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Glória de Deus pela Encarnação

Meditação para a Quarta-feira da 2ª Semana do Advento. Glória de Deus pela Encarnação

Meditação para Quarta-feira da 2ª Semana do Advento

Sumário

Meditaremos hoje a glória que traz a Deus o mistério da Encarnação. A glória de Deus consiste na manifestação exterior das suas infinitas perfeições: ora nós veremos que a Encarnação faz sobressair admiravelmente:

1.° O poder de Deus, unido a uma justiça e bondade infinitas;

2.° A misericórdia de Deus, unida a uma justiça e santidade infinitas.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De pedir muitas vezes a Deus um conhecimento sempre maior das Suas perfeições, para O amar sempre mais;

2.° De honrar as perfeições divinas com frequentes atos de amor acompanhados de uma profunda devoção, principalmente no lugar santo e na oração.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de São João:

“O verbo se fez carne … e nós vimos a sua glória” – Verbum caro factum est… et vidimus gloriam ejus (Jo 1, 14)

Meditação para o Dia

Adoremos a Deus enviando os Seus anjos a anunciar ao mundo a Encarnação do Verbo com estas belas palavras: Glória a Deus no mais alto dos céus! Repitamos estas palavras com convicção e amor; porque em nenhuma parte as perfeições divinas sobressaem mais do que neste mistério.

PRIMEIRO PONTO
Como é que a Encarnação faz sobressair em Deus união do poder, da sabedoria e da bondade

Com efeito, que inefável poder não foi necessário a Deus para unir na unidade de pessoa a Sua suprema majestade e a nossa humildade, a soberana independência e a nossa escravidão, a força que tudo pode e a fraqueza que nada pode! Que poder não foi necessário para consumar esta união, como a fé no-la mostra, identificar no Verbo a nossa natureza sem alterar a sua, e a forma de escravo sem diminuir a de Deus, para abaixar a majestade do ser divino até nós, sem que seja menos elevado, despojá-lo sem o empobrecer, abatê-lo sem o fazer decair, e tornar a divindade visível sem a tornar menos adorável! É esta na verdade, Senhor, a obra prima da Vossa onipotência, ou antes é a Vossa obra por excelência, diante da qual nada são todas as vossas obras (1). E, coisa não menos admirável, ao poder junta-se aqui uma sabedoria infinita que, para nos perdoar, concilia ao mesmo tempo os direitos aparentemente incompatíveis da justiça e da misericórdia: e que, para nos curar, opõe aos nossos males os remédios mais convenientes: à nossa soberba, a humildade de um Deus; à nossa sensualidade, os sofrimentos de um Deus; ao nosso horror da morte, a morte de um Deus. Ó divina sabedoria, quanto vos venero neste mistério! (2) — E todavia, a bondade de Deus nele sobressai ainda melhor. É possível uma bondade mais admirável do que a que faz descer um Deus até à nossa baixeza? É o monarca que vem misturar-se com os seus súditos para se fazer mais amar deles; é o bom pai, que desce até balbuciar com os seus filhinhos para os instruir na vida do homem perfeito; é o bom pastor, que se cobre com a lã das suas ovelhas para as atrair a si. Ó Verbo Encarnado, Vós vindes fazer-Vos um de nós, habitar e conversar conosco, viver a nossa vida, abatendo a Vossa majestade para a tornar mais familiar, restringindo a Vossa imensidade para no-la comunicar mais. Ó bondade divina! Ó bondade infinita! Que outra cousa se pode dizer? (3) Ah ! Senhor, eu deveria morrer de amor à vista de tanto amor.

SEGUNDO PONTO
Como a Encarnação faz sobressair em Deus a Santidade, a Justiça e a Misericórdia

Que é a santidade senão o extremo ódio ao pecador? Ora Deus em nenhuma parte mostra melhor do que neste mistério quanto detesta o pecado. Persegue até a sombra dele em seu próprio Filho, e isto com rigor sem igual. Cobre de chagas, de dores, de ignomínias esse Filho amado; tira-lhe todo o sangue das veias, e fá-lo morrer; não vê nele senão um anátema, um objeto de maldição, só porque se responsabilizou pelos nossos pecados; e fere-o sem misericórdia. Ó meu Deus, quão santo Sois! Quanto detestais o pecado e quanto não devo eu mesmo detestá-lo! Porque, se assim tratastes o vosso Filho, como me tratareis a mim, pecador por natureza e por malícia? (4). Ó santidade de Deus, eu tremo diante de Vós. — Não tremeria menos diante da Vossa justiça, Senhor, se pela Vossa Encarnação não tivésseis tomado a minha dívida a Vosso cargo: porque, obrigado pelos mais pecados a uma reparação infinita, eu era evidentemente um devedor insolvente. Mas eis queencarnando pagastes superabundantemente o preço da minha redenção; e o Vosso Pai, exigindo-o, mostrou ao céu e à terra que é infinita a Vossa justiça, pois que não quis perdoar-me menos de uma satisfação igual à ofensa. Ó justiça mais alta do que os montes, mais profunda do que os abismos! O sangue de Jesus Cristo satisfez-Vos plenamente: nada mais tendes a exigir; e o inferno mesmo seria uma satisfação infinitamente menor. É esta a obra da Vossa misericórdia, ó meu Deus: éreis o ofendido, e sois Vós que reparais a ofensa; fazeis-Vos vítima em meu lugar, e sofreis o castigo que me era devido. Ó misericórdia, ó justiça, Vós dais uma à outra o ósculo de paz; formais ambas uma aliança inefável, que obrigará todos os séculos a dizer em um êxtases de fé e de amor: Sim, na verdade, Deus é infinitamente justo, infinitamente misericordioso! Porque pois, ó meu coração, ficas tu insensível diante de tão grande mistério? Porque adorar tão pouco esta justiça, porque amar tão pouco esta misericórdia?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Domine, opus tuum (Habac., cant. 2)
(2) Sapientiam in mysterio quae est abscondita (1Cor 2, 7)
(3) Sic Deus dilexit mundum! (Jo 3, 16)
(4) Si in viridi ligno haec faciunt, in arido quid fiet? (Lc 23, 31)

 

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 60-63)