Meditação para a Quarta-feira da 4ª Semana depois da Páscoa
SUMARIO
Continuaremos a meditar sobre o procedimento que devemos ter no estado de desconsolação, e veremos que então convém:
1.° Que sejamos mais exatos que nunca aos nossos exercícios de piedade;
2.° Que nos conservemos na união com Deus.
— Tomaremos depois a resolução:
1.º De não cercearmos as nossas práticas de piedade, apesar do pouco gosto que nelas acharmos;
2.° De perseverarmos, ainda que sem atrativo, no espírito de recolhimento e de união com Deus.
O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Santo Agostinho:
“Deve-se ser fiel a Deus nas mínimas coisas” – In minimis fidelem ecce maximum est
Meditação para o Dia
Adoremos Jesus Cristo no horto das Oliveiras, recomendando aos seus Apóstolos que vigiem e orem, quando se aproximar a tentação (1). Eles estavam com sono; não tinham gosto pela oração. Não obstante, Nosso Senhor diz-lhe: Vigiai e orai. O gosto não é necessário, mas a oração é indispensável. Agradeçamos-Lhe tão útil advertência.
PRIMEIRO PONTO
Nos dias de Desconsolação convém que sejamos Exatos nas nossas Práticas de Piedade
As práticas da piedade são o alimento da alma. Reduzi-las a menos é enfraquecê-la, como se enfraquece o corpo, diminuindo o seu alimento: e este enfraquecimento é tanto mais perigoso nesses momentos de desconsolação, que então a alma está já enfraquecida pela subtração das graças. Esta privação de luz ali começa a noite; a supressão dos exercícios acaba-a e lança a alma em completas trevas. As desconsolações põem a alma à borda do precipício; os pios exercícios são o ramo que a ampara e a impede de cair; sem eles, vem-se a ser todo terrestre e sensual; não se tem já o menor zelo pela salvação; e a alma está no maior perigo. Deve-se então mais do que nunca ser exato nos exercícios espirituais, conceder o mesmo tempo à oração, recitá-la na mesma altitude religiosa, observar a mesma regra de vida, a mesma repressão dos sentidos, numa palavra, nada diminuir do que se fazia antes: pouco importa que nisso se ache desgosto e enfado. Os nossos exercícios feitos sem gosto nos salvarão tanto melhor que serão mais meritórios e provarão melhor a Deus o nosso amor.
Temos nós seguido estas regras?
SEGUNDO PONTO
Nos dias de Desconsolação convém que nos Conservemos na União com Deus
Como no estado de desconsolação não achamos consolação em nós, somos levados a buscá-la fora de nós e a distrair-nos. Quem cede a esta tentação agrava o seu mal. É então, ao contrário, que convém que nos ocupemos mais de Deus no nosso interior, que nos guardemos dos pensamentos inúteis e das quimeras, que distraem da Sua presença, que moderemos as pressas e preocupações, o desejo de ver e de falar, a imodéstia do porte e do andar que o fazem esquecer. Quando Deus vê numa alma a resolução de se conservar constantemente, ainda que sem gosto, recolhida em si, de viver no árido deserto do seu coração com a mesma fidelidade que nos dias de devoção sensível, compadece-se de tão santas disposições, e não demora a visita da Sua graça, ao menos no curso ordinário da Sua Providência. Bem depressa fez cair o maná nesse deserto; tira desse coração duro como a rocha a água das celestiais consolações (2). Acreditemos na experiência do Rei-profeta:
“No dia da minha tribulação, diz ele, lembrei-me de Deus e me deleitei” – Renuit consolari anima mea, memor fui Dei et dele ctatus eum (Sl 76, 3)
Poderosa animação para nós nos dias de provações!
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
Referências:
(1) Vigilate et orat ut non intres in tentationem (Mt 26, 41)
(2) Flabit spiritus ejus, et fluent aquae (Sl 77, 18)
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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 52-55)