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O cozido de couve

Na linda natureza de Deus

“Caramba! Se o Luís não merece agora uma surra, então nunca mais! O cozido que ele nos preparou para o jantar de ontem! Horrível! Comemo-lo, é verdade; pois, quando se tem fome de lobo não se faz luxo, mas, à noite! Horror! — Ainda agora me vem suor frio, quando me lembro. Sonhei que me enterravam vivo. Vi claramente como me deitavam no caixão, e me desciam na cova, e os torrões a caírem, produzindo um som abafado. Esperneio… grito… em vão. Os torrões caem e caem, e cada qual deles cai diretamente sobre meu estômago e o comprime. Por que exatamente ali? E como pesam! Não aguento mais… Agora berro: Socorro!! Estão-me matando!— Uma lanterna elétrica projeta um facho de luz no meu rosto, acordo vejo rostos espantados ao redor… Que aconteceu? — Nada! — No dia seguinte, porém, quis dar uma sova no cozinheiro. Justamente entrava o professor para vi¬sitar a cozinha. Assim ele ficou ciente de tudo”

“Agora, bem podem refletir sobre isso”, disse ele. “Não é tão simples a alimentação e a digestão, como muitos imaginam. Aparentemente não há nada mais simples do que engolir um gole d’água ou comer um cozido de couve. Contudo, se analisarmos o fato, veremos quão complicado é! Para se poder beber, o ar na boca deve diminuir e a cavidade bucal transformar-se, em bomba aspirante. E a deglutição! A alavanca do maxilar inferior e os músculos da mastigação não bastam. 32 dentes bem duros e esmaltados tornam-se precisos. Mas ainda não é suficiente. Também a língua deve contribuir. De quantos músculos não precisa estar munida, para executar os diferentes movimentos! Na sua parte posterior se localizam os nervos do gosto, cumprindo automaticamente, com excelentes conhecimentos de química, a tarefa de provar a substância! E ainda não basta! Acorrem mais três pares de glândulas salivares. É incrível a quantidade de saliva que elas segregam por dia.”

“Se não me engano, é mais ou menos um litro”, opinou alguém.

“Isso mesmo. A saliva não favorece apenas a digestão, serve ainda para combinar os sais. Sua primeira tarefa é tornar digeríveis os alimentos. Feito isso a massa assim preparada chega à ponta anterior da língua. Esta conduz o alimento, primeiro com a ponta, depois com a superfície, para trás, até o paladar, e em seguida para a faringe. Agora, porém, cuidado! O bolo alimentar deve penetrar no esôfago e nenhuma migalha na laringe! E nós não percebemos nada! Todo o complicado processo se realiza automaticamente. Por si mesmo? Não podemos dizê-lo. A ação sistemática conjunta da faringe, língua, dentes, lábios, glândulas, músculos, ossos, nos revela ainda mais clara a obra da sapiente Providência.”

Júlio tinha uma dificuldade:

“Já de há muito reflito sobre uma questão: O estômago consome tudo, não é verdade? Consome e decompõe toda a carne. Como é que não se consome a si mesmo?”
“Não é má a sua pergunta. Num vaso plúmbeo não se podem derreter soldadinhos de chumbo; numa vasilha de madeira não se pode acender fogo, senão se derrete ou queima o próprio vasilhame. E, todavia, o estômago que é de carne consome a carne e tudo o mais que nele penetra, sem que ele mesmo seja atacado.”

“Mas o cozido de couve do Luís, nem mesmo meu estômago de avestruz foi capaz de digerir! Não tinha razão de me queixar?”

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(TOTH, Monsenhor Tihamer. Na linda natureza de Deus. Editora S. C. J., 1945, p. 95-97)