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Escola de Simplicidade

Meditação para a Terça-feira da 4ª Semana depois da Epifania. Escola de Simplicidade

Meditação para a Terça-feira da 4ª Semana depois da Epifania

SUMARIO

Terminaremos as nossas visitas ao berço do Verbo Encarnado, que nos ensinará a simplicidade cristã. Veremos:

1.° O que é simplicidade cristã;

2.º Qual é a excelência desta virtude.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De termos horror a toda a dissimulação, a toda a dobrez e mentira;

2.° De tendermos para Deus unicamente em todas as coisas sem outro intuito senão o de Lhe agradar.

O nosso ramalhete espiritual será a máxima do Espírito Santo:

“Aquele que anda em simplicidade, anda afoitamente” – Qui ambulat simpliciter, ambulat confidenter (Pr 10, 9)

Meditação para o Dia

Adoremos Jesus Menino em Seu berço, e aprendamos dEle a Simplicidade Cristã. Sede simples como as pombas (1), dirá Ele mais tarde; e diz-no-lo já com o Seu exemplo. Deixa-Se deitar, levantar, envolver em panos, levar ao Egito, trazer para Nazaré, tudo como apraz aos outros: é uma submissão pacífica e simples a todas as vontades de outrem, sem desejar mais do que obedecer-Lhe e descansar nEle. Oh! Quão digna de toda a nossa veneração é uma semelhante simplicidade de proceder! Supliquemos ao Verbo Encarnado, que nos faça compreender e pôr em prática esta virtude.

PRIMEIRO PONTO

Que é a Simplicidade Cristã?

Aprendemo-lo do menino vulgar nos primeiros meses de sua razão. Simples na sua crença e nos seus juízos, cede voluntariamente aos sentimentos dos outros, e não defende com calor o seu próprio juízo. É assim que o verdadeiro cristão prefere as luzes de outrem às suas, e confessa ingenuamente o seu erro, logo que o reconhece. Com mais forte razão adere com simplicidade às verdades da fé, o sentimento de sua ignorância dispõe-o a crer. Simples no seu procedimento, o menino ignora a dissimulação e a mentira; não sabe o que é afligir-se por uma falta de respeito ou ensoberbecer-se com uma prova de atenção; não se inquieta nem com o que pensam nem com o que dizem dele; não lhe importa nem onde a sua mãe o põe e o leva, nem o que ela lhe faz; não sabe senão submeter-se-lhe com simplicidade, e deixar-lhe fazer tudo o que ela quer. É assim ainda que o verdadeiro cristão procede em tudo, sem subterfúgios nem dissimulação, sem dobrez nem artifícios, sem mentiras nem equívocos. Não busca nem ocultar a sua ignorância e as suas faltas, nem desculpar-se quando errou, nem mostrar-se diferente do que é; e pouco inquieto com o que poderão dizer ou pensar dele, segue diretamente o seu caminho, fazendo o que ele julga seu dever.

No seu exterior, é modesto sem singularidade, discreto sem afetação; não conhece nem o luxo do vestuário, da mesa, dos móveis, nem as buscas da moleza, nem os regalos da sensualidade.

No trato da vida, a urbanidade não é nele senão a verdadeira expressão da caridade. Estudando o seu procedimento, reconhece se, não que ele aspira a agradar aos outros, mas sim aos que lhe são caros; não que tem em vista conseguir que estejam contentes com ele, mas que está contente com aqueles com quem trata.

Finalmente, em cada uma das suas ações, não diligencia mostrar-se, nem esconder-se, nem parecer virtuoso, mas ser o mesmo em particular que em público, sempre tal como é. Nada teme com excesso, nada deseja com violência; é pobre sem que por isso se sinta humilhado, rico ou honrado sem que por isso se estime mais; nada que seja mau no que é bom, que seja pouco importante no que é útil, que seja honroso no que não é cristão. Que bom natural, e como consegui-lo? Será querendo a vontade de Deus, e nada mais, dando graças a Deus por tudo, descansando nele, e amando-O com uma perfeita simplicidade no coração.

SEGUNDO PONTO

Excelência de Simplicidade Cristã

Esta virtude cativa o coração de Deus, o coração do próximo, e faz a felicidade da alma, que a possui.

1.° Cativa o coração de Deus. O seu afeto, diz o Espírito Santo, é para os que andam em simplicidade (2); protege-os (3); ama-os (4) e sob a sua suavíssima direção andam afoitamente (5). É esta a razão porque São Paulo recomenda a simplicidade em tudo: a simplicidade na esmola (6); a simplicidade na obediência (7); a simplicidade dos nossos deveres para com o estado (8); a simplicidade na perseverança (9); a simplicidade nas relações mútuas (10).

2.° A simplicidade cativa o coração do próximo: todos gostam de ter relações com a retidão e simplicidade; ninguém gosta de tratar com a dobrez e o artificio.

3.º Esta virtude faz a felicidade da alma simples: por ela serve-se a Deus com facilidade e sem turbação, com a submissão e a confiança de um menino que serve um Pai amabilíssimo; por ela não nos cansamos nem de medir as nossas palavras, os nossos pensamentos e atos, nem de refletir no passado, e contentamo-nos de prestar ao que fazemos uma atenção suave, livre e alegre. Não precisamos de mendigar a alegria fora: achamo-la dentro de nós, e comprazemo-nos mais no nosso interior do que em todas as companhias possíveis. Vendo as inumeráveis futilidades que o mundo julga ser-lhe necessárias, folgamos de dizer conosco: Que coisas de que nenhuma precisão tenho! Se encontramos no nosso caminho prazeres inocentes, acolhemo-los sem ânsia e gozamo-los sem remorso. Se culpas ou fraquezas nos dão a conhecer a nossa miséria, humilhamo-nos sem nos turbarmos; revestimo-nos de confiança, e vamos lançar-nos com simplicidade de coração nos braços de Deus. Finalmente, sujeitos às faltas de fervor, às mortificações e provações, aceitamos tudo o que Deus quer, e estamos sempre contentes com Deus, faça Ele o que fizer. Como temos nós procedido a respeito desta simplicidade cristã, que apraz tanto a Deus e aos homens, e faz a felicidade de todo aquele que a possui? Estimamos esta bela virtude como merece, e diligenciamos adquiri-la à custa do nosso amor próprio, se preciso for?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Estote… simplices sicut columbae (Mt 10, 16)

(2) Voluntas ejus in fis qui simpliciter ambulant (Pr 11, 20)

(3) Proteget gradientes simpliciter (Pr 2, 7)

(4) Scio… quod… simplicitatem diligas (1Cr 29, 17)

(5) Qui ambulat simpliciter, ambulat confidenter (Pr 10, 9)

(6) Qui tribuit, in simplicitate (Rm 12, 8) – Altissima paupertas eorum abundavit in divitas simplicitatis eocum (2Cor 8, 2)

(7) Obedite… in simplicitate cordis bestri, sicut Christo (Ef 6, 5)

(8) In simplicitate cordis timentes Deum (Col 3, 22)

(9) Timeo ne… ecidant a simplicitate quae est in Christo (2Cor 11, 3)

(10) Testimonium conscientiae nostrae, quod in simplicitate cordis et sinceritate Dei… conversati sumus (2Cor 1, 12)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 252-255)

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