Meditação para o dia 09 de Maio
Maria intercede sem cessar pelos pecadores
Afirma o beato Amadeu que nossa Rainha está na presença da Divina Majestade, continuamente intercedendo por nós com as suas poderosas orações. Profunda conhecedora que é de nossas misérias e aflições, não pode desapiedar-se de nós. Levada pelos sobressaltos de um coração maternal, compassivo e benigno, procura como nos socorrer. A cada um de nós, por miserável que seja, exorta por isso Ricardo de São Lourenço a recorrer confiadamente a tão amável advogada, ha firme certeza de achá-la pronta a vir em nosso auxílio. Ela está sempre disposta a orar por todos, escreve Godofredo abade.Oh! Com quanta eficácia e amor, diz São Bernardo, não trata esta nossa advogada do problema de nossa salvação! Não cessa Conrado de Saxônia de admirar o afeto e o empenho com que Maria continuamente intercede por nós junto à Divina Majestade e para nós pede o perdão, o auxílio das graças e o livramento dos perigos, bem como a consolação nos sofrimentos. Em seguida a ela se dirige nestes termos:
“Confessamos que no céu só temos a vós como única e solícita protetora”
Quer ele dizer: É verdade que todos os santos interessam-se por nossa salvação e pedem por nós; mas a caridade e ternura demonstradas por vós, alcançando-nos tantas misericórdias de Deus, nos obrigam, a declarar-vos como nossa única advogada no céu, a única que no verdadeiro sentido da palavra é amante e solícita de nossa salvação. E como é grande essa solicitude de Maria em falar continuamente em nosso favor junto de Deus! Quem poderá medi-la jamais? No ofício de proteger-nos não conhece a Virgem o que seja fadiga, diz São Germano. Que bela palavra! Maria roga e sempre torna a rogar por nós e não se cansa de o fazer, para nos livrar dos males e nos obter as graças. A tal ponto chega sua compaixão perante nossas misérias e seu amor para conosco!
Pobres pecadores! que seria de nós, se não tivéssemos esta grande advogada! Quanto a considera seu Filho e nosso Juiz por causa da compaixão, da prudência que nela encontra! Tanto a considera, que não pode condenar pecador algum que se acha sob seu patrocínio, diz Ricardo de São Lourenço. Por isso, João, o Geômetra, a saúda dizendo-lhe: Salve, ó vos que sois o direito que resolve todas as demandas! Isto é: Em toda demanda ganha aquele a cujo lado está essa mui sábia advogada. De sábia Abigail lhe chama por isso Conrado de Saxônia. Esta foi aquela mulher que soube aplacar com os seus eloquentes rogos o rei Davi, quando estava irritado contra Nabal. E bendisse-a Davi, agradecendo-lhe porque o livrara de vingar-se de Nabal com sua própria mão. (1 Rs. 25 24,ss.). Exatamente o mesmo faz Maria no céu, sem cessar, em favor dos inumeráveis pecadores. Pois soube muito bem com suas meigas e prudentes súplicas aplacar a justiça de Deus. Louva-a por isso Deus e quase lhe agradece, porque o detém de castigar os culpados como mereceriam.
Maria, a fiel cópia da Misericórdia Divina
Foi para dispensar-nos todas as misericórdias possíveis, afirma São Bernardo, que o Eterno Padre, além de Jesus Cristo, nosso principal advogado, nos deu ainda Maria Santíssima como advogada. Não há dúvida, Jesus é o único medianeiro de justiça entre Deus e os homens, o único que em virtude dos próprios méritos nos pode obter graça e perdão e de acordo com suas promessas também o quer. Mas como em Jesus Cristo reconhecem e temem os homens a majestade divina, aprouve a Deus dar-nos outra advogada a quem recorrer pu-déssemos com maior confiança e menor receio. E temo-la em Maria, fora de quem não acharemos outra nem mais poderosa para a Divina Majestade, nem mais misericórdia para conosco. Grande injúria faz à piedade desta amável advogada quem se intimida de vir à sua presença. Pois ela nada tem de severo e de terrível, mas é toda suavidade, toda clemência, toda amabilidade. Lê e relê quanto quiseres, prossegue São Bernardo, o que está escrito nos Santos Evangelhos, e se encontrares um só ato de severidade em Maria, então teme chegar-te a seus pés. Mas o não acharás em parte alguma. Recorre, pois, a ela alegre e confiadamente, que por sua intercessão ela te salvará.
Belíssimas são as palavras que Guilherme de Paris faz o pecador pronunciar diante de Maria:
Ó Mãe de meu Deus! Reduzido à miséria por muitos pecados, a vós recorro cheio de confiança. Se me repelirdes, mostrar-vos-ei que estais em certo modo obrigada a ajudar-me, porque toda Igreja dos fieis chama e clama que sois Mãe de misericórdia. Porque Deus muito vos quer, também sempre atende vossos rogos. Jamais falhou vossa grande piedade; vossa dulcíssima afabilidade repeliu nunca pecador algum, ainda de todos o maior, que a vós se tenha recomendado. Como então? Será falsamente ou em vão que a Igreja toda vos de-nomina advogada sua e refúgio dos miseráveis? Que minhas culpas, ó minha Mãe, não vos impeçam de exercer esse grande ministério de misericordiosa advogada e medianeira de paz entre Deus e os homens, como seguro refúgio e única esperança dos miseráveis. A quem deveis vossa riqueza em graça e em glória e mesmo vossa dignidade de Mãe de Deus? Posso dizê-lo? Deveis aos pecadores tudo quanto possuís; por causa deles o Verbo Divino vos elegeu para sua Mãe.
Sois a Mãe de Deus, abristes para o mundo a fonte de piedade, e por isso longe esteja de nós o pensamento de que fechar-se possa vosso compassivo coração perante um miserável e abandonado. Assim, pois, já que é vosso ofício ser medianeira entre Deus e os homens, assisti-me pela vossa grande bondade, a qual é incomparavelmente maior que todos os meus pecados.
EXEMPLO
São Pedro Damião conta-nos o seguinte de seu irmão Marino, apoiando-se no testemunho de outro seu irmão, que se fez monge depois de haver deixado o arquidiaconato. Marino pecara gravemente contra a pureza e pouco depois fora rezar diante de um altar de Nossa Senhora, e a ela se consagrou. Em sinal de sua entrega, cingiu o pescoço com uma corda e disse à Mãe de Jesus:
“Ó Senhora, espelho de pureza, eu, miserável pecador, ofendi a Deus e a vós, faltando contra essa virtude. Não conheço remédio melhor do que me consagrar ao vosso serviço. Eis que por isso eu me consagro a vós; aceitai este rebelde e não me desprezeis”
Deixou ao pé do altar uma quantia de dinheiro e prometeu todos os anos pagar a mesma importância, em sinal de sua escravidão. Estando para morrer, depois de uma longa vida passada no temor de Deus, disse: Levantai-vos, levantai- vos; mostrai à Senhora o vosso respeito. Que extraordinária graça me dispensais, ó Rainha do céu, dignando-vos visitar o vosso escravo. Abençoai-me, minha Senhora, e não permitais que eu me perca, depois de haver recebido a vossa visita. — Nesse ínterim chegou seu irmão Damião. A este Marino falou da visão e da bênção que Nossa Senhora lhe dera. Ao mesmo tempo queixou-se de que os presentes tinham ficado assentados, quando Maria apareceu. Pouco depois entregou sua alma a Deus.
ORAÇÃO
Ó grande, excelsa e gloriosíssima Senhora, prostrados aos pés do vosso trono, nós vos rendemos nossas homenagens, daqui deste vale de lágrimas. Nós nos comprazemos na glória imensa, de que vos enriqueceu o Senhor. Agora que já reinais como Rainha do céu e da terra, ah! não nos esqueçais, pobres servos vossos. Não vos dedigneis, desse excelso sólio em que reinais de volver vossos piedosos olhos a nós miseráveis. Vós, quanto mais vizinha estais da fonte das graças, tanto mais nos podeis delas prover. No céu, descobris melhor as nossas misérias, portanto é preciso que tenhais maior compaixão de nós e mais nos socorrais. Fazei que sejamos na terra vossos fieis servos, para podermos mais tarde bendizer-vos no paraíso. Neste dia em que fostes feita Rainha do universo, nós nos queremos consagrar ao vosso serviço. No meio de vossa grande alegria, consolai-nos também, aceitando-nos hoje por vossos vassalos. Sois vós a nossa Mãe. Ah! Mãe suavíssima, Mãe amabilíssima, vossos altares estão rodeados de muita gente que vos pede: uns vos pedem a cura de suas enfermidades, outros o vosso auxílio em suas necessidades; outros, uma boa colheita; outros, a vitória em qualquer demanda. Nós, porém, vos pedimos graças mais agradáveis ao vosso coração. Alcançai-nos o ser humildes, desapegados da terra, e resignados à divina vontade. Impetrai-nos o santo amor de Deus, a boa morte, o paraíso. Senhora, mudai-nos, mudai-nos de pecadores em santos. Fazei este milagre, que vos dará mais honra que se désseis a vista a mil cegos e ressuscitásseis mil mortos. Vós sois tão poderosa junto de Deus. Basta dizer que sois sua Mãe, a mais querida, cheia da sua graça; que vos poderá ele recusar? Ó Rainha formosíssima, nós não pretendemos ver-vos na terra, mas queremos ir ver-vos no paraíso.
A vós compete alcançar-nos esta graça. Assim o esperamos de certo. Amém, amém.
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(BRANDÃO, Monsenhor Ascânio. Um Mês com Nossa Senhora ou Mês de Maria, segundo Santo Afonso Maria de Ligório. Edições Paulinas 1ª ed., 1949, p. 72-77)