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Meditação para a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora

Dom Henrique Soares da Costa
Por Dom Henrique Soares da Costa

Hoje celebramos a maior de todas as solenidades da Mãe de Deus: a sua Assunção gloriosa ao Céu.

A oração inicial da Missa hodierna pediu:

“Deus eterno e todo-poderoso, que elevastes à glória do Céu em corpo e alma a imaculada Virgem Maria, Mãe do Vosso Filho, dai-nos viver atentos às coisas do Alto, a fim de participarmos da sua glória”

A Liturgia da Igreja, sempre tão sábia e tão sóbria, resumiu aqui o essencial desta solenidade santíssima. Com efeito, Deus elevou à glória do Céu em corpo e alma a imaculada Virgem Maria! Ela, uma simples criatura, ela, tão pequena, tão humilde, foi eleva a Deus, ao Céu, à plenitude em todo o seu ser, corpo e alma!

Como isso é possível? Não é a morte o destino comum e final de tudo quanto vive? Isso dizem os pagãos, isso dizem os descrentes, os sábios segundo o mundo, aqueles que não têm esperança em Cristo Jesus, os que se conformam com a morte…
Mas, nós, nós sabemos que não é assim! Nosso destino é a Vida, nosso ponto final é a Glória no Coração de Deus: glória no corpo, glória na alma, glória em tudo que somos! Foi isso que Deus nos preparou por meio de Cristo Jesus, nosso Senhor – bendito seja Ele para sempre!

Mas, repetimos, insistimos: como isso é possível?
A Palavra de Deus deste hoje no-lo afirma, de modo admirável. Escutai, irmãos, escutai, irmãs, consolai-vos todos vós:

“Cristo ressuscitou dos mortos, primícia dos que morreram. Em Cristo todos reviverão, cada qual segundo uma ordem determinada; em primeiro lugar Cristo, como primícia!”

Eis por que, eis como ressuscitaremos: Cristo ressuscitou!
Jesus de Nazaré, feito humano como nós, caríssimos, imolado por nós e, por nossa causa, ressuscitado, agora é o Senhor!
O nosso Jesus é Deus bendito e foi ressuscitado pela Glória do Pai!
O nosso Senhor Jesus venceu e nos faz participantes da Sua vitória, dando-nos o Seu Espírito Santo!
Credes nisto, meus caros? Neste mundo que só crê no que vê, que só leva a sério o que toca, que só dá valor ao que cai no âmbito dos sentidos, credes que Cristo está vivo e é Senhor, primícia, princípio de todos os que morrem unidos a Ele?
Pois bem, escutai: o Cristo que ressuscitou, que venceu, concedeu plenamente a Sua vitória à Sua Mãe, à Santíssima Virgem Maria, que esteve sempre unida a Ele.

Ela, totalmente imaculada, nunca afastou-se do filho: nem na longa espera do parto, nem na pobreza de Belém, nem na fuga para o Egito, nem no período de exílio, nem na angústia de procurá-Lo no Templo, nem nos anos obscuros de Nazaré, nem nos tempos dolorosos da pregação do Reino, nem no desastre da Cruz, nem na solidão do sepulcro no Sábado Santo… Nem mesmo após, nos dias da Igreja, quando discretamente, ela permanecia em oração com os irmãos do Senhor… Sempre imaculada, sempre discípula perfeita, sempre perfeitamente unida ao Senhor! Assim, após a sua preciosa morte, ela foi elevada à glória do Céu, isto é, à glória de Cristo que ressuscitou e é primícia da nossa ressurreição!

A presente solenidade é, então, primeiramente, exaltação da glória do Cristo: Nele está a Vida e a ressurreição; Nele, a esperança de libertação definitiva! Por isso, todo aquele que crê em Jesus e é batizado no Seu Espírito Santo no sacramento do Batismo, morrerá com Cristo e com Cristo ressuscitará. Imediatamente após a morte, nossa alma será glorificada e estaremos para sempre com o Senhor. Quanto ao nosso corpo, será destruído e, no final dos tempos, quando Cristo nossa vida aparecer, será também ressuscitado em glória e unido à nossa alma. Será assim com todos nós.

Mas, não foi assim com a Virgem Maria! Aquela que não teve pecado também não foi tocada pela corrupção da morte! Imediatamente após a sua passagem para Deus, ela foi ressuscitada, glorificada em corpo e alma, foi elevada ao Céu! Podemos, portanto, exclamar como Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres! Bendito é o fruto do teu ventre! Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu!” Inundada da Glória do Cristo Jesus, cumpre-se em Maria Virgem, de modo admirável, a palavra da Escritura Santa:

“Fiel é esta palavra: se com Ele morremos, com Ele viveremos; se com Ele sofremos, com Ele reinaremos!” (2Tm 2,11)

Quem mais plenamente morreu com Cristo naquela Cruz? Que mais perfeitamente sofreu com o Senhor naquela Paixão? Pedro, crucificado de cabeça para baixo? Paulo, decapitado? Lourenço, queimado vivo? Inácio de Antioquia, devorado pelas feras? Benditos todos esses e todos quantos morreram pelo Senhor! Mas, somente a Virgem sofreu com Ele como mãe: Mãe do Condenado, Mãe do Crucificado, Mãe do Homem de Dores, Mãe Daquele que pendeu na dura Cruz! A Ele perfeitamente unida na dor – Virgem das Dores na Paixão, Virgem da Piedade com o filho morto nos braços, Virgem da Soledade no tremendo Sábado Santo -, ele é, agora, Virgem da Glória, totalmente transfigurada na Glória do seu filho glorificado! A Palavra do Senhor não engana, não mente:

“Se com Ele sofrermos, com Ele reinaremos; se com Ele morrermos, com Ele viveremos!”

Reina com Ele a Virgem que com Ele sofreu! Vive com Ele a Mãe santíssima que com Ele morreu na sua maternidade naquele Calvário tremendo!

Esta é, portanto, a festa de plenitude de Nossa Senhora, a sua chegada a Glória, no seu destino pleno de criatura. Nela aparece claro a obra da salvação que Cristo realizou! Ela é aquela Mulher vestida do sol, que é Cristo, pisando a instabilidade deste mundo, representada pela lua inconstante, toda coroada de doze estrelas, número da Israel e da Igreja! A leitura do Apocalipse mostra-nos tudo isso; mas, termina afirmando:

“Agora realizou-se a salvação, a força e a realeza do nosso Deus e o poder do Seu Cristo!”

Eis: a plenitude da Virgem é realização da obra de Cristo, da vitória de Cristo nela!

Caríssimos, quanto nos diz esta solenidade! A oração inicial, citada no início desta homilia, pedia a Deus:

“Dai-nos viver atentos às coisas do Alto, a fim de participarmos da sua glória”

Eis aqui qual deve ser o nosso modo de viver: atentos às coisas do Alto, onde está Cristo, onde contemplamos a Virgem já totalmente glorificada em Cristo.

Caminhar neste mundo sem no prendermos a ele… Aqui somos estrangeiros, aqui estamos de passagem, aqui somos peregrinos; lá é que permaneceremos para sempre: nossa pátria é o Céu, onde está Cristo, nossa Vida!

O grande mal do mundo atual é entreter-se com suas malditas ideologias, com seu consumismo, com sua tecnologia, com seu bem-estar, com seu divertimento excessivo e esquecer de viver atento às coisas do Alto. Mas, pior ainda, os cristãos também muitas vezes são infectados por essa doença! Nós, que deveríamos ser as testemunhas do Mundo que há de vir, quantas vezes vivemos imersos, metidos somente nas ocupações deste mundo – muitos até com o pretexto de que estão trabalhando pelos irmãos e por uma sociedade melhor. Nada disso! Os pés devem estar na terra, mas o coração deve estar sempre voltado para o Alto! Não esqueçamos: nosso destino é o Céu, participando da Glória de Cristo, da qual a Virgem Maria já participa plenamente! Aí, sim, poderemos cantar com ela e como ela:

“A minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador: o poderoso fez em mim maravilhas!”

Ele, que glorificou a Virgem Imaculada e haverá de nos glorificar, seja bendito agora e para sempre. Amém.

***

O que é o Dogma da Assunção de Nossa Senhora?

Segundo o Papa Pio XII, na Constituição Apostólica Munificentissimus Deus parágrafo 44, temos como definição:

“Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito de verdade, para glória de Deus onipotente que à virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos s. Pedro e s. Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial”