Meditação para o dia 30 de Abril
O louvor de Maria é um tão abundante manancial que quanto mais se escoa, mais aumenta, e quanto mais aumenta mais se escoa (Biblioteca dos Padres). Em outras palavras: Esta Virgem é tão grande e sublime, que, quanto mais a louvamos, mais nos resta a louvar. Tanto é isso verdade, que — diz Santo Agostinho — todas as línguas dos homens não bastariam para exaltá-la, ainda que eles só línguas tivessem no corpo.
No mundo é uso dos que se amam falar muitas vezes e tecer frequentemente o panegírico da pessoa amada. Pois querem vê-la louvada e aplaudida por todos. Bem mesquinho é, portanto, o amor daqueles que se gabam de amar a Maria e não obstantes mal se lembram de falar dela muitas vezes, e tão pouco procuram torná-la amada por outros. Os verdadeiros servos desta amabilíssima Senhora não procedem assim. Preferem celebrá-la por toda parte e vê-la amada pelo mundo inteiro. Quer em público, quer em particular, procuram sempre atear nos corações as abençoadas chamas de que eles mesmos se sentem abrasados para com sua querida Rainha.
A propagação da devoção a Maria Santíssima é de muita importância para cada um de nós e para o povo. Convencer-nos-ão dessa verdade as palavras de sábios e atacados doutores. É recomendável ouvi-las. Na frase de São Boaventura têm o paraíso seguro todos os que anunciam as glórias de Maria. E isso confirma Ricardo de São Lourenço, dizendo:
“Venerar a Rainha dos anjos é adquirir a vida eterna; pois essa gratíssima Senhora saberá honrar na outra vida quem nesta a procurou celebrar”
Quem haverá que desconheça a promessa feita pela própria Virgem, a quantos se empenham em torná-la conhecida e amada neste mundo? “Possuirão a vida os que me esclarecem” (Eclo 24, 31), — eis as palavras que lhe aplica a Santa Igreja na festividade de sua Imaculada Conceição. Exulta, minha alma — exclama São Boaventura, o solícito cantor dos louvores de Maria — exulta e alegra-te em Maria, porque muita ventura está prometida aos que a louvarem. E já que as Sagradas Escrituras, ajunta ele, cantam os louvores de Maria, empenhemo-nos também nós em louvar sempre a Mãe de Deus, com a língua e com o coração, para que por ela sejamos um dia introduzidos na mansão dos bem-aventurados.
Lemos nas revelações de Santa Brígida que o beato Hemingo, bispo, costumava celebrar os louvores de Maria no começo de cada sermão. Um dia, apareceu, pois, a Santíssima Virgem à referida Santa e disse-lhe:
“Faz ciente ao bispo, que sempre começa os sermões por meus louvores, de que lhe quero servir de Mãe e apresentarei sua alma a Deus, depois da boa morte que lhe alcançarei”
De fato, o bispo morreu como um Santo, orando na mais celeste paz. A um religioso dominicano, cujos sermões terminavam sempre com Maria, apareceu a Virgem na hora da morte, defendeu-o contra os demônios, confortou-o e consigo levou-lhe a alma ao céu. O devoto Tomás de Kempis representa Maria Santíssima assim encomendando a seu Filho quantos lhe publicam os louvores:
“Meu Filho compadeça-vos da alma daquele por quem fostes amados e eu fui louvada!”
Quanto ao proveito do povo em geral, diz Eadmero (discípulo de Santo Anselmo), ser impossível que se não salvem e convertam os pecadores pelos sermões sobre a Santíssima Virgem. Para isso estriba-se no fato de ter sido o puríssimo seio de Maria o caminho por onde passou a salvação dos pecadores. Provarei no capítulo V que todas as graças são dispensadas pelas mãos de Maria, e que todos os eleitos só se salvam pela mediação dessa divina Mãe. E se esta sentença tem a verdade por si, tal é minha firme convicção, dizer então se pode, como necessária consequência, que, da pregação sobre Maria e sobre a confiança em sua intercessão, depende a salvação de todos. Foi assim, todos o sabem que São Bernardino de Sena santificou a Itália e que São Domingos converteu tantas províncias. Em seus sermões, nunca São Luís Beltrão deixava de exortar os fiéis à devoção para com Nossa Senhora. Assim praticaram igualmente muitos outros.
Li que também o padre Paulo Segneri Júnior, afamado missionário, fazia em todas as suas missões um sermão em honra de Maria. Dava-lhe o nome do “sermão predileto”. Jamais omitir o sermão sobre Nossa Senhora, é igualmente uma regra impreterível em nossas missões. E podemos atestar, com toda a verdade, que nada opera tanto proveito e compunção no povo, como o sermão sobre a misericórdia de Maria. Digo sobre a misericórdia de Maria. Pois, louvamos, diz São Bernardo, sua humildade, admiramos sua virgindade, mas, sendo pobres pecadores, o que mais nos deleita é ouvir falar de sua misericórdia. A esta apegamo-nos com mais ternura, mais vezes a recordamos e invocamo-la com mais frequência. A outros autores remeto o cuidado de escrever sobre as demais prerrogativas de Maria. Quero falar principalmente de sua grande misericórdia e poderosa intercessão. Nesse sentido tenho recolhido, durante muitos anos, tudo quanto os Santos Padres e os mais célebres autores têm dito sobre a bondade e o poder da Mãe de Deus.
Feliz aquele que se abraça amorosa e confiadamente a essas duas âncoras de salvação: Jesus e Maria! Não perecerá eternamente. Digamos, pois, devoto leitor, do fundo de nosso coração, como o beato Afonso Rodrigues:
“Jesus e Maria, doces objetos do meu amor, por vós quero sofrer, por vós morrer; fazei que eu deixe de pertencer-me, para ser todo vosso”
— Amemos a Jesus e Maria, e santifiquemo-nos. Eis aí a maior fortuna que podemos aspirar e esperar. Adeus! até à vista no paraíso, aos pés dessa Mãe suavíssima e desse Filho muito amado. Juntos haveremos então de louvá-los, de agradecer-lhes, de amá-los, face a face, portada a eternidade. Assim seja.
EXEMPLO
A ermida da Bertioga, junto à fortaleza do mesmo nome, de que só existem as ruínas. À sombra do forte e da ermida, pelos anos de 1570, viviam aldeias de índios cristianizados, que o jesuíta Anchieta e, depois deste, João de Almeida, acomodaram ali.
Do Colégio de São Vicente, o famoso Taumaturgo saia muitas vezes a visitar seus discípulos da Bertioga.
De uma feita, depois de passar dois dias na vizinha aldeia dos índios, veio o padre agasalhar-se na casa do comandante do forte, para, na manhã seguinte, regressar ao seu colégio.
Em sendo noite, como ficava a ermida de fronte da casa onde se hospedara, José de Anchieta pediu licença ao comandante para passar as horas em oração na capela. Acedendo a isso o oficial, veio seguido de seu genro, Afonso Gonçalves, acompanhar o padre até a porta da ermida, trazendo à mão uma vela acesa. Aí, despediu-se deles Anchieta, pedindo-lhes tornasse a casa com luz e cerrassem as portas da ermida porque ele queria ficar só, tendo como única luz, a das estrelas, coada pelos interstícios do telhado ou pelas vidraças. Assim foi feito.
Recolheram-se os homens, deixando o jesuíta só e às escuras. No correr da noite, desperta a filha do comandante vendo estranha claridade e ouvindo cantos celestiais. A ermida em que ficara orando o padre José de Anchieta fulgia toda, derramando pelas portas e janelas cascatas deslumbrantes. Ao mesmo tempo um coro de vozes angelicais transpassava os corações.
A moça despertou o marido para juntos averiguarem o estranho caso, mas no mesmo instante foram tomados de um pasmo que os privou de todo o movimento.
Na manhã seguinte, depois de se terem certificado de que não ficara luz alguma na igreja, referiram o sucedido a Anchieta. Este em resposta rogou-lhes como amigo e ordenou-lhes como confessor guardassem segredo dessa visão enquanto ele vivesse.
Outra vez pregando na mesma igreja de Itanhaém, durante a festa da Conceição, perdeu os sentidos. Quando o povo acudiu, julgando tratar-se de enfermidade ou acidente, tornou a si o jesuíta e continuando o sermão exclamou:
“Quereis saber as mercês da Virgem Nossa Senhora? Pois ainda agora veio de fora de acudir a uma sua devota que por ela tinha chamado; e por sinal vereis seus vestidos molhados de orvalho”
E o povo atônito notou que o manto e a saia que vestiam a imagem traziam vestígios do caminho!
ORAÇÃO
Ó Maria! Falsamente ou em vão vos chamaria a Igreja sua advogada e refúgio dos miseráveis? Não suceda jamais que minhas culpas vos possam impedir de exercerdes o vosso grande ofício de piedade, que vos constitui advogada e medianeira de paz, única esperança e refúgio seguríssimo dos miseráveis! Não suceda jamais que a Mãe de Deus, que deu ao mundo para salvação do gênero humano a fonte da misericórdia, negue sua piedade a um infeliz que a invoca. Vosso ofício é ser medianeira de paz entre Deus e os homens: conceda-me, pois, o vosso auxílio vossa imensa piedade, que é incomparavelmente maior que todos os meus pecados
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(BRANDÃO, Monsenhor Ascânio. Um Mês com Nossa Senhora ou Mês de Maria, segundo Santo Afonso Maria de Ligório. Edições Paulinas 1ª ed., 1949, p. 13-18)
2 Comments
Maria Rubenita
Agradeço a Deus por todos vocês, pela iniciativa de nos proporcionar tão grande graça, nos ajudando espiritualmente através de livros. Obrigada, Deus os abençoe!
Maria Teresa Crispim
Obrigada pela oportunidade que nos dão de ler essas obras que para mim são de grande interesse espiritual. Amém