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Dom de Piedade

Meditação para a Quinta-feira antes do Pentecostes. Dom de Piedade

Meditação para a Quinta-feira antes do Pentecostes

SUMARIO

Continuaremos as nossas orações a respeito dos sete dons do Espírito Santo e meditaremos o Dom de Piedade. Veremos:

1.° O que é este dom com relação a Deus;

2.º O que é com relação ao próximo.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De passarmos num especial recolhimento de espírito os três dias, que nos separam do Pentecostes, a fim de que nesse dia solene o Espírito Santo ache a nossa alma bem disposta;

2.º De vermos sempre em Deus um Pai cheio de ternura, e de procurarmos antes amá-lO do que temê-lO;

3.° De vermos no próximo um filho de Deus, um irmão de Jesus Cristo; e por estes títulos, de o tratarmos com eterno respeito.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de São Paulo:

“Deus mandou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Pai, Pai” – Misi Deus Spiritum Filii sui in corda vestra, clamantem: Abba, Pater (Gl 4, 6)

Meditação para o Dia

Adoremos o Espírito Santo difundindo nas almas o Dom de Piedade, esse precioso dom que abranda a dureza natural do coração e o torna terno para com Deus e para com o próximo. Demos-Lhe graças por este inefável dom; e supliquemos-Lhe, que no-lo comunique e nos faça compreender bem a sua excelência.

PRIMEIRO PONTO

O que é o Dom de Piedade com relação a Deus?

Multo diferente da religião, que honra a Deus como Criador e supremo Senhor, o Dom da Piedade ensina a honrá-lO como Pai; e produz na alma a seu respeito um afeto todo filial, cheio de unção, de ternura e de suavidade, que nos induz a pôr a nossa felicidade em nos ocuparmos de Deus e das coisas de Deus, e a fazer tudo o melhor possível, com o fim de Lhe agradar. Com este dom, não se vê já em Deus o juiz severo, cujo rigor assusta; só nEle se vê um Pai terno cuja bondade consola, um Pai que nos olha com amor, e que olhamos do mesmo modo. Já se não pensa em temê-lO, só se pensa em amá-lO. Amar é tudo; e quanto mais O amamos, mais O queremos amar. Este afeto, esta ternura excita no coração um ardente desejo de Lhe agradar; e para isto, nada há que custe. Se caímos em alguma culpa, não nos perturbamos, Deus é nosso Pai: lançamo-nos nos Seus braços para Lhe pedir perdão, com humilde confiança, como o filho, que deu uma queda, se lança nos braços de sua mãe; prometemos-Lhe reparar a nossa culpa com mais amor, com um procedimento melhor e continuamos o nosso modo de vida em paz, com um novo fervor. Já não há ansiedade; já não há escrúpulo no serviço de tão bom Pai; tudo nEle é amor, e tem-se sempre o coração tranquilo, como o filho na companhia de seu bom Pai. Quaisquer que sejam os acontecimentos, que sobrevenham, entregamo-nos amorosamente a todas as disposições de sua mão paternal.

«É meu Pai que assim o permite, dizemos nós no fundo da alma; foi o Seu excelente coração, que assim o determinou; seja feita a Sua vontade; quero tudo o que Ele quer e só o que Ele quer»

Destas santas disposições provém à alma um grande zelo pela glória de Deus, um inexprimível desgosto da sua ofensa, o desgosto de um filho, que vê ultrajar o melhor dos Pais; daí um terno amor para com a divina palavra contida na Sagrada Escritura: é a palavra de um Pai, sempre prezada ao coração de um filho; daí um singular afeto à Igreja triunfante, isto é, a Maria, aos Anjos e Santos, porque são estes, que mais amaram a Deus, e lho agradecemos infinitamente; daí uma cordial devoção para com a Igreja padecente no purgatório, porque são almas justas, que Deus deseja receber no Seu paraíso, e que podemos fazer, que nele entrem, pelas nossas orações e pelos nossos méritos; daí finalmente, um vivo interesse pela Igreja militante sobre a terra, porque está encarregada de procurar a glória de Deus; e os seus infortúnios laceram o coração, assim como os seus sucessos o enlevam.

Entremos dentro em nós: temos este Dom de Piedade? Se não o temos, peçamo-lo a Deus de toda a nossa alma.

SEGUNDO PONTO

O que é o Dom de Piedade com relação ao Próximo?

Como todos os homens são as imagens e os filhos adotivos de Deus, os irmãos e coerdeiros de Jesus Cristo, o Dom de Piedade põe no coração para com eles um verdadeiro amor fraternal, uma benévola inclinação, uma abundante dileção, e mansidão, que é como um vislumbre da bondade de Deus, uma participação da Sua caridade, uma emanação da Sua misericórdia: donde resultam para com todos um procedimento franco e benévolo, uma tendência para lhes agradar e lhes perdoar as ofensas, um semblante, sempre ingênuo, uma conversação sempre afável, que se compõe de palavras boas e amáveis. Tem-se a simplicidade e a deferência de um menino para com o superiores, a cordialidade de um irmão para com o seus iguais, entranhas de compaixão para com todos os que padecem, acompanhadas de uma terna inclinação para os socorrer. Afligimo-nos com os aflitos, choramos com os que choram, alegramo-nos com os que estão alegres. Suportamos de bom grado os erros dos fracos, os defeitos dos imperfeitos; fazemo-nos tudo para com todos, mostrando-nos graves o recatados com os que o são, solícitos e fervorosos com os solícitos, fervorosos e alegres com os alegres, sem sair, porém, dos limites da modéstia, e empregamos na prática da virtude, tanto quanto a virtude o permite, toda a circunspecção e condescendência que requer o caráter daqueles, com quem tratamos.

Entremos ainda aqui dentro de nós. Em vez destas ternas simpatias, que inspira o Dom de Piedade, não temos nós essa dureza de coração, que faz que, atentos unicamente ao que nos interessa, não saibamos nem compadecer-nos das misérias do próximo, nem incomodar-nos para obsequiar os outros, nem suportar os defeitos e os erros, nem moderar o ódio e os desejos de vingança, a aspereza ou a antipatia, que não receia desagradar ao próximo? Não somos nós do número daqueles que chamam solidez de espírito e firmeza de caráter a essa dureza tão anti-cristã?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 105-108)