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Fazer cada ação como se tivesse de ser a última da vida

Meditação para a Sétima Terça-feira depois de Pentecostes. Fazer cada ação como se tivesse de ser a última da vida

Meditação para a Sétima Terça-feira depois de Pentecostes

SUMARIO

Meditaremos sobre outro meio de fazer bem as nossas ações, que é fazer cada uma delas como se tivesse de ser a última da nossa vida; e veremos:

1.° Que nada há mais prudente;

2.º Nada há mais útil.

— Tomaremos a resolução:

1.° De perguntarmos a nós mesmos, antes de cada ação, segundo o conselho de São Bernardo:

Se tivesses de morrer depois desta ação, a farias tu, e como a farias?

2.º De nos conservarmos sempre no estado, em que quiséramos achar-nos na hora da morte.

O nosso ramalhete será a palavra de São Bernardo:

“Se tivesses de morrer dentro em poucos instantes, farias isto ou aquilo?” – Si modo moriturus esses, an hoc vel istud faceres?

Meditação para o Dia

Adoremos Jesus Cristo convidando-nos no Evangelho a estar sempre prontos para morrer.

“Bem- aventurado aquele servo, diz Ele, a quem o seu senhor encontrar nisto ocupado, quando vier” – Beatus ille servus quem, cum venerit dominus ejus, invenerit sic faccientem (Mt 34, 46)

Imploremos-Lhe a graça de nos aproveitarmos bem deste convite.

PRIMEIRO PONTO

Quão prudente é fazer cada ação como se tivesse de ser a última da vida

Nada há mais incerto que o momento da morte. A morte há de chegar, diz Jesus Cristo, quando menos se esperar; virá de improviso, como um ladrão costuma vir de noite (1). Ora, neste estado de incerteza, que nos diz a prudência senão que devemos a todo o momento viver e obrar como tendo de morrer no momento seguinte?

“Ditoso e prudente aquele que, a cada momento da sua vida, procura ser tal qual deseja ser achado na sua morte” – Quam felix et prudens qui talis nunc nititur esse in vita qualis optat inveniri in morte! (1 Imitação 23, 4)

Se o Pai de família pudesse saber a que hora virão os ladrões, estaria vigiando a essa hora determinada, diz Jesus Cristo, para os impedir de entrar em sua casa; mas porque a ignora, esta continuamente precavido. Do mesmo modo, ó meu Deus! Nos tendes ocultado a hora da nossa morte para nos induzir a passar cada dia como o último e a fazer cada ação como a última (2). Não há que diferir de dia para dia; não se deve dizer: Viverei melhor, quando tiver concluído esta coisa: que me prende a atenção, quando tiver saído de certo embaraço; é mister viver e obrar como se tivéssemos de morrer esta noite, porque talvez isso aconteça. Talvez também não aconteça; mas em coisa tão grave como é a salvação, a prudência exige, que se não confie em um talvez, e se não arrisque assim a vida eterna.

“Todos os dias, dizia Jó, estou esperando o momento da minha morte; vós me chamareis, Senhor, e eu Vos responderei” – Cunctis diebus… expecto donec veniat immutatio mea. Vocabis me, et ego respendebo tibi (Jó 14, 14)

São Francisco de Borja ia mais longe: recomendava aos seus religiosos que se pusessem vinte e quatro vezes ao dia nas disposições de um homem que vai morrer, e fizessem cada coisa como tendo de dar conta a Deus logo depois.

Imitamos nós os Santos nesta maneira de proceder?

SEGUNDO PONTO

Quanto é útil fazer cada ação como se tivesse de ser a última

É este um meio infalível de fazer perfeitamente cada coisa. Com efeito, com que fervor havíamos de orar, se soubéssemos que é esta a nossa última oração, depois da qual não teríamos mais ocasião de pedir perdão a Deus a de implorar a Sua misericórdia? Com que perfeição faríamos a confissão, que soubéssemos ter de ser a última, e a comunhão depois da qual nos seria preciso expirar? Se um anjo de Deus tivesse vindo dizer-nos esta manhã, que morreremos esta mesma tarde, como santificaríamos o dia! Como seriam santas todas as nossas ações, irrepreensíveis todas as nossas palavras, piedosos todos os nossos pensamentos, puros todos os nossos desejos, bem empregados todos os nossos momentos! Eis aqui porque o autor da imitação nos diz:

“Deveríeis conservar-vos em todos os vossos atos e pensamentos como se tivésseis de morrer imediatamente” – Sic te in omni facto et cogitatu deberes tenere, quasi statim esses moriturus (1 Imitação 23,1)

E ele acrescenta:

“Pensai de manhã que talvez não chequeis à tarde, e à tarde que talvez não chequeis até de manhã” (1 Imitação 23, 3)

Este modo de obrar é ainda um meio de conhecer o estado da nossa alma e de ver o que há em nós que devamos corrigir. Perguntemos a nós mesmos: Se tivesse de morrer hoje, o que é que me causaria peso na minha consciência? Faria o que faço, e fá-lo-ia como o faço? Se a estas perguntas, a consciência responde avisando-nos de alguns defeitos, obedeçamos de pronto ao seu aviso; se nada acharmos que nos inquiete tranquilizemo-nos e tenhamos confiança. O feitor que tem as suas contas correntes não receia a visita do amo.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Sicut fur in nocte, ita veniart (1Ts 5, 2)

(2) Latet ultimus dies ut observentur omnes dies

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 283-285)