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Da Gratidão para com o Próximo

Meditação para o 13º Domingo depois do Pentecostes. Da Gratidão para com o Próximo

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas 17, 11-19

Naquele tempo, 11quando caminhava para Jerusalém, Jesus passou através da Samaria e da Galileia. 12Ao entrar numa aldeia, dez homens leprosos vieram ao seu encontro; mantendo-se à distância, 13gritaram, dizendo: «Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós!» 14Ao vê-los, disse-lhes: «Ide e mostrai-vos aos sacerdotes.» Ora, enquanto iam a caminho, ficaram purificados. 15Um deles, vendo-se curado, voltou, glorificando a Deus em voz alta; 16caiu aos pés de Jesus com a face em terra e agradeceu-lhe. Era um samaritano.

17Tomando a palavra, Jesus disse: «Não foram dez os que ficaram purificados? Onde estão os outros nove? 18Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?» 19E disse-lhe: «Levanta-te e vai. A tua fé te salvou.»

Meditação para o 13º Domingo depois do Pentecostes

SUMARIO

Interromperemos a ordem das nossas orações sobre a humildade, para meditar sobre a virtude da gratidão, que nos recomenda o Evangelho do dia. Consideraremos esta virtude:

1.° Como um preceito da lei natural;

2.° Como a alma da sociedade e da família.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De nos mostrarmos sempre gratos para com todos aqueles que nos obsequiarem, ainda que sejam nossos inferiores, pelos menores serviços que nos prestarem;

2.° De fazermos o maior bem que pudermos aos nossos semelhantes, sem contarmos com a sua gratidão.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Apóstolo:

“A ninguém devais coisa alguma senão o amor” – Nemini quidquam debeatis, nisi ut invice diligatis (Rm 13, 8)

Meditação para o Dia

Adoremos Nosso Senhor queixando-Se, no Evangelho deste dia, de que entre dez leprosos, que Ele tinha curado, só um viesse agradecer-Lhe:

“E os nove, diz Ele, onde estão?” – Et novem, ubi sunt? (Lc 17, 17)

Louvemo-lO por este ensino, e imploremos-Lhe a graça de bem o aproveitarmos.

PRIMEIRO PONTO

A gratidão é um preceito da lei natural

Se a lei natural nos obriga a amar os nossos semelhantes, ainda quando nos ofenderam ou foram injustos para conosco, que não devemos nós àqueles que nos prestarem serviço ou nos mostraram um terno interesse? O amor chama o amor; quem recebe, dá-se por obrigado, e o benefício recebido exige que seja retribuído. Aquele, que não paga as suas dívidas, é injusto; mas o que não paga a dívida da gratidão, é pior ainda: é vil; não tem delicadeza nem honra, não compreende que se deve ser grato, que o mais doce prazer é proclamar o benefício recebido e pagá-lo com outro ou outros; é mais falto de dignidade que os selvagens, que sabem agradecer um serviço; é mais desprezível que os brutos, muitos dos quais se mostram tão gratos a seus donos e benfeitores, que até se expõem à morte para os defender; é um ingrato, e isto diz tudo: porque a ingratidão, o mais detestável dos vícios, é um efeito da soberba e malignidade, fundada em que, como aquele que dá parece superior ao que recebe, a soberba, desejosa de dominar, não pode reconhecer aquela superioridade. Daí provém, que o soberbo se envergonha de ter recebido o benefício; oculta-o, quanto pode; irrita- se, se lh’o lembram. Daí provém que nada se esquece tanto como um benefício, e que o número dos ingratos é infinito. Para se eximir da gratidão, supõe-se que o benfeitor tem vistas interesseiras; busca-se descobrir nele injustiças repreensíveis, defeitos censuráveis, e se se lhe pode prestar algum serviço, deixa-se de lhe ser grato: Retribui-lh’o bem, diz-se. Má impressão; o homem bom nunca esquece o benefício recebido, ainda depois que o retribuiu, ainda depois de ter o prazer de lhe prestar outro maior. Não temos que arguir-nos de algumas injustiças a este respeito? Examinemos a nossa consciência.

SEGUNDO PONTO

A gratidão é a alma da sociedade e da família

O mundo só subsiste por uma mútua permutação de serviços. Deus, para nos atar a todos em vínculos de caridade, quis que todos necessitássemos uns dos outros: os superiores necessitam dos serviços dos inferiores; os inferiores, da assistência e proteção dos superiores; os iguais, dos socorros dos seus semelhantes. Percorramos todas as condições, todos as classes da sociedade, todas as idades desde a infância até à velhice, e veremos que nada pode subsistir neste mundo senão por mútuas permutações de serviços. Ora estas permutações tão necessárias à sociedade, é a gratidão que as provoca, que as desenvolve, que as torna suaves e amáveis, que é a sua alma finalmente; enquanto que a ingratidão as contraria, e muitas vezes desgosta delas. A gratidão aproxima a mão de que necessitamos, a ingratidão afasta-a; a gratidão faz que corram em nosso socorro, a ingratidão induz a que nos desamparem; a gratidão estreita os vínculos sociais, a ingratidão afrouxa-os ou quebra-os; e isto verifica-se ainda mais na vida da família. Quais são as boas famílias, senão aquelas em que os filhos e pais, maridos e mulheres, amos e criados, procuram ser serviçais e atenciosos uns para com os outros? E onde se acham essas atenções, senão onde a gratidão as provoca? Quais são as más famílias senão aquelas em que os filhos e criadas são ingratos, em que os amos se julgam dispensados de toda a gratidão para com os seus inferiores, sob pretexto de que lhes pagam, como se a benevolência e a dedicação se pagassem com dinheiro?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo VI, p. 126-129)