Por Dom Henrique Soares da Costa
A Palavra de Deus deste Domingo do Tempo Pascal recorda-nos um fato histórico tremendo, ao mesmo tempo misterioso e doloroso: os judeus, povo a quem fora prometido o Messias, povo que esperou o Messias, não acolheu esse Messias! E tudo terminou num desastre:
“Vós rejeitastes o Santo e o Justo. Vós matastes o Autor da Vida. Vós O entregastes e O rejeitastes diante de Pilatos”
Eis, caríssimos: misteriosamente o Povo de Deus do Antigo Testamento não foi capaz de reconhecer o Messias que lhe fora enviado e o entregou a Pilatos, que O mandou crucificar.
Não culpemos os judeus. A própria Palavra do Senhor afirma:
“Eu sei que agistes por ignorância, assim como vosso chefes. Deus, porém, cumpriu desse modo o que havia anunciado pela boca de todos os profetas: que o Seu Cristo haveria de sofrer”.
Que mistério, amados irmãos: na rejeição dos judeus, que terminou levando Cristo à cruz, o plano de Deus estava sendo cumprido! O próprio Senhor ressuscitado afirma a mesma coisa no Evangelho de hoje:
“Assim está escrito: ‘O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia, e no Seu Nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações”.
Mas, por que deveria ser assim?
Por que o plano de Deus deveu passar pela Cruz, tão feia, tão humilhante, dolorosa e sofrida?
Com piedade e unção, procuremos contemplar um pouquinho tão grande e santo mistério.
A Cruz fazia parte do plano de Deus, caríssimos, primeiramente porque nela se manifesta o que o pecado fez com o homem, do que o homem pecador se tornou capaz: de matar Deus e se desgraçar. A humanidade pecadora – esta, que vemos hoje – de tal modo fechou-se para Deus que O está matando continuamente, de tantos modos, em tantos lugares e situações: Deus vai sendo erradicado de nossas leis, de nossas instituições, de nossas famílias, da nossa cultura, de nossas escolas, do nosso dia-a-dia… Desde o início da história temos matado Deus, renegando-O, desobedecendo-O, colocando-O em último lugar… Mas, quando fazemos isso, nos destruímos, nos desfiguramos, edificamos a nossa vida pessoal e social sobre a areia.
Na Cruz de Jesus Deus nos mostra isso: a gravidade do nosso pecado, o desastre que é fechar-se para o Senhor. Num mundo que brinca com o pecado e já não leva a sério a gravidade de pecar, olhemos a Cruz e veremos o que nosso pecado provoca!
Isto mesmo: é contemplando o Homem de Dores, pendurado à dura cruz, que compreendemos a gravidade, o desastre do pecado para a humanidade e para o mundo! Não deixará nunca de impressionar a frase de São Pedro na primeira leitura de hoje:
“Vós matastes o Autor da Vida!”
– Eis! Com o nosso pecado, matamos Aquele que é a própria Vida, o próprio sentido, o próprio alicerce da existência neste mundo e na Eternidade!
Mas, a Cruz revela também, com toda a força, até onde Deus é capaz de ir por nós: Ele é capaz de Se entregar, de dar Sua vida por nós! No Filho feito homem de dores, humilhado e derrotado, nós podemos compreender o quanto somos amados por Deus, o quanto Ele nos leva a sério, o quanto é capaz de descer para nos procurar! Contemplemos a Cruz e sejamos gratos a Deus que Se entrega assim!
– Nós Vos adoramos, Vos agradecemos, Vos proclamamos, Vos bendizemos, ó Cristo, Deus Santo, porque na Vossa Santa Cruz mostrastes todo o Vosso amor por nós e pelo mundo inteiro, na Vossa santíssima Cruz remistes este mundo, remistes a mim e a cada um de nós!
Finalmente, a cruz revela a estupenda, desconcertante, fidelidade de Deus: nela descobrimos o verdadeiro Nome do nosso Deus. E o Seu Nome é Fidelidade, o Seu Nome é Amor.
Primeiramente, fidelidade e amor do Pai em relação ao Filho. Ao Filho amado que Se entregou amorosamente ao Pai por nós, Deus-Pai O ressuscitou e deu-Lhe toda Glória. É o que anuncia a primeira leitura de hoje:
“O Deus de nossos Pais glorificou o Seu Servo Jesus. Vós matastes o Autor da Vida, mas Deus O ressuscitou dos mortos!”
Que mistério, meus irmãos! O Filho entregue ao Pai com toda a confiança e todo o abandono, o Filho, feito homem de dores, agora é glorificado pelo Pai e colocado no mais alto da Glória. Jesus, que na Cruz Se entregou totalmente ao Pai, agora aparece totalmente glorificado pelo Pai. Deus jamais abandona os que a Ele se confiam.
Podemos imaginar o Senhor dizendo as palavras do Salmo de hoje:
“Eu tranquilo vou deitar-Me e na paz logo adormeço, pois só Vós, ó Senhor Deus, dais segurança à Minha vida!”
Jesus adormeceu no sono da morte certo de que o Pai O despertaria para a Vida da Glória! Sim, o Pai é Fidelidade, o Pai é Amor! Mas, é também fidelidade e amor para conosco. Tudo quanto aconteceu com o Filho na Cruz foi por nós, para nossa salvação, para que o nosso pecado, a nossa situação de miséria, encontrasse expiação. Eis como a Palavra de Deus deste hoje insiste nisso:
“Se alguém pecar, temos junto do Pai um Defensor: Jesus Cristo, o Justo. Ele é a vítima de expiação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro”
E o próprio Jesus afirma no Evangelho que “no Seu Nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações”. Meus caros em Cristo, na Cruz e Ressurreição do Senhor, Deus, amorosamente nos concedeu o perdão dos pecados!
Então, que temos de fazer para corresponder a tanto amor, a tão grande graça? Três coisas:
Primeira: crer em Jesus, o Enviado do Pai, que por nós morreu e ressuscitou:
“Convertei-vos para que os vossos pecados sejam perdoados!”
Quem crer em Jesus, quem diante Dele reconhecer-se pecador e o acolher como o Salvador e Nele colocar a vida, Nele encontrará o perdão que vem pela cruz e a ressurreição.
Segunda coisa: viver na Palavra do Senhor:
“Para saber se O conhecemos, vejamos se guardamos os Seus mandamentos. Naquele que guarda a Sua Palavra, o amor de Deus é plenamente realizado”
A fé, caríssimos, não é um sentimento nem uma teoria. Nossa fé em Jesus morto e ressuscitado deve levar a um compromisso sério e radical com o Senhor na nossa vida concreta. Quem não guarda os mandamentos, não crê! Quem não crê, fecha-se para a salvação!
Terceira coisa: testemunhar Jesus morto e ressuscitado:
“Vós matastes o Autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos. Disso nós somos testemunhas!”
E Jesus diz:
“Vós sereis testemunhas de tudo isso!”
Caros meus, nós não conhecemos Jesus de um modo teórico. Nós O experimentamos na força da Sua Palavra e na graça dos Seus sacramentos, sobretudo na participação na Eucaristia. Jesus, para nós, não é um fantasma!
“Por que estais preocupados tendes dúvidas no coração? Vede Minhas mãos e Meus pés: sou Eu mesmo!”
Sim, meus caros, quantas vezes tocamos Jesus, sentimo-Lo vivo, caminhando conosco! Tenhamos, então, a coragem de Nele crer, de Nele viver e Dele dar testemunho onde quer que estejamos e onde quer que vivamos. E que a Sua paz, a Sua vitória e o Seu perdão estejam sempre conosco. Amém.