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Jesus no Santíssimo Sacramento é prisioneiro de amor

Sacrário

Descendit cum illo in foveam, et in vinculis non dereliquit eum – “Desceu (Deus) com ele ao fosso, e não o deixou nas cadeiase” (Sb 10, 13)

Sumário. Considera que Jesus está noite e dia sobre os altares como em outras tantas prisões de amor. Bastava que ali ficasse só de dia; porém Ele quis ficar também durante a noite, afim de que de manhã o possa achar quem o venha buscar. Só esta fineza devia excitar todos os homens a ficar sempre na presença de Jesus sacramentado; mas é o contrário que se dá. Nós ao menos procuremos dar-Lhe alguma compensação, multiplicando o mais possível nossas visitas, e ao sairmos da Igreja, deixemos nossos corações com todos os seus afetos ao pé do altar, ou encerrados dentro do santo Tabernáculo.

I. Nosso amantíssimo Pastor, que deu a vida por nós, suas ovelhas, não quis pela morte separar-se de nós. Eis-me aqui, diz Ele, eis-me aqui, sempre no meio de vós, minhas queridas ovelhas. Por vós me deixei ficar sobre a terra neste Sacramento; aqui me achareis sempre que quiserdes, para vos ajudar e consolar com a minha presença; não vos deixarei até o fim dos séculos, enquanto estiverdes sobre a terra.

Eis, pois, que Jesus Cristo está sobre os altares como em outras tantas prisões de amor. Os sacerdotes tiram-No do Tabernáculo para O exporem, ou para O darem na santa comunhão, e depois tornam a encerra-Lo. E Jesus de boa vontade aí fica dia e noite. – Mas, meu Redentor, para que ficar em tantas igrejas também durante a noite, quando se fecham as portas e os homens Vos deixam só? Bastava que ficásseis somente de dia. Não; Jesus quer ficar também de noite, embora sozinho, afim de que de manhã o possa achar logo quem O queira procurar.

A sagrada Esposa andava procurando a seu Amado e perguntava a todos que encontrava: Não vistes porventura àquele que meu coração ama? (1) E, não o achando, prorrompia em lamentos, dizendo: Meu esposo, fazei-me saber, onde estais. Então a Esposa não o achava, porque ainda não havia o Santíssimo Sacramento; mas agora se uma alma deseja achar Jesus Cristo, basta que vá a uma igreja ou a qualquer mosteiro, e ali achará seu amado, que está à espera dela.

Não há freguesia, por pobre que seja, nem mosteiro de religiosos, onde não se ache o Santíssimo Sacramento e em todos esses lugares o Rei do céu de boa vontade se deixa ficar encerrado em uma caixinha de madeira ou pedra, onde muitas vezes fica sozinho, apenas com a lâmpada, sem visitante algum. – Mas, Senhor (diz São Bernardo), tal não convém a vossa majestade! – Não importa, responde Jesus Cristo, se não convém a minha majestade, muito convém a meu amor.

II. Só a fineza do amor de Jesus Cristo, em querer fazer-se nosso prisioneiro, devia excitar todos os homens a visitarem-No muitas vezes no santo Tabernáculo e não saírem daí senão à força. Ao retirarem-se, deviam deixar ao pé dos altares todo o seu coração com todos os afetos de amor para com o Deus humanado que fica sozinho e encerrado no tabernáculo, todo olhos para ver e remediar nossas necessidades e todo coração, ficando ali para nos amar e esperando o dia para receber as visitas das almas que o amam.

Sim, meu Jesus, quero contentar-Vos. Consagro-Vos toda a minha vontade e todos os meus afetos. Ó Majestade infinita de Deus, Vós estais presente nesse divino Sacramento, não somente para ficardes perto de nós, mas principalmente para Vos comunicar às almas que Vos amam. Mas, Senhor, quem se atreverá a chegar-se a Vós e alimentar-se com a vossa carne? Mas também, quem se animará a afastar-se de Vós? Vós quisestes ocultar-Vos na Hóstia consagrada para entrardes em nós e possuírdes nossos corações. Vós ardeis em desejo de ser recebido de nós e achais vossas delícias em estar unido conosco.

Vinde, pois, ó meu Jesus, vinde. Desejo receber-Vos dentro de mim, para que sejais o Deus de meu coração e de minha vontade. Quanto a mim, meu amado Redentor, sacrifico a vosso amor minhas satisfações, prazeres, vontade própria e todo meu ser. Ó amor, ó Deus de amor, reinai e dominai em mim; destruí e aniquilai em mim tudo que é meu e não vosso. Não permitais, ó meu amor, que minha alma, cheia da majestade de um Deus, depois de Vos ter recebido pela santa comunhão, venha a apegar-se novamente às criaturas. Amo-Vos, meu Deus, amo-Vos e só a Vós quero sempre amar. – Ó Maria, Mãe do belo amor, suplico-vos, pelo amor de vosso divino Filho, que me alcanceis a santa perseverança.

Referências:

(1) Ct 5, 1

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 224-227)