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Batismo de Nosso Senhor

Meditação para a Quinta-feira da 6ª Semana depois da Epifania. Batismo de Nosso Senhor

Meditação para a Quinta-feira da 6ª Semana depois da Epifania

SUMARIO

Depois de ter passado largos anos retirado em Nazaré, Nosso Senhor, antes de começar o Seu ministério apostólico, encaminhou-Se para as margens do Jordão, onde recebeu o batismo de São João. Meditaremos este tocante mistério, e dele receberemos:

1.° Uma lição de humildade;

2.° Uma lição de zelo pela nossa perfeição.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De tratarmos sempre o próximo com atenção e de humilharmo-nos voluntariamente para o honrar;

2.º De prosseguirmos sem descanso na obra da nossa santificação como o negócio capital da vida.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra que o Pai celestial diz de Jesus Cristo:

“Este é o meu Filho amado, no qual tenho posto toda a minha complacência” – Hic est Filius meus dilectus, in quo mihi complacui (Mt 3, 17)

Meditação para o Dia

Transportemo-nos pelo pensamento às margens do Jordão; consideremos ali Jesus Cristo recebendo o batismo de São João. Os céus abrem-se, o Espírito Santo desce e pousa sobre Ele, e o Pai celestial proclama que Jesus é o Seu Filho amado, em quem tem posto toda a Sua complacência. Que magnifico espetáculo! Adoremos a Santíssima Trindade, que assim Se revela neste mistério, e supliquemos-Lhe que nos faça tirar bom proveito das lições que encerra.

PRIMEIRO PONTO

O Batismo de Jesus é uma lição de Humildade

Com efeito, pode haver mais profunda humilhação, o Santo dos santos confundido com os pecadores, o Filho de Deus aos pés de um homem, e recorrendo ao seu ministério como se tivesse tido necessidade de ser purificado! São João escusa-se de o batizar:

“Eu sou, lhe diz ele, o que devo ser batizado por Vós, e Vós vindes a mim? Eu batizo em água, e Vós batizais no Espírito Santo. — Deixa por ora, respondeu Jesus Cristo, é assim que nos convém cumprir toda a justiça” – Sine modo; sic descet nos implore omnem justitiam (Mt 3, 15)

João obedece com um profundo enleio; o grande Deus do céu humilha-Se debaixo da mão do Seu servo, e recebe dele o batismo de penitência. Admiremos esta disputa de humildade. Nem João se ensoberbece com a honra que lhe é feita, nem Jesus inveja a confiança dos numerosos discípulos que cercam João: ambos vivem em perfeita harmonia, dando um ao outro testemunhos honrosos; nunca disputam, a não ser sobre quem cederá e se humilhará mais. Convém que Ele cresça, diz São João, e que eu diminua, que eu me aniquile, e que só Ele apareça (1). Nem sequer sou digno de desatar a correia dos seus sapatos (2), tão superior é a mim.

Ó admirável humildade de São João e de Jesus, que nos ensina a não nos antepormos aos outros, a elogia-los voluntariamente, ainda quando fizessem menos bem do que nós, a respeitar os nossos competidores, a ser sempre atenciosos com eles, a esconder-nos nas ocasiões ostentosas, e a ceder a glória disso aos outros? São estas as nossas disposições?

SEGUNDO PONTO

O Batismo de Jesus é uma lição de zelo pela nossa Santificação

1.° Jesus, a santidade em pessoa, quer, antes de começar a Sua missão, purificar-Se ainda, aos olhos da criatura, com o batismo de São João, para nos ensinar que nunca devemos julgar-nos bastantemente puros; que, sujeitos a fragilidades quotidianas, nunca devemos desprezar meio algum de nos purificarmos mais. Nós não vemos sempre as nossas misérias, mas nem por isso são menos deploráveis: ora são intenções indiretas, boas talvez ao princípio, mas que degeneram durante a ação; ora são repetições de amor-próprio, afetações de vaidade, impaciências com uns, indulgência excessiva com outros; depois mil laços armados à nossa inocência pelo mundo e pelo demônio.

Oh! Quão grande necessidade temos de purificar-nos sempre mais pela confissão frequente, pelo exame geral e particular, por conversações assíduas com Deus!

2.° No momento em que Jesus sai do rio Jordão, o céu abre-se e de lá soa uma voz que diz à terra:

“Este é o meu Filho amado, no qual tenho posto toda a minha complacência” – Hic est Filius meus dilectus, in quo mihi complacui (Mt 3, 17)

Para nos mostrar que quanto mais nos humilhamos, tanto mais Deus nos exalta. A voz do céu acrescenta mais tarde no Tabor:

“Ouvi-O” – Ipsum audite (Mt 17, 5)

Palavra que encerra toda a vida cristã. Ouvir Jesus Cristo, esta palavra diz tudo: ouvi-lO, não só no Seu Evangelho, na Sua doutrina e nos Seus exemplos; mas também ouvi-lO quando nos fala pela Sua graça, e deixarmo-nos guiar pelas Suas santas inspirações. Consiste nisto o segredo da perfeição. Desgraçada da alma muito distraída para O ouvir, muita frouxa para Lhe obedecer, bastantemente escrava de si própria para se deixar arrebatar pelo gosto e prazer, pelo amor do século e do seu bem-estar, pelos caprichos do orgulho e da vida sensual! Mas ditosa da alma atenta em ouvi-lO interiormente e com um espírito de meditação e de oração, generosa em obedecer-Lhe! Se persiste na Sua obediência, fará na perfeição rápidos progressos. Reconhecemo-nos ante esta pintura?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Oportet illum crescere, me autem minui (Jo 3, 30)

(2) Ego non sum dignus ut solvam ejus corrigiam calceamenti (Jo 1, 27)

Voltar para o Índice do Tomo I das Meditações Diárias de Mons. Hamon

(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 306-309)