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Deus ama os Humildes

Meditação para a Undécima Quarta-feira depois de Pentecostes. Nona razão de sermos Humildes: Deus ama os Humildes

Meditação para a Undécima Quarta-feira depois de Pentecostes

Nona razão de sermos Humildes

SUMARIO

Meditaremos sobre uma outra razão de sermos humildes: é o amor que Deus tem às almas humildes.

1.° Comprovaremos este amor;

2.° Estudaremos os seus admiráveis efeitos.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De não nos desculparmos, quando nos repreenderem e nada nos obrigar a desculparmo-nos;

2.º De consentirmos em passar por um homem inepto, sem inteligência, sem memória.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Salmista:

“Deus olha para os humildes” – Deus humulia… respicit (Sl 112, 5)

Meditação para o Dia

Adoremos a Deus, que se compraz nas humilhações do Verbo Encarnado. Este divino Filho humilha-Se no presépio, e Deus mostra quanto lhe agrada esta humilhação, mandando os seus anjos anunciá-lo aos pastores, e uma estrela conduzir-lhe reis que O adorem. Humilha-Se nas margens do Jordão, recebendo o batismo de João, confundido com os pecadores; e Deus proclama, do alto do céu, que nele tem posto toda a sua complacência. Humilha-Se na cruz, e Deus revela as suas grandezas, pelo sol, que escurece, pela terra, que treme, pelas pedras, que se fendem, pelos mortos, que ressuscitam. Agradeçamos a Deus os grandes ensinos que encerram estes prodígios,

PRIMEIRO PONTO

Amor que Deus tem às Almas Humildes

“Para quem olharei, diz o Senhor em Isaías, senão para o pobrezinho e quebrantado de espírito, e que treme dos meus discursos?” – Ad quem respiciam nisi ad pauperculum, et contritum Spiritu, et trementem sermones meos (Sl 66, 2)

“Quem é o que vos glorifica, e por conseguinte vos agrada, Senhor, diz Baruc, senão aquele que se humilha e se envergonha do mal que obra, até não levantar a cabeça e os olhos?” – Anima quae tristis est super magnitudine mali, et incedit, curva et infirma, et oculi deficientes, dat tibi gloriam (Br 2, 18)

“Ó Deus, diz Davi, vós não desprezais o coração contrito e humilhado” – Cor contritum et humiliatum, Deus, non despicies (Sl 50, 19)

“Recebei-nos favoravelmente, Senhor, diz Daniel, porque nos apresentamos diante de vós por espírito de humildade” – In… spiritu humiliatis suscipiamur (Dn 3, 39)

O meu reino, diz Jesus Cristo, é para os que são humildes como meninos (1); e São Pedro ensina-nos que Deus dá aos humildes a sua graça e o seu amor (2); São Paulo afirma que se aproxima deles e os consola (3); que tem grande afeto aos que nada são a seus próprios olhos, e os escolhe para as suas maiores obras (4). A razão deste grande amor, que Deus tem aos humildes, é porque Ele ama a verdade (5), e o humilde tem o verdadeiro sentimento ao que é, do seu nada, da sua pobreza e miséria; enquanto que aquele que é dominado pelo amor-próprio, só tem uma falsa ideia do seu mérito; vive no erro, louvando-se a si e querendo ser louvado. Esta disposição do que ama a verdade ainda quando o humilha, agrada tanto a Deus, que nEle põe todas as suas delícias e Lhe dá todo o seu amor. Quem não quererá pois ser humilde, visto ser o único meio de ganhar o coração de Deus, de conseguir ser amado por Ele?

SEGUNDO PONTO

Admiráveis efeitos do amor que Deus tem às Almas Humildes

O autor da Imitação refere deste modo os carinhos do amor divino para com a alma humilde: Quando Deus, diz ele, a vê aflita, consola-a (6); quando a acha abismada no sentimento do seu nada, aproxima-se dela (7), dá-lhe abundantes graças (8), e à proporção que se humilha, eleva-se à sua glória (9); revela-lhe os seus segredos e atrai-a suavemente a si (10). Quanto mais ela conhece as suas profundas misérias, tanto mais Deus a enche de graça na terra e de glória no céu (11). Quando ela tem que lhe pedir alguma coisa, a sua oração é sempre atendida (12). Ainda quando não sabe falar a Deus, e se sente como incapaz de orar, a humildade supre tudo o que lhe falta. Deus vê-a humilhada diante da sua majestade e santidade infinita; vê-a envergonhada e confundida da sua frieza e insensibilidade, da sua distração e tibieza, e alegra-se. Tem a oração por perfeita (13). O publicano não sabe dizer mais que estas palavras de humildade: Deus, sede propício a mim pecador (14); e estas palavras obtêm-lhe tudo; obtêm-lhe a sua justificação. Se esta alma é acometida de mil tentações, sujeita a recaídas, e em vez de se afligir por amor-próprio, se humilha e pede perdão como o publicano, vence as suas tentações e emenda-se das suas recaídas. Finalmente, a alma humilde é para a graça um vaso de eleição e predileção, porque, depositária fiel, deixa a Deus toda a sua glória disso sem se arrogar coisa alguma. Maria foi escolhida entre todas as criaturas para ser Mãe de Deus, porque era a mais humilde (15); e Santa Tereza só foi elevada a tão sublimes contemplações em razão da sua humildade.

«Quando estava, diz ela, humilhada diante de Deus a ponto de me conservar junto do seu trono como um verme rojando pelo cão, era então que se apoderava de mim e me unia a si»

Que aviso para nós! Que incentivo para nos humilharmos na presença de Deus!

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Nisi efficiamini sicut parvuli, non intrabitis regnum e orum

(2) Humilibus dat gratiam (1Pd 5, 5)

(3) Consolatur humiles (1Cor 7, 6)

(4) Elegit… ea quae non sunt, ut ea quae sunt destrueret (1Cor 1, 28)

(5) Ecce enim veritatem dilexisti (Sl 8)

(6) Humilem Deus diligit et consolatur (II Imitação 2, 2)

(7) Humili homini se inclinat (Ibid)

(8) Humili largitur gratiam magnum (Ibid)

(9) Et post suam deprecationem elevat ad gloriam (Ibid)

(10) Humili sua secreta revelat, et ad se dulciter trahit et invitat (Ibid)

(11) Exaltavit humiles (Lc 1, 52)

(12) Oratio humiliantis se nubes penetrabit… et non discedet donec Altissimum aspiciat (Ecl 35, 21)

(13) Humilium… semper tibi placuit deprecatio (Jd 9, 16)

(14) Deus, propitius este mihi peccatori (Lc 18, 13)

(15) Rexpexit humilitatem ancillae suae (Lc 1, 48). Humilitate concepit (São Bernardo)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo VI, p. 93-96)