Há Anjos e eles existem em grande número
A Sagrada Escritura testemunha a existência dos anjos. Muitas passagens, tanto do Antigo, como do Novo Testamento, comprovam-no.
O número dos anjos é muito grande. Se alguém tem cem ovelhas, diz Jesus Cristo, e uma delas se extravia, não deixa as noventa e nove restantes na montanha e não corre a buscar a que se extraviou? (Mt 18, 12). Pelas noventa e nove ovelhas, os Santos Padres entendem os anjos que perseveraram, e pela ovelha perdida, entendem o gênero humano. Quão grande é, pois, o número dos anjos, posto que são comparados com as noventa e nove ovelhas.
Há nove Coros Angélicos
Há nove coros de anjos, nomeados e distintos na Escritura: os Anjos, os Arcanjos, os Tronos, as Dominações, as Virtudes, os Principados, as Potestades, os Querubins e os Serafins.
Os Anjos estão justificados por sua fé em Jesus Cristo
Os anjos são também ovelhas do Filho do homem. Ele é seu Salvador, mas não seu Redentor, como o é dos homens, porque os anjos (bons) não pecaram. Porém, por Ele, mereceram os anjos todas as graças e toda a sua glória, isto é, sua eleição, sua predestinação, sua vocação, todos os recursos suficientes, prevenientes, concomitantes e eficazes; Ele é o princípio de seu mérito e o aumento de sua graça e de sua glória.
Havendo nos anjos uma fé viva em Jesus Cristo feito homem, foram justificados por esta fé. Assim falam alguns teólogos.
Formosura dos Anjos
Tendo saído Tobias, encontrou-se com um jovem de deslumbrante formosura que levava cingidas as vestes como um viajante pronto a pôr-se em caminho (Tob 5, 4).
Nos livros dos Macabeus, vê-se também descrito o esplendor dos anjos. Várias vezes, tendo aparecido os anjos na antiga Lei, os homens os tomavam pelo próprio Deus e queriam adorá-los… tão formosos eram eles!
No céu, os anjos formam a corte do Rei dos reis; estão rodeados de formosura e de glória como de uma esplêndida veste.
Felicidade dos Anjos
Os anjos das crianças veem sempre a face de meu Pai que está nos céus, disse Jesus Cristo (Mt 8, 10) .
Parecia que eu comia e bebia convosco, disse o anjo a Tobias (pai e filho); porém, eu uso de um alimento invisível e uma bebida que os homens não podem ver: Videbar quidem vobiscum manducare et bibere sed ego cibo invisibili et potu qui ab hominibus videri nonpotest utor (Tob 12, 19).
Funções o Anjo da Guarda
O ministério dos Anjos da Guarda consiste:
- em afastar-nos os perigos, seja do corpo, seja da alma;
- em iluminar, instruir e inclinar-nos a bons pensamentos, a piedosos desejos e a obras santas;
- em impedir que os demônios sugiram-nos maus pensamentos, em afastar as ocasiões de pecado e em ajudar a vencer as tentações;
- em oferecer a Deus as orações daqueles que eles protegem;
- em rogar por estes;
- em corrigir os homens, se pecam;
- em assistir-lhes na morte, fortificar-lhes, ajudar-lhes, consolar-lhes etc.;
- em conduzir suas almas ao céu, depois da morte, e, se vão ao Purgatório, em acompanhá-las ali, e consolá-las até que se achem livres.
O universo tem um anjo da guarda, cada nação, cada cidade, cada paróquia, cada casa, cada pessoa em particular tem também o seu.
O Senhor, diz o Salmista, mandou a seus anjos que os guardem em todos os vossos caminhos: Angelis suis mandavit de te, ut custodiant te in omnibus viis tuis (Sl 90, 11). Levar-te-ão em suas mãos, para evitar que teu pé tropece em alguma pedra: In manibus portabunt te, ne forte offendas ad lapidem pedem tuum (Sl 90, 12).
Vede, diz o Senhor no Êxodo, que enviarei meu anjo para que vos preceda, guarde-os no caminho e os introduza no lugar que vos tenho preparado. Respeitai e escutai sua voz, e guardai-vos de desprezá-lo[1].
Tobias disse a seu filho e a seu guia: Oxalá seja feliz vossa viagem: Deus vele em vosso caminho e seu anjo vos acompanhe![2] Tobias disse a sua esposa desconsolada pela marca de seu filho: Não chores; nosso filho chegará ao término de sua viagem com boa saúde, voltará entre nós da mesma maneira, e seus olhos o verão; porque creio que o anjo de Deus o acompanha, que tudo disporá em seu favor e que, por conseguinte, voltará pleno de alegria (Tob 5, 26-27). Ache-se o anjo santo do Senhor em vosso caminho, e vos preserve de todo perigo, disse Raguel ao filho Tobias, quando este partiu para regressar à casa de seu pai[3].
Os anjos, diz a Escritura, estão de pé, ante o Senhor. Estar de pé ante Deus significa:
- que estes anjos se dirigem a Deus e pedem-lhe sua divina luz para conhecer sua Vontade em suas funções;
- que lhe oferecem as boas obras, os sacrifícios, as esmolas e as orações dos homens;
- que estão prontos a obedecer ao Senhor, como soldados preparados ao combate e como seus servidores;
- que assistem aos juízos de Deus defendendo a causa dos homens contra as acusações dos demônios, e aguardando a sentença; e
- que permanecem diante de Deus para O louvar, para contemplar sua divina Face e gozar com esta vista de uma felicidade suprema. Estão sempre diante do Senhor, porque não cessam de desfrutar de sua presença.
Observai:
- a dignidade da alma, posto que se lhe foi destinado um anjo para guardá-la;
- a humildade do anjo ao baixar-se até nós;
- sua caridade;
- nossa felicidade; e
- a bondade de Deus.
Felicidade e vantagens que nos proporcionam os Anjos
A presença dos santos anjos, diz Santo Antônio, é dupla e amável: não riem, não gritam, não falam; senão que, silenciosos, com bondade e doçura, apressam-se a derramar em nossos corações a alegria, o entusiasmo e a confiança. Porque o Senhor, que é o manancial de toda alegria, está com eles. Então, nosso espírito, sem turbação, antes, ao contrário, sereno e tranquilo, fica iluminado com seus resplendores. Então, a alma, plena do desejo das celestiais recompensas, buscando romper, se o pudesse, o cárcere de seu corpo, e gemendo sob o peso de seus membros, apressa-se a ir com os anjos ao céu. A bondade dos anjos é tão grande, que se alguém, atendida a fragilidade da condição humana, fica deslumbrado por sua claridade, afastam, em seguida, este temor e todo terror.
O mesmo Santo indica os sinais pelos quais se pode reconhecer a presença dos anjos maus, que são os demônios. Quando os maus espíritos estão presentes, diz:
- os nossos rostos põem-se tristes;
- ouvem-se ruídos horríveis;
- somos assaltados por pensamentos abomináveis;
- somos vítimas de movimentos desordenados, e a alma tem e experimenta certo estupor;
- excitam o ódio, o pesar, o desgosto;
- trazem-nos à memória a recordação do mundo;
- despertam-nos o sentimento[4] de havê-lo abandonado;
- fazem-nos temer a morte;
- inflamam-nos a concupiscência e fazem-nos experimentar cansaço na virtude;
- embotam-nos o coração.
Porém, se depois do temor vem a alegria, a confiança em Deus e a caridade, sabei que vosso anjo bom está ali; ele é quem vos socorre, é quem vos inspira e dirige (In vita Patr.).
O Deus vivo é-me testemunha, diz Judite depois de haver cortado a cabeça de Holofernes, que seu Anjo me guardou quando saí da cidade, durante minha permanência no campo, e ao meu regresso. O Senhor não permitiu que eu, servidora sua, fosse manchada, senão que me permitiu voltar a vós sem que tenha sofrido nenhuma mancha, plena de alegria pela vitória que me deu, por minha salvação e por vossa liberdade (Jud 12, 2).
Quando Judas Macabeu e os seus iam combater junto aos muros de Jerusalém, um cavaleiro saiu-lhe ao encontro: ia com sua veste branca, tinha armas de ouro e agitava sua lança. Então todos bendisseram juntos à misericórdia do Senhor, plenos de confiança e prontos a desafiar não somente aos homens, senão às bestas mais ferozes, desprezando os muros de ferro. Iam, pois, apressadamente ajudados pelo céu, e o Senhor, infinitamente bom, velava por eles. Precipitaram-se como leões sobre seus inimigos e os destruíram (2 Mc 11, 8-40). Com efeito, não há obstáculos insuperáveis, seres invencíveis, nada impossível, nada difícil para um Anjo.
Um anjo desceu até Azarias e seus companheiros na fornalha, e afastou as chamas. Fez soprar um vento fresco como a brisa da manhã, e o fogo não alcançou nem lhes causou o menor mal (Dn 3, 49-50). Então, Nabucodonosor, rompendo o silêncio, exclamou: Bendito seja o Deus de Sidrac, de Misac e de Abdênago; Ele enviou seu anjo e libertou a seus servidores que creram Nele (Dn 3, 95).
O Deus a quem sirvo, disse Daniel na cova dos leões, enviou seu anjo, cerrou as bocas das feras, e não me fizeram dano algum (Dn 11, 22).
São Pedro está aferrolhado: desce seu anjo, ilumina o cárcere, rompe as cadeias do príncipe dos Apóstolos, abre as portas e lhe diz: Levanta-te depressa. E no mesmo instante caíram-lhe as cadeias das mãos. Posto Pedro em liberdade e desaparecido de sua vista o anjo, caiu em si e disse: agora vejo que o Senhor me enviou seu anjo, libertou-me da mão de Herodes e da expectativa de todo o povo judeu.
O que devemos aos Anjos da Guarda
Deus mandou a seus anjos que cuidem de vós (Sl 93). Quanto respeito e reconhecimento devem nos inspirar estas palavras, diz São Bernardo.
Quanta confiança devem dar para o vosso Anjo da Guarda, quando respeito por sua presença, quanto reconhecimento por sua benevolência e quanta confiança por seus desvelos! Não façais diante dele o que não vos atreveis a fazer diante de mim. Quantum tibi debet hoc verbum infere reverentiam, affere devotionem, confere fiduciam! Reverentiam pro presentia, devotionem por benevolentia, fiduciam pro custodia tu ne audeas, illo praesente, quod, vidente me , non auderes (In Psalm. XC, Serm. XII).
Senhor, diz o Salmista, farei ouvir os cantos de vossa glória, na presença dos anjos: In conspectu angelorumpsallam tibi (Sl 137, 2).
Enviarei a meu anjo diante de vós, diz o Senhor, respeitai-o, escutai a sua voz e não o desprezeis, porque se fizeres algum mal, não o vos perdoará, e nele se acha o meu Nome. E se escutardes sua voz e observardes seus mandamentos, serei inimigo de vossos inimigos e afligirei aos que vos afligem (Ex 23, 21-22).
Que vida devemos levar em sua presença
Como os anjos se ocupam em iluminar-nos, em purificar-nos e em fazer-nos perfeitos, devemos corresponder à suas bondades… Devemos levar uma vida santa, ter costumes puros, viver em nosso corpo como em um corpo que não nos pertence, ser, em uma palavra, anjos na terra a fim de merecer estar reunidos com eles na mansão de glória. São Paulo no-lo diz: Já não sois estrangeiros nem migrantes, mas pertenceis à cidade dos santos e à casa de Deus: Jam non estis hospites et advenae, sed cives sanctorum et domestici Dei (Ef 2, 19).
É preciso não perder de vista a presença de nossos Anjos Custódios; devemos rogar-lhes, falar-lhes frequentemente e dar-lhes graças…
É preciso não lhes entristecer nem afligir-lhes com nossos pecados… os anjos da paz, diz Isaías, choravam amargamente: Angelis pacis amare flebant (Is 33, 7). Evitemos-lhes essas lágrimas amargas, sejamos sua alegria.
Assim como a fumaça afugenta as abelhas, diz São Basílio, e o mal odor às pombas, assim o pecado, esta chaga miserável e asquerosa, afasta de nós o Anjo Custódio de nossa vida: Sicut fumus apes, et faetor columbas fugat, sic miserabile etputidumpeccatum repellit vitae nostrae custodem angelum (In Psalm.). Fujamos, pois, do pecado, e evitemo-lo, já que é inimigo mortal de Deus, dos anjos e dos homens.
Referências:
[1] Ecce ego mittam angelum meum qui praecedat te et custodiat in via et introducat ad locum quem paravi observa eum et audi vocem eius nec contemnendum putes (Ex. XXIII, 20, 21a).
[2] Dixit bene ambuletis et sit Deus in itinere vestro et angelus eius comitetur vobiscum (Tob. 5, 20b).
[3] Angelus Domini sanctus sit in itinere vestro perducatque vos incolomes (Tob. X, 11a).
[4] Sentimento de tristeza ou pesar por haver abandonado o mundo e os seus vícios (Nota do tradutor).