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Sentença do Supremo Juiz

Meditação para a Quinta-feira da 1ª Semana do Advento. Sentença do supremo Juiz

Meditação para o Quinta-feira da 1ª Semana do Advento

Sumário

Meditaremos hoje:

1.° A sentença do supremo juiz a favor dos bons;

2.° A sua sentença contra os maus;

3.° As consequências desta dúplice sentença.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De viver tão santamente que mereçamos ser admitidos entre os escolhidos:

2.º De vigiar com este intuito as nossas ações, palavras e intenções, perguntando a nós mesmos muitas vezes: É desta maneira que obrariam, que pensariam, que falariam os santos? Conservaremos como ramalhete espiritual a oração da Igreja:

“Lembrai-vos, ó bom Jesus, que foi por mim que viestes a este mundo: não me condeneis no dia de vossas justiças” – Recordare, Jesu pie, quod sum causa tuae viae: ne me pardas illa die (Estrofe do Dies irae)

Meditação do Dia

Transportemo-nos pelo pensamento ao juízo final, a essa cena tão consoladora para os escolhidos, como tremenda para os réprobos. Vejamos o justo Juiz sentado no seu tribunal; prostremo-nos a Seus pés e ren­damos-Lhe a nossa adoração, vassalagem e submissão; ouçamo-Lo com respeito proferindo a Sua sentença definitiva.

PRIMEIRO PONTO

Sentença a favor dos Escolhidos

Não conhecemos esta sentença:

Vinde, benditos de meu Pai, vinde tomar posse do reino que vos está preparado desde o princípio do mundo (Mt 25, 34)

Vinde! Consoladora palavra para a alma justa! Vinde do trabalho para o descanso, das perseguições para a recompensa, das misérias da terra para as delicias do céu. Vinde a mim, a quem seguistes, desejastes, e amastes; a mim, o vosso Deus, o vosso último fim, o vosso supremo bem; fostes por causa de mim e como eu odiado, perseguidos, amaldiçoados dos homens; sereis agora os benditos de Deus: meu Pai abençoa-vos, o céu abençoa-vos, sois abençoados para sempre, e esta benção vos assegura a felicidade eterna. Tomar posse do reino que vos está preparado desde o princípio. Um reino preparado por um Deus! Isto é, a soberania, a glória, a riqueza, os prazeres, porque um rei tem tudo isto; um reino preparado desde o principio! Isto é, ó meu Deus, que desde toda a eternidade pensastes em mim, desde toda a eternidade me amastes; reservastes-me os mais magníficos destinos, e me será concedido nesse dia subir a um trono para dali julgar as nações. Por conseguinte, ó alma minha, serão exaltados os que agora são humildes; serão glorificados os que tiverem anteposto o dever aos discursos e às opiniões dos homens; e como o ouro puro nunca é mais brilhante do que quando se tira do centro da terra, onde estava encerrado, eles aparecerão com Jesus Cristo na glória (1). Oh! Quão próprios são estes pensamentos para electrizar os ânimos, e fazer amar a humildade, a pobreza, a simplicidade, a obediência!

SEGUNDO PONTO

Sentença contra os Réprobos

Depois da sentença a favor dos escolhidos, o supremo Juiz, voltando-se para a esquerda, lançará aos réprobos uma dessas terríveis vistas, de que David pôde dizer: A terra tremeu; os seus fundamentos foram abalados; porque o Senhor olhou para ela. Retirai-vos de mim, malditos! Lhes dirá. Ai! Meu Deus, onde irão eles longe de vós? Que será deles sem vós ? Que será deles amaldiçoados por vós, amaldiçoados no seu corpo, amaldiçoados na sua alma e em todas as suas faculdades? Ide para o fogo: oh meu Deus, que suplício! Paro o fogo eterno: oh meu Deus, que desesperação! E esta tremenda sentença é sem apelação; já não há recurso para estes desgraçados; a sua sorte está fixada definitivamente… Ah! Se os homens nisto pensassem! (2) Aquele a quem não acorda este trovão, não dorme, diz Santo Agostinho, está morto (3).

TERCEIRO PONTO

Execução da Dúplice Sentença

O supremo Juiz, levantando a sessão, sobe aos céus. Todos os seus santos o seguem e lhe formam um glorioso cortejo. Elevam-se radiantes, triunfantes, e fazem ressoar nos ares os cânticos da vitória e da felicidade (1 Ts 4, 16). Testemunhas deste magnifico espetáculo, os réprobos ficam consternados. Oh! Quanto desejariam seguir tantos conhecidos, parentes, amigos! Mas, ó cruel separação! É necessário deixá-los… deixai-os para sempre… dizer-lhes um último e pungente adeus. Adeus, pais cristãos, amigos religiosos, cujos conselhos e exemplos eu não quis seguir; adeus, mãe extremosa, cuja companhia era tão doce, cujo coração era tão terno; adeus, santos anjos; adeus, todos os santos; adeus Maria, que me haviam tanto recomendado que amasse e honrasse; adeus, Jesus, que tanto fizestes para me salvar, adeus, formoso céu, paraíso de delícias, que me estáveis destinado, e do qual me tornei indigno; adeus, Trindade Santíssima, o meu princípio e o meu fim! (4). Ai! EIe não pode já continuar estas lamentáveis despedidas: a terra falta-lhe debaixo dos pés, o inferno abre-se, cai nele, e o abismo fecha-se. O tempo terminou, a eternidade começa… Assim passará o último dos dias; assim acabará o mundo. Ó meu Deus, qual será a minha sorte nesse grande dia? Em que pensarei, se nisto não pensar? E onde está a minha fé, a minha razão, se nisto penso, e não tremer, não me emendar, não me tornar um santo?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Cum Christus apparuerit, vita vestra, tunc et vos apparebitis cum ipso in gloria (Cl 3, 4)

(2) Utinam saparent, et intelligerent, ac novissima providerent (Dt 32, 29)

(3) Non dormit, sed mortuus est

(4) Vale, o paradise voluptatis! Vale, cruz pretiosa! Vale, Jesu! Vale, Maria! Valete, omnes angeli! Valete, omnes sancti! (Santo Efrém, Serm. de Jud.)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 38-42)