espécies existentes.”
O húngaro Weszelszky, professor de universidade, termina sua obra sobre a radiação e teoria atômica com a seguinte profissão de fé:
“Quanto mais profundamente penetramos nos segredos da natureza, tanto mais claramente verificamos a perfeição com que, ainda nos menores detalhes, é construída a grande natureza. O próprio naturalista em suas investigações, não chega a resultado diverso do poeta que exclama: — Deus, ao qual o espírito atilado do sábio não pode abranger…” (Weszelszky, Rádio e Átomos, Budapest 1925).
Lavoisier (1743-1794), pai da química moderna, morreu sob a guilhotina, durante a Revolução Francesa, porque era convicto católico.
O inglês Dalton (1766-1844), que erigiu a teoria dos átomos, era, segundo seu biógrafo, “um modelo de virtude e religiosidade”.
O francês Cauchy (189-1857), foi chamado o maior matemático do século XIX. Maior, porém, do que seu labor, foi sua religiosidade. Num papel avulso, escrito em defesa dos colégios jesuítas franceses, faz a corajosa e consciente profissão de fé:
“Sou cristão, isto é, creio na divindade de Cristo, como Tycho Brahe, Copérnico, Descartes, Newton, Fernat, Leibnitz, Pascal, Grimaldi, Euler, Guldin, Boscovich, Gerdil; como todos os grandes astrônomos, todos os grandes matemáticos dos séculos passados. Sabei que minha convicção não se alimenta em preconceitos herdados com o leite materno; sabei que é de profundas investigações que ela provém. Sou católico convicto como o foram Corneille, Racine, La Bruyère, Bossuet, Bourdaloue, Fénelon; como o foram e ainda o são grande número dos mais célebres homens de nosso tempo, entre os quais há estrelas de primeira grandeza nas ciências exatas, na filosofia, na literatura, os mais belos ornamentos das nossas academias. Comungo da profunda fé que professaram em palavras, atos e escritos Ruffini, Haüy, Laennec, Ampere, Pelletier, Freycinet, Coriolis. Não cito vivos, a fim de não lhes melindrar a modéstia. Assim posso afirmar que encontrei toda a nobreza e toda a sublimidade da fé cristã nos meus amigos nas ciências”.
Quando Cauchy estava para morrer e lhe anunciaram que iria receber Viático, ordenou que a escada pela qual passaria Jesus Sacramentado, fosse ornada com as mais belas flores do seu jardim.
Não menos religiosos foram os grandes luminares da matemática: Gauss, Euler, Pfaff. Euler (1707-1783) dirigia pessoalmente a oração da noite em sua família, como rebrilha uma fé viva, na carta de Von Gauss, o maior matemático de todos os tempos, ao matemático húngaro Fakas v. Bolyai, em 1802:
“Agora adeus, meu amigo! Que te seja doce o sonho a que chamamos vida, como antegosto da verdadeira vida, que nos espera em nossa pátria real, onde o espírito ressurgido não será mais deprimido pelas cadeias de nosso moroso corpo, pelas peias do espaço, pelo látego dos sofrimentos terrenos, pela multidão de nossas mesquinhas necessidades e desejos. Levemos corajosamente sem queixas este nosso fardo até o fim, sem, no entanto, perder de vista nossa outra e máxima meta. Então, quando soar nossa última hora, ser-nos-á um prazer depor o fardo, e ver como desaparece dos nossos olhos o pesado véu”.
Poderia eu continuar a enumeração dos grandes nomes. Mas para que? Basta o número dos já citados, para destruir a afirmação de que sincera religiosidade e profunda ciência não se conciliam. Nem por sombra está a ciência em oposição com a fé. Os homens acima citados, verdadeiramente religiosos, eram também célebres sábios!
Se pois os maiores espíritos do mundo se in¬clinaram em profunda e sincera adoração diante de Deus, o crente não está em má companhia.
Quem ler esses nomes e datas chegará à seguinte conclusão:
“Quando o homem medíocre percorre as ruas iluminadas pela luz elétrica, comodamente sentado num bonde, quando conversa com seu amigo que se acha a grande distância e reconhece sua voz; quando telegrafa à Austrália, ultrapassando ó fugaz expresso e o célebre navio: quantas vezes — mesmo de posse dessas maravilhas ele contrai os lábios num sorriso compassivo, se a seu lado uma encarquilhada velhinha murmura seu terço, ou quando se fala do clero ou da Igreja… Quão facilmente está inclinado a apedrejar o passado e a declarar envelhecido e antiquado tudo aquilo que os séculos transcorridos nos deixaram como herança, sem excluir o próprio cristianismo! Assim, porém, raciocina somente a ignorância e a superficialidade que amam o comodismo. Porque o motejo não lhe fica bem. Os homens geniais a quem maximamente devemos as modernas conquistas, compenetraram-se da doutrina do cristianismo e a ela se submeteram; as hábeis mãos que trouxeram à luz do diabas forças ocultas da eletricidade, também se juntaram para a oração; e Volta e Ampère não se envergonharam do rosário. Para não nos lançarmos às demais secções da ciência, uma coisa afirmamos: no campo científico que primeiro prende o olhar do homem simples, a incredulidade não pode referir nenhum nome com cuja autoridade pudesse justificar a guerra declarada a Cristo.”
Mercê de uma pequena estatística, chegaremos a um resultado surpreendente:
Dennert enumera, em sua obra “A Religião dos Naturalistas”, 300 naturalistas, todos de primeira grandeza, desde os tempos mais antigos até os nossos dias, e investiga suas convicções religiosas. De 300 há 38, cujas convicções não pode determinar. Dos restantes 262, 242 eram crentes; 15, mais ou menos indiferentes e apenas 5 (2%) eram materialistas e ateus. Se doravante encontrarmos livros “populares” de ciências naturais, que negam os dogmas da religião e dão a entender que a moderna ciência é incompatível com a sincera e profunda religiosidade, lembremo-nos que a estatística encontrou entre os princípios dos naturalistas apenas 2% de ateus.
Concordo em que certos escritores de décima categoria queiram criar para suas obras um verniz “científico” de gritante negação da fé.
Os verdadeiros e grandes sábios, pelo contrário, eram crentes, ao passo que os sábios incrédulos (Vogt, Moleschott, Buechner, Haekel) o célebre Liebig denominou com razão “Vagamundos à margem da ciência”.
De quanto dissemos pode-se deduzir claramente que o ateísmo, a negação de Deus, não é obra da verdadeira ciência. De quem pois? Da falsa filosofia. Ele foi criado pelos pensadores que julgavam suficientes as leis da natureza, para dar solução aos grandes enigmas do mundo e cerravam os olhos ante o máximo problema. Verdade é que as leis explicam muita coisa, mas não está quem formulou essas leis, e quem possui um tão pasmoso poder, que lhe permita ditar leis aplicáveis a todo o mundo?
Tem razão o barão Eotvos:
“Toda a ciência humana nos leva ao império completo da razão sobre a vontade; a religião? Porém, relacionando-se com uma e outra, concilia ambas entre si. Por isso pode a religião substituir perfeitamente a ciência. Entre os mais simples cristãos podemos encontrar tão belos e numerosos exemplos de domínio de si mesmos e de inquebrantável fortaleza, como entre os heróis de Stoa… E que exatamente os homens eminentes têm necessidade especial de religião, visto serem eles os que primeiro sentem os estreitos limites de nosso espírito humano”.
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(TOTH, Monsenhor Tihamer. Na linda natureza de Deus. Editora S. C. J., 1945, p. 180-185)