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Deus abomina a estima de nós mesmo e o desejo de sermos estimados

Meditação para a Décima Terça-feira depois de Pentecostes. Oitava razão de sermos Humildes: Deus abomina a estima de nós mesmo e o desejo de sermos estimados

Meditação para a Undécima Terça-feira depois de Pentecostes

Oitava razão de sermos Humildes

SUMARIO

Meditaremos sobre uma oitava razão de sermos humildes, e é, que a jactância e o vivo desejo de sermos louvados, dois vícios opostos à humildade, são odiosos a Deus. Depois destas duas considerações, tomaremos a resolução:

1.° De nos humilharmos muitas vezes diante de Deus por causa da nossa própria miséria;

2.º De nunca falarmos em nosso favor para que nos louvem, nem em nosso prejuízo para insinuar que ao menos somos humildes.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de São Paulo:

“Ninguém se glorie na presença de Deus” – Non glorietur omnis caro in conspectu ejus (1Cor 1, 29)

Meditação para o Dia

Adoremos Nosso Senhor equiparando-se diante de seu Pai com o último dos homens (1), até com um bichinho da terra (2). É assim que nos ensina a não nos louvarmos a nós mesmos e a não desejarmos o louvor dos outros.

PRIMEIRO PONTO

A jactância é odiosa a Deus

Deus detesta tanto o louvor de nós mesmos que, vendo no seu templo o publicano carregado de iniquidades, mas que se humilha, e o fariseu, fiel observador da lei, mas que se louva a si próprio e se compraz nos seus merecimentos, perdoa ao primeiro e condena o segundo. Quer dizer-nos que o justo, que se louva a si, está mais distante do reino dos céus que o pecador que se humilha. Em outra parte fulmina anátema contra aquele que se compraz na sua sabedoria (3). Amaldiçoa aquele que confia no homem (4), isto é, em si, pois que não é mais do que um homem; e declara pelos seus santos que todo aquele que desagrada a si próprio, agrada a Deus, e o que agrada a si, lhe desagrada (5). Esta verdade sobressai em toda à historia sagrada. O rei da Assíria gloria-se de ter sido o instrumento das vinganças divinas contra Jerusalém. Tu ensoberbeceste, lhe diz o Senhor pelo seu profeta; a minha mão vai esmagar-te com os teus exércitos, para ensinar a todos os séculos que eu odeio o machado que se gloria contra o que corta com ele, e o bastão que se levanta contra aquele que o traz (6). Coisa notável! Deus aborrece tanto a jactância e presunção, que chega a escolher, para as suas maiores obras, os homens mais incapazes, a fim de que o orgulho humano não possa arrogar-se a sua glória (7). Para tirar o seu povo do Egito, escolhe Moisés que, havia quarenta anos, só conhecia o seu deserto e rebanho; para derrotar o numeroso exército de Madian não quer senão trezentos homens; para prostrar Golias, senão um pastor com a sua funda; para libertar Betulia, sitiada por cento e quarenta mil homens, senão uma simples mulher; para converter o mundo pagão, senão doze pescadores ignorantes e tímidos. Quem, depois de tais exemplos, se atreveria a abrir o seu coração à jactância?

SEGUNDO PONTO

O vivo desejo de sermos louvados é odioso a Deus

O louvor e a glória são coisas que pertencem exclusivamente a Deus (8), e a criatura, pobre e miserável, que ousa pretendê-los, incorre no seu ódio, como o ladrão que tensa usurpar o que é de outrem (9). Deus criou tudo para sua glória (10): criou a inteligência do homem para o louvar, o seu coração para o amar, a terra, para bendizer a sua providência, os céus para narrarem a sua glória. Querer, pois, granjear o louvor que pertence a Deus, é alterar a ordem e o plano da sua Providência, é frustrar o fim que se propôs dando a existência a criaturas inteligentes. Eis a razão porque Deus resolveu humilhar tudo o que se exalta (11), e porque Jesus Cristo disse:

“Ai de vós quando vos louvaram os homens, se vos comprazerdes nas suas palavras; e bem-aventurados sereis, quando disserem mal de vós” – Vae cum benedixerint vobis homines… Beati eritis cum… exprobraverint (Lc 6, 26 e 22). “Guardai-vos, continua ele, não façais as vossas boas obras diante dos homens com o fim de serdes vistos e louvados por eles” – Attendite ne justitiam vestram faciatis coram hominibus, ut videamini ab eis… Te faciente cleemosynam, nesciat sinistra tua quid faciat dextera tua (Mt 6, 1-3)

Quando dais esmola, procurai ignorá-lo vós mesmo, e que Deus só o saiba. Quando jejuais ou fazeis algumas boas obras, tende cuidado em que os homens o não advirtam, ainda que tivésseis (precaução que nos mostra quanto devemos temer o louvor dos homens), ainda que tivésseis, se isso fosse necessário para lh’o ocultar, de cingir a vossa cabeça e de lavar o vosso rosto (12). Podia Deus dizer-nos melhor quanto reprova os que preferem a glória humana à glória de Deus? (13)

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Novissimum virorum (Is 3, 3)

(2) Ego sum vermis et non homo (Sl 21, 5)

(3) Vae qui sapientes estis in oculis vestris! (Is 5, 21)

(4) Maledictus homo qui confidit in homini (Jr 17, 5)

(5) Qui sibi displicet, Deo precet; qui sibi placet, Deo displicet (São Bernardo)

(6) Nunquid gloriabiter securis, contra eum qui secat in ea?… Quomodo si elevatur virgo contra elevantem se, et exaltetur baculus, qui utique lignum est (Is 10, 15)

(7) Ut non glorietur omnis caro in conspectu ejus (1Cor 1, 29)

(8) Soli Deo honor et gloria (1Tm 1, 17)

(9) Fur et latro est qui sibi aliquid gloriae usurpare audet (Petr. Bles.)

(10) Creavit in laudem, et nomen, et gloriam suam (Dt 26, 19)

(11) Constitui, Deo humiliare omnem montem excelsum (Br 5, 7)

(12) Unge caput tuum et faciem tuam (Mt 6, 17)

(13) Dilexerumt gloriam hominum magis quam gloriam Dei (Jo 12, 43)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo VI, p. 90-93)