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Da Apresentação de Maria

Resumo histórico.

É dos Apócrifos que procede a notícia da Apresentação de Maria no templo, na idade de três anos e em cumprimento de uma promessa feita por Joaquim e Ana, pais da Virgem Santíssima. Nos conventos do Oriente celebrava- se a festa desde muito tempo. Mais ou menos em 730 tornou-se conhecida em Constantinopla, e em 1166 o imperador Manuel Comneno declarou-a também dia feriado. A partir de 1371 vemo-la celebrada na corte de Gregório XI, em Avinhão. No tempo de Sixto IV (1471-84) apareceu em Roma. Finalmente Sixto V, em 1585, tornou-a universal na Igreja toda (Nota do tradutor).

A oferta que Maria de si mesma fez a Deus foi pronta e sem demora, inteira e sem reserva

Uma oferta maior e mais perfeita do que a de Maria, ainda menina de três anos, nunca foi e nunca será feita a Deus por uma mera criatura. Apresentou-se no templo a oferecer-lhe, não aromas ou vitelos, nem talentos de ouro, mas toda a sua pessoa em perfeito e perene holocausto ao Senhor. Bem ouviu a voz de Deus, que já a chamava para dedicar-se inteiramente ao seu amor.

“Levanta-te, amiga minha, e vem” (Ct 2,10).

Queria o Senhor que desde então esquecesse sua pátria, seus parentes, tudo enfim, para aplicar-se unicamente a amá-lo e agradar-lhe.

“Ouve, filha, vê e presta atenção: esquece o teu povo e a casa de teu pai” (Sl 44,11).

Maria obedeceu imediatamente à voz divina. Consideremos, pois, quanto foi aceita por Deus essa oferta. Em primeiro lugar porque se lhe ofereceu prontamente e sem demora; depois inteiramente e sem reserva.

Sejam estes os nossos dois pontos.

I. Maria ofereceu-se a Deus sem demora

Como criança ainda, ela conhecia a grandeza de Deus

Desde o primeiro momento em que esta celeste menina foi santificada no seio de sua Mãe (que foi o primeiro instante de sua Imaculada Conceição), recebeu também o uso perfeito da razão. Pois logo aí devia começar a adquirir mérito.

Assim o afirmam por comum sentença os doutores com o Padre Suárez. Na opinião deste último o modo mais perfeito por que Deus santifica as almas consiste, segundo Santo Tomás, em santificá-las por próprio merecimento, como se deve crer que foi santificada a Santíssima Virgem. E este privilégio foi concedido aos anjos e a Adão, assevera-nos o Doutor Angélico. Ainda com maior razão devemos crer que fosse concedido a Maria. Pois, havendo-se Deus dignado fazê-la sua Mãe, temos que supor que lhe haja conferido maiores dons, que a todas as outras criaturas. Em sua qualidade de Mãe, diz Suárez, tem a Virgem certo direito singular a todos os dons de seu Filho. Em virtude da união hipostática foi justo que Jesus tivesse a plenitude de todas as graças. Assim por causa da maternidade divina conveio também que de Jesus recebesse Maria graças maiores, do que todas as dispensadas aos outros santos e anjos.

Assim, pois, logo no primeiro albor de sua vida, Maria conheceu a Deus, e tal o conheceu, que “nenhuma língua – revelou o anjo a Santa Brígida – saberia exprimir o quanto a inteligência da Virgem Santíssima se aprofundou em Deus, desde o primeiro momento em que o conheceu”.

Aos primeiros clarões dessa primeira luz, ofereceu-se ela inteiramente a seu Deus, dedicando-se exclusivamente ao seu amor e à sua glória. Disse ainda o anjo à mesma Santa:

Nossa Rainha determinou logo sacrificar a sua vontade a Deus com todo o seu amor, por todo o tempo de sua vida. E ninguém pode compreender quanto a vontade se sujeitou então a abraçar todas as coisas agradáveis ao Senhor.

Maria aprova a promessa de seus pais

Mais tarde a imaculada menina ficou sabendo da promessa de seus pais, Joaquim e Ana. Haviam prometido a Deus, e até com voto, como referem vários autores, que, se lhes concedesse prole, a consagrariam a seu serviço no templo. Conforme velho costume internavam os judeus suas filhas em cômodos que havia em roda do templo, para aí serem bem-educadas. Assim no-lo referem Barônio, Nicéforo, Cedreno, Suárez, que se estribam na autoridade do historiador Flávio Josefo, de São João Damasceno, de Jorge de Nicomedia, de Ambrósio e de Anselmo. Isso se infere claramente de uma passagem do Segundo Livro dos Macabeus (3,18-19). Quando Heliodoro quis penetrar no templo para apoderar-se do tesouro nele depositado, corria o povo em bandos de suas casas, conjurando a Deus com preces, que não permitisse a profanação de um lugar tão santo. E “até as donzelas, que antes se conservavam enclausuradas – corriam (umas) para Onias, o sumo sacerdote”. É verdade, desde o começo de sua vida já se tinha a Virgem consagrado inteiramente a Deus. Mas ao saber da promessa de seus pais, quis se oferecer solenemente e consagrar-se ao Senhor apresentando-se-lhe no templo. E assim o fez, tendo apenas três anos de idade, como atestam São Germano e o monge Epifânio. Ora, justamente nessa idade as crianças têm maior desejo e maior precisão da assistência dos pais. Maria foi a primeira a pedir-lhes, com muita insistência, que a conduzissem ao templo, em cumprimento da promessa que haviam feito. E sua santa mãe, diz São Gregório de Nissa, deu-se pressa em o fazer.

Rumo ao templo

Generosamente, portanto, Joaquim e Ana sacrificaram a Deus o que lhes era mais caro ao coração. Eis que partem de Nazaré, levando nos braços, ora um, ora outro, a diletíssima filha, que, sozinha, não teria podido fazer a pé uma viagem tão longa, como a de Nazaré a Jerusalém. De um lugar a outro vai a distância de 80 milhas (mais ou menos 30 horas de viagem). Acompanhavam- nos poucos parentes. Mas os anj os – observa Jorge de Nicomedia – em revoadas rodeavam e serviam nessa viagem a imaculada virgenzinha, que se ia consagrar a Deus.

“Como são belos os teus passos, ó filha do príncipe!” (Ct 7,1).

“Quão belos (deviam cantar os anjos), quão queridos ao Senhor, esses passos que fazes para te ires oferecer a ele, ó grande filha predileta do nosso comum Senhor!”

O próprio Deus, afirma Bernardino de Busti, fez, naquele dia, com toda a sua celeste corte, uma grande festa, vendo conduzir a sua Esposa ao templo. Pois não viu jamais criatura mais santa e mais amada que se lhe fosse oferecer. Ide, pois, – exclama São Germano de Constantinopla – ide, ó Mãe de Deus, ide alegremente à casa do Senhor, e esperai a vinda do divino Espírito, que Mãe vos fará do Verbo Eterno.
Chegada que foi a santa comitiva ao templo, a amável menina voltou- se a seus pais e de joelhos, beijando-lhes as mãos, lhes pede a bênção. E depois, sem mais se voltar para trás, sobe os degraus do templo (eram 15, como refere Árias Montano, apoiado em Josefo), e apresenta-se ao sacerdote São Zacarias, como o nomeia São Germano. Despedindo-se então do mundo, e renunciando a todos os bens que ele promete aos seus amigos, se oferece e consagra ao seu Criador.

No tempo do dilúvio, o corvo mandado por Noé fora da arca, se deixou ficar apascentando-se dos cadáveres. Mas a pomba, sem mesmo pousar o pé voltou imediatamente à arca (Gn 8,9). Muitos, mandados por Deus a este mundo, infelizes se entregam ao gozo dos bens terrenos. Não assim Maria. Conheceu que nosso único bem, nossa única esperança, nosso único amor, deve ser Deus. Conheceu que o mundo é cheio de perigos, e que melhor se liberta de suas ciladas, quem mais depressa o deixa. Quis por isso fugir dele, desde sua mais tenra idade, e foi fechar-se no sagrado retiro do templo, onde melhor podia ouvir as vozes do seu Deus, e onde melhor podia honrá-lo e amá-lo. E por este modo a santa Virgem, desde o começo, se fez toda cara e agradável ao seu Senhor, como lhe faz dizer a Santa Igreja:

“Felicitai-me, vós que amais ao Senhor; pois ainda pequenina j á agradei ao Altíssimo!”

É esse o motivo pelo qual foi comparada à lua. Mais depressa que os outros planetas, termina a lua o seu curso. Do mesmo modo Maria, mais depressa que os santos, chegou à perfeição, dando-se cedo a Deus, sem demora, e inteiramente sem reserva. Passemos ao segundo ponto, sobre o qual muito teremos que dizer.

II. Maria ofereceu-se inteiramente a Deus

Pelo voto de virgindade

Bem sabia a iluminada menina que Deus não aceita um coração dividido, mas o quer todo consagrado ao seu amor, conforme o preceito dado: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração! Começou por isso, desde o primeiro instante de sua vida, a amá-lO com todas as forças, e toda a Ele se deu. Entretanto, sua alma santíssima esperava com grande desejo o tempo de se lhe consagrar inteiramente, e de um modo mais expressivo e mais solene. Contemplemos, pois, com quanto fervor essa amante virgenzinha, vendo-se já encerrada naquele lugar santo, primeiro prostrou-se para beijar aquela terra como casa do Senhor. Em seguida adorou a infinita Maj estade do Altíssimo e lhe deu graças pelo favor de tê-la recebido tão cedo a habitar na sua casa. Ofereceu- se depois a Deus, sem reserva de coisa alguma. Entregou-lhe todas as potências e todos os sentidos, toda a mente e todo o coração, toda a alma e todo o corpo. Foi então, como se julga, que, para agradar a Deus, fez voto de sua virgindade, voto que Maria foi a primeira a fazer, segundo diz Roberto, abade. Sua oferta foi sem limitação de tempo, como assevera Bernardino de Busti. Pois era sua intenção servir a Divina Majestade no templo, por toda a sua vida, se assim fosse do agrado de Deus, sem mais sair daquele lugar! Oh! com que afeto devia então dizer: O meu amado é meu e eu sou dele (Ct 2,16). No comentário do Cardeal Hugo isso se denota: Meu Senhor e meu Deus, aqui vim para agradecer-vos e dar-vos toda a honra que me é possível; aqui viver eu quero toda para vós e por vós quero morrer, se assim for de vosso agrado. Aceitai o sacrifício que vos faz a vossa pobre serva, e ajudai-me a vos ser fiel.

Pela prática de todas as virtudes

Consideremos aqui quanto foi santa a vida de Maria no templo. Como cresce na sua luz a aurora, assim ia a Virgem crescendo sempre em perfeição. Quem poderia dizer como, de dia em dia, nela resplandeciam sempre mais belas as virtudes: a caridade, a modéstia, a humildade, a mortificação, O silêncio e a mansidão? Sobre ela diz São João Damasceno: Plantada na casa de Deus, esta bela oliveira regada pelo Espírito Santo se fez habitação de todas as virtudes. E em outro lugar: O semblante da Virgem era modesto, o ânimo humilde, as palavras amorosas, saindo de um interior bem composto. Mais adiante afirma ainda:

A Virgem afastou o pensamento de todas as coisas terrenas, abraçando todas as virtudes; admirável e rápido foi o progresso na perfeição, e assim mereceu tornar-se um digno templo de Deus.

Maria ofereceu a Deus todos os trabalhos do dia

Fala também Santo Anselmo da vida de Nossa Senhora no templo e diz: Maria era dócil, pouco falava, estava sempre composta, sempre séria, e sem jamais se perturbar. Perseverança na oração, na leitura dos Livros Santos, nos jejuns, em toda sorte, enfim, de obras virtuosas. Boaventura Baduário refere coisas mais particulares. Maria observava a seguinte ordem todos os dias. Desde o amanhecer até a hora da Terça (9 horas), dava-se à oração; de Terça até à Nona, ocupava-se em algum trabalho; à hora Nona tornava à oração, até que o anjo lhe trazia a comida, como era de costume. Procurava ser a primeira nas vigílias, a mais exata na divina Lei, a mais profunda na humildade, e em toda a virtude a mais perfeita. Ninguém jamais a viu irada; pelo contrário, tão repassadas de doçura lhe eram as palavras, que se reconhecia o Espírito Santo em sua boca. Como se lê em Baduário, a Santíssima Virgem revelou a Santa Isabel de Turíngia o seguinte: Quando meus pais me deixaram no templo, tomei a resolução de ter só Deus por Pai. Continuamente pensava no que havia de fazer para dar-lhe gosto. E a Santa Brígida disse a mesma Senhora: Determinei, além disso, consagrar a Deus minha virgindade, e não possuir coisa alguma do mundo, entretanto ao Altíssimo toda a minha vontade. E novamente a Santa Isabel: Entre todos os preceitos, tinha particularmente diante de mim o de amar a Deus. Levantava-me à meia-noite e ia ao templo orar ao Senhor, diante do altar, para que me concedesse a graça de observar os preceitos e de contemplar a mãe do Redentor. Roguei-lhe que me conservasse os olhos para vê-la, a língua para louvá-la, as mãos e os pés para a servir, e os joelhos para adorar em seu seio o Divino Filho. Mas a Santa ao ouvir isto lhe perguntou: Mas, Senhora, vós não éreis cheia de graça e de virtudes? Ao que respondeu Maria: Sabe que eu me tinha em conta da mais vil entre as criaturas, e de mais indigna das graças do céu. Por isso pedia continuamente a graça e as virtudes. Finalmente, para que nos persuadamos da necessidade absoluta que todos temos de pedir a Deus as graças que nos fazem falta, acrescentou Maria: Pensas tu que eu tenha possuído a graça e as virtudes sem fadiga? Sabe que eu graça alguma recebi de Deus sem grande fadiga, oração contínua, desejo ardente e muitas lágrimas e penitências.

Especial atenção merecem as revelações de Santa Brígida acerca dos exercícios das virtudes praticadas pela Santíssima Virgem na sua infância. Desde pequenina foi ela cheia do Espírito Santo, e à medida que crescia em idade, aumentava também em graça. Desde então estabeleceu amar a Deus de todo coração, de modo a não ofendê-lo nunca em palavras ou ações. Por isso desprezava os bens da terra, dando aos pobres tudo quanto podia. De tal temperança usava no comer, que só tomava quanto lhe era absolutamente necessário para o sustento do corpo. Ciente pela Sagrada Escritura de que Deus devia nascer de uma virgem, para salvar o mundo, abrasou-se de tal forma o seu espírito no amor divino, que não pensava senão em Deus, não desejava senão Deus e só em Deus se comprazia. Evitava, por isso, até o trato com seus pais, para que a não distraíssem da memória de Deus. Sobretudo, desejava alcançar a vinda do Messias, na esperança de ser a serva daquela feliz Virgem, que merecesse ser sua Mãe.

Ah! certamente por amor desta excelsa menina acelerou o Redentor sua vinda ao mundo. Enquanto Maria em sua humildade nem se julgava digna de ser a serva da Divina Mãe, foi ela mesma a eleita para essa sublime dignidade. Com a fragrância de suas virtudes e poderosas súplicas atraiu ao seu seio virginal o Filho de Deus. Por isso dela diz o Divino Esposo: Ouviu-se a voz da rola em nossa terra (Ct 2,12). À semelhança da rola, amava sempre a solidão, vivendo neste mundo como num deserto. Como a rola que vai carpindo pelos campos, Maria sempre gemia no templo, lamentando as misérias do mundo perdido, e pedindo a Deus a comum redenção. Oh! com que afeto e fervor repetia diante de Deus as súplicas dos profetas, para que mandasse o Redentor!

Era, em suma, o objeto de complacência de Deus, o ver subir sempre esta virgenzinha à mais alta perfeição, semelhante a uma espiral de incenso, rico das fragrâncias de todas as virtudes. Assim já a descreve o Espírito Santo nos Cânticos: Quem é esta, que sobe pelo deserto, como uma varinha de fumo composta de aromas de mirra, e de incenso, e de toda a casta de polilhos odoríferos? (3,6). Era, na verdade, esta santa menina (diz o Pseudo-Jerônimo) o jardim de delícias do Senhor, que nele achava toda sorte de flores, e todos os perfumes das virtudes. É, por isto, afirma São João Crisóstomo, que Deus escolheu Maria para sua Mãe na terra, porque aqui não achou virgem mais santa e mais perfeita do que ela, nem lugar mais digno para sua morada do que seu sacrossanto seio. Aqui concordam São Bernardo e Santo Antonino: Para ser eleita e destinada à dignidade de Mãe de Deus, devia a Santíssima Virgem possuir uma perfeição tão grande e consumada, que nela excedesse todas as outras criaturas.

Assim, pois, a santa menina apresentou-se no templo e se ofereceu totalmente a Deus. Apresentemo-nos também nós neste dia à Santíssima Virgem, sem demora e sem reserva. Peçamos-lhe que nos ofereça a Deus. Não nos repelirá ele, quando apresentados pelas mãos daquela que foi o templo vivo do Espírito Santo, as delícias de seu Senhor e a Mãe eleita do Verbo Eterno. Tudo esperemos dessa gratíssima e excelsa Soberana, sempre extremosa no recompensar os obséquios de seus devotos servos. É o que vamos ver no seguinte exemplo.

Exemplo

Sóror Domingas do Paraíso nasceu de pais pobres, em uma aldeia chamada Paradiso, perto de Florença. Desde pequenina começou a servir a Mãe de Deus. Jejuava em sua honra todos os dias da semana; nos sábados dava aos pobres a comida de que se tinha privado. Nesse dia procurava o jardim da casa ou os campos vizinhos, onde colhia quantas flores podia, indo com elas enfeitar uma imagem da Santíssima Virgem com o Menino ao colo, que havia em casa. Vejamos agora com que favores a gratíssima Senhora recompensou os obséquios desta sua serva. Estando um dia Domingas à janela (teria 10 anos então), viu na rua uma senhora de bela aparência com um menino, ambos estendendo a mão como se pedissem esmola. Vai logo buscar um pão para aqueles pobres, quando, de repente, sem que se abrisse a porta, os vê a seu lado, dentro de casa. Repara então que a criança tinha feridas as mãos e o peito. Pergunta à bela senhora: Quem feriu o menino? – Foi o amor, respondeu-lhe a mãe. Encantada com a beleza e modéstia do pequenino, pergunta-lhe Domingas se lhe doíam as feridas. Mas ele só responde com um sorriso. Entretanto mãe e filho foram se aproximando da imagem que costumava ser enfeitada por Domingas.

– Dize-me, filha, o que te move a coroar de flores esta imagem? – pergunta-lhe aquela senhora.
– Move-me o amor que tenho a Jesus e Maria.
– E quanto os amas tu?
– Amo-os quanto posso.
– E quanto podes?
– Quanto eles me ajudam.
– Continua, continua a amá-los, disse-lhe a senhora, que eles mui bem te recompensarão no paraíso.

Sentiu então Domingas um perfume celeste a desprender-se das chagas. Perguntou por isso à mãe pelo bálsamo com que as ungia e onde se podia comprá-lo. Ao que respondeu a senhora: Compra-se com a fé e com as boas obras. Ofereceu depois pão ao menino, mas a mãe disse-lhe: A comida deste meu filho é o amor; dize-lhe que amas a Jesus, e o contentarás. O menino, a este nome de amor, começou a alegrar-se, e voltando para Domingas, perguntou-lhe quanto amava a Jesus. – Amo-o tanto, que vivo pensando nele, noite e dia; só me preocupo em dar-lhe o maior gosto possível, responde a interrogada. – Pois bem, acrescentou o menino, ama-o, que o amor te ensinará o que deves fazer para contentá-lo.

Aumentando cada vez mais a fragrância que se exalava das chagas, exclamou Domingas: Ó meu Deus, essa fragrância me faz morrer de amor. Se ela é tão suave numa criança, que será então no paraíso? – Mas eis que se muda a cena, de repente: a Mãe da criança aparece revestida como uma Rainha e circundada de luz, e o menino resplandecente como um sol de beleza. Ei-lo que toma as flores, espalha-as sobre a cabeça de Domingas, que reconhece então naqueles personagens a Jesus e Maria, e prostra-se para venerá-los devidamente. Assim terminou a visão. Mais tarde Domingas tomou o hábito dominicano e morreu em odor de santidade no ano de 1553.

Oração

Ó dileta de Deus, amabilíssima menina Maria, ah! se assim como vos apresentastes no templo e prontamente e inteiramente vos consagrastes à glória e ao amor do vosso Deus, eu pudesse também oferecer-vos neste dia os primeiros anos de minha vida para dedicar-me todo ao vosso serviço, ó santa e dulcíssima Senhora minha, como seria então feliz! Mas não é mais tempo, porquanto, infeliz, tenho perdido tantos anos a servir o mundo e os meus caprichos, quase inteiramente esquecido de vós e de meu Deus. Mas é melhor começar tarde do que nunca. Eis, ó Maria, que hoje a vós me apresento, e me ofereço todo ao vosso serviço, por aquele pouco ou muito tempo que me resta de vida neste mundo. A vosso exemplo renuncio a todas as criaturas, e inteiramente me dedico ao amor de meu Criador. Consagro-vos, pois, ó minha Rainha, a minha mente para que pense sempre no amor que mereceis; minha língua, para louvar-vos; meu coração, para amar-vos. Aceitai, ópuríssima Virgenzinha, a oferta que vos apresenta este mísero pecador. Aceitai-a, eu vo-lo rogo, por aquela consolação que sentiu o vosso coração, quando no templo vos destes a Deus. E se tarde me dedico ao vosso serviço, é justo que compense o tempo perdido, duplicando os obséquios e o amor Ajudai com vossa poderosa intercessão, ó Mãe de misericórdia, a minha fraqueza, e impetrai-me do vosso Jesus a perseverança e a fortaleza para ser–vos fiel até a morte, a fim de que, servindo-vos sempre nesta vida, possa depois ir louvar-vos eternamente no céu.

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