Meditação para a Quinta Quarta-feira depois de Pentecostes
SUMARIO
Meditaremos a maneira de fazer a visita ao Santíssimo Sacramento, e veremos, que é necessário:
1.° A devoção exterior;
2.° A devoção interior.
— Tomaremos depois a resolução de fazermos as nossas visitas com esta dúplice devoção; e o nosso ramalhete espiritual será a palavra do Salmista:
“Quão amáveis são os vossos tabernáculos, grande Deus!” – Quam dilecta tabernacula tua, Domine virtutum (Sl 83, 2)
Meditação para o Dia
Adoremos Nosso Senhor Jesus Cristo sempre presente no Seu tabernáculo para ali receber as nossas adorações, e nos ciar audiência a toda hora do dia e da noite, que quisermos visitá-lO. Oh! Quão bem merece tanto amor os nossos agradecimentos e respeitos!
“Vinde, adoremos, e prostremo-nos diante do Senhor” – Venite, adoremus et procidamus… ante Dominum (Sl 94, 6)
PRIMEIRO PONTO
Da devoção exterior nas visitas ao Santíssimo Sacramento
Esta devoção exterior parece não ser senão uma coisa secundária; e todavia é essencial. Se o exterior não é religioso, o semblante recolhido, o olhar modesto, a visita será necessariamente infrutuosa e má. Se se olha para o que está na igreja, para o que nela se passa, para os que entram e saem, se pensará em todas estas coisas, em todas estas pessoas, e Deus será esquecido. Se finalmente, se tiver um interior dissoluto, livre e familiar, se se conversar com as pessoas vizinhas, todo o interior será bem depressa como o exterior, sem energia para a oração; e não se pensará nem na augusta majestade, em cuja presença se está, nem nas legiões de anjos, que a rodeiam, nem nas necessidades próprias e da Igreja, que se tem a expôr; e longe de ser proveitosa, esta visita se converterá para nós em um duplo pecado, pecado contra Jesus Cristo, a quem se terá faltado ao respeito, pecado contra o próximo, a quem se terá causado escândalo.
SEGUNDO PONTO
Da devoção interior nas visitas ao Santíssimo Sacramento
Primeiro que tudo, devemos preparar-nos para a visita com o recolhimento de espírito e uma santa alegria de ir passar alguns momentos na companhia de Nosso Senhor e de Seus anjos. Depois, tendo chegado ao pé do Santíssimo Sacramento, devemos:
1.° Adorá-lO. Falar a Nosso Senhor com toda a simplicidade, dizer-Lhe o que o coração nos inspirar, seja alegre ou triste, e não sabendo o que Lhe havemos de dizer, expor-Lhe com sinceridade a nossa insuficiência e fraqueza, conservar-nos humildes na Sua presença, reputando-nos muito honrados por sermos admitidos a ela; oferecer-Lhe as reverências tão puras, tao fervorosas das legiões de anjos, que cercam o Seu tabernáculo, e protestar-Lhe, que O amamos e O queremos amar sempre mais; que O adoramos como nosso Senhor e nosso Deus; que Lhe damos graças pela Sua presença no meio de nós, por tantas comunhões, tantas Missas, tantas graças, de que a Eucaristia é para nós a fonte. Se, no meio destas efusões do coração, Nosso Senhor se dignar dar-nos alguns bons pensamentos, alguns piedosos sentimentos, devemos ouvi-lo em silêncio, receber com grande respeito e afetuoso reconhecimento o que nos disser, e meditá-lo; depois oferecer a Nosso Senhor tudo o que temos, tudo o que somos, para só viver para Ele, e unir o nosso culto ao que Ele tributa a Seu Pai, como todos os anjos no céu com o eterno Amém.
2.° Apresentar as nossas petições; orar pelas nossas próprias necessidades, pelas das pessoas que nos interessam, pelas de toda a Igreja, pela conversão dos pecadores, pela santificação dos justos, e acompanhar estas petições de um grande desejo de que o nome de Deus seja santificado por toda a parte, que o Seu reino se estenda a todos os corações, e que em toda a parte seja respeitada a Sua santíssima vontade.
3.º Estudar a vida eucarística do Salvador, a Sua perfeita devoção a Deus Seu Pai, a Sua caridade, mansidão e paciência para com o próximo, a Sua humildade, a Sua mortificação com relação a Si mesmo; tirar daí firmes resoluções de conformar a nossa vida com tão belos exemplos; e fixar alguns atos desta nova vida, que será o fruto da visita.
Finalmente, ao sair da visita, devemos deixar o nosso coração no cibório com a divina hóstia, para que ali continue as suas adorações, o seu amor e as suas boas resoluções; e depois vigiar sobre o nosso interior e sobre todos os nossos sentidos, para que a distração não desperdice as graças, o fervor e as santas disposições, que recebemos durante a visita. É assim que fazemos as nossas visitas ao Santíssimo Sacramento?
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 242-245)