Meditação para a Terça-feira da 2ª Semana depois da Páscoa
SUMARIO
Jesus, o Bom Pastor, não se contenta com defender e curar as Suas ovelhas: alimenta-as ainda da maneira mais excelente:
1.° Com o pão da Sua Palavra;
2.° Com o pão da Sua Graça;
3.° Com o pão Eucarístico.
— Depois destas considerações, tomaremos a resolução:
1.° De nos aproveitarmos melhor da Palavra de Deus e da Sua graça, vivendo a vida da fé e nunca resistindo a um bom pensamento;
2.° De nos prepararmos mais para as nossas comunhões, e de conservarmos melhor os seus frutos.
O nosso ramalhete espiritual será a palavra de São Paulo:
“Graças a Deus pelo seu dom inefável!” – Gratias Deo super inenarrabili dono ejus (2Cor 9, 15)
Meditação para o Dia
Adoremos Jesus Cristo, o Bom Pastor, no cuidado que tem em alimentar as Suas ovelhas. Ele havia dito em Ezequiel:
“Eu as levarei a pastar nas pastagens mais feríeis e repousarão sobre verdes relvas” – In pascuis uberrimis pascam eas… requiescent in herbis virentibus (Ez 34, 11)
Admiremos como cumpriu a promessa. Sem falar do pão material, que Ele nunca permite que lhes falte, dá-lhes o pão da Sua Palavra, o pão da Sua Graça, o pão Eucarístico. Que bondade! E quão bem merece os nossos louvores e o nosso amor!
PRIMEIRO PONTO
A excelência do pão da Palavra, com que Jesus, o Bom Pastor, alimenta as Suas ovelhas
O homem não vive somente de pão material; é necessário à sua nobre inteligência um alimento mais elevado, o pão da verdade: sem esse pão, a inteligência sente-se morrer, o homem iguala-se ao bruto. Por isso Jesus Cristo proveu admiravelmente neste caso. Enquanto os maiores gênios da antiguidade, depois de longos estudos, não sabiam que pensar a respeito da natureza de Deus e da sua providência, dos destinos futuros do homem e da norma dos seus deveres, a palavra de Jesus Cristo nos alimenta desde a infância com doutrinas da mais sublime teologia. Os atributos divinos são-nos revelados; os arcanos da nossa vida futura manifestados; as mais elevadas virtudes ensinadas; os caminhos da perfeição abertos; o sol de justiça resplandece para nós.
Apreciemos tão grande beneficio, comparando-nos com os povos que dele estão privados, e guardemo-nos de abusar dele não conformando a nossa vida com a nossa fé.
SEGUNDO PONTO
A excelência do pão da Graça, com que Jesus, o Bom Pastor, alimenta as Suas ovelhas
Nós somos tão miseráveis, que não nos basta conhecer a verdade para crer nem o bem para o praticar. Para uma e outra coisa, precisamos da graça de Deus; e esta graça no-la prodigaliza Jesus, o Bom Pastor. Ele dá-no-la pelo bom pensamento que elucida, pelo atrativo interior que move. Concede-a a quem a pede:
“Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á” (Mt 7, 7)
Dá-a a quem a preza e a deseja: é um rico que se conserva com as mãos cheias à porta do seu palácio, convidando todos os pobres a virem receber as suas liberalidades, e excluindo apenas os que não querem pedir ou que pedem com frieza e negligência, como se se tratasse de uma coisa de baixo preço.
Examinemo-nos aqui: fazemos nós da graça a estimação que dela devemos fazer? Desejamo-la com ardor? Pedimo-la com instância? Quando a recebemos, tiramos proveito dela? Não a perdemos voluntariamente, ora pela dissipação que a faz esquecer, ora pela frouxidão, que não tem ânimo para executar o que ela inspira?
TERCEIRO PONTO
A excelência do pão Eucarístico, com que Jesus, o Bom Pastor, alimenta as Suas ovelhas
É aqui que se revela o excessivo amor, e ternura do divino Pastor. Um pastor que alimenta as Suas ovelhas com a Sua própria carne, que lhes mata a sede com o Seu próprio sangue! Ó mistério de amor, que só um Deus pôde conceber, como só Ele o pôde executar! (1). O apólogo de Natan a Davi é certamente muito tocante:
“Um homem pobre não possuía mais do que uma ovelhinha que ele comprara e criara, e que tinha crescido em sua casa, comendo do seu pão, bebendo do seu mesmo copo, e dormindo no seu regaço, e ele lhe queria como a sua filha” (2Sm 12, 3)
Mas que diferença do apólogo à realidade em que meditamos! Jesus Cristo é esse pobre, pois que sendo por Sua natureza o supremo rico, reduziu-Se por amor de nós à indigência (2). A nossa alma, é essa ovelha, que Ele comprou por tudo o que tinha (3). Mas, em vez de lhe dar a comer do Seu pão e a beber do Seu copo, Ele mesmo se faz comida para a alimentar, bebida para lhe apagar a sede! (4). Ó divino Pastor, que bom Sois! Quão excelente é a refeição que o Vosso amor me preparou! (5) Ó! Quanto desejo de amar-Vos e servir-Vos melhor, ter mais zelo para com a comunhão, dispôr-me melhor para ela e aproveitar-me melhor dela!
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
Referências:
(1) Quis andivit unquam tale? (Is 66, 8)
(2) Propter vos egenus factus est, cum esset dives (2Cor 8, 9)
(3) Quam acquisivit sanguine suo (At 20, 28)
(4) Caro mea vere est cibus, et sanguis vere est potus (Jo 6, 56)
(5) Parasti in conspectu meo mensam (Sl 22, 5)
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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo II, p. 290-292)