Mesmo na vida cotidiana, há inúmeras coisas nas quais apenas “acreditamos”, sem as “saber”; e se alguém não as acreditasse, não poderia dar um passo na vida.
Sabe você, por exemplo, quem são seus pais e seus irmãos? “Naturalmente que sei”! E contudo você não o “sabe”, acredita-o porque lho disseram desde a mais tenra idade, pois sabê-lo certificar-te disso, não é de sua competência.
Vem você pela primeira vez à escola. O professor escreve uns sinais no quadro-negro e diz ser isto um “a”, aquilo um “o”; e a gente acredita que é assim.
Agora você volta faminto da escola e servem-lhe uma boa sopa quente. Acaso você sabe que ela não está envenenada? Não o sabe, mas acredita que a cozinheira não é uma criminosa.
A batalha das Termópilas ocorreu no século V antes de Cristo, o Vístula banha Cracóvia, Sandomir, Varsóvia e desemboca no mar Báltico; o Japão compõe-se de quatro grandes ilhas: Nipon, Sicoco, Quiuciu e Ieso. Você “sabe” tudo isso? Não; apenas “acredita” ser assim.
No estudo da história, acredita-se em tudo, do princípio ao fim, porque não se pode ser testemunha ocular desses episódios. Também a maior parte da geografia apenas se acredita. Quanta coisa cremos, já na vida diária! O filho tem fé nos pais, estes acreditam nos filhos e que cruciante dor para o coração dum rapaz, se notar que os pais já não se fiam dele!
Fcchner, o célebre físico do século passado, ensina ainda mais claramente:
“Qualquer ciência histórica supõe a fé na veracidade das fontes; todo nosso saber empírico exige a confiança de que outros viram perfeitamente e que dizem apenas aquilo que viram… Que restaria de toda a ciência, cessando a fé? Prive-se a ciência dessa fé e toda a sabedoria ruirá por terra.”
Sim, mesmo na vida de todos os dias necessitamos, a cada passo, da fé, o historiador acredita nas fontes, o juiz nas testemunhas, o doente tem fé no médico, o aluno no professor. Se, pois, nas ciências precisamos “acreditar” em tanta coisa não nos devemos admirar que na religião ocorra o mesmo, visto que sua essência não pode ser abrangida pela pequena e limitada razão humana!
Um ou outro leitor dirá:
“É verdade, nunca vi a Europa, mas creio que existe, pois, homens que a viram o afirmam. Do mesmo modo, os demais fatos científicos, acredito-os porque pessoas dignas de fé o asseveram.”
Quem assim pensa, está com a razão. Também eu afirmo que devemos dar fé unicamente a fontes de toda a confiança a testemunhas que podem e querem transmitir a verdade.
Com a fé religiosa dá-se o mesmo! Ela encerra dogmas incompreensíveis à nossa razão. Por que cremos pois? Porque sua veracidade é assegurada por uma testemunha que tudo sabe a cuja palavra é a própria verdade: Jesus Cristo.
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(TOTH, Monsenhor Tihamer. Na linda natureza de Deus. Editora S. C. J., 1945, p. 155-156)