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Glória de Deus pela Encarnação – Continuação

Quinta-feira. Glória de Deus pela Encarnação - Continuação

Meditação para Quinta-feira da 2ª Semana do Advento

Sumário

Continuaremos a meditar a gloria que traz a Deus a Encarnação do Verbo; e para bem o compreender, consideraremos:

1.° Que, sem a Encarnação, o mundo nenhuma glória daria a Deus digna dEle;

2.° Que, pela Encarnação, o mundo dá a Deus uma glória infinita.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De nos conservarmos unidos a Jesus Cristo pela confiança, pelo amor, e por frequentes elevações de coração;

2.° De fazer todas as nossas orações e ações em união com Ele.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do cânon da missa:

Tudo por Jesus Cristo, tudo com Jesus Cristo, tudo em união com Jesus Cristo
Per ipsum, et cum ipso, et in ipso.

Meditação para o Dia

Adoremos o Verbo Encarnado como centro do mundo, que se refere todo a ele, como alma e vida de toda a criatura, como mediador essencial entre o céu e a terra. Deus tudo fez para Sua glória – Universa propter semetipsum operatus est (Pv 16, 4); mas esta glória é o Verbo eterno que lh’a alcança até um grau infinito em todas as partes da criação, na terra como no céu, entre os homens como entre os anjos. Tributemos-Lhe, com este intuito, louvores e ações de graças.

PRIMEIRO PONTO

Sem a Encarnação o mundo nenhuma glória daria a Deus digna dEle

O mundo material é evidentemente incapaz per si mesmo de honrar a Deus; não pode mostrar-se senão ao homem para lhe dizer a seu modo:

«Admirai quão grande é aquele que nos criou, quão bom é o que tudo fez para vós. Honrai-o em nosso e vosso nome»

De seu lado, o homem, cujos atos não podem ter senão um preço extremamente limitado, pois que nem sequer pode por si mesmo formar um pensamento meritério, é incapaz de cumprir esta grande missão. Que viria pois a ser, ó meu Deus, do desígnio que vos tínheis proposto criando, que era alcançar uma glória infinita, a única digna de Vós? Evidentemente o Vosso desígnio ia ficar baldado e a Vossa obra mutilada, se não desseis à criação um instrumento mais elevado do que o homem, um instrumento que Vos adora e ama tanto quanto mereceis, isto é, se o Vosso Verbo não encarnasse; pois que, sem isto, a criação não teria tido senão dois resultados: um, um culto imperfeito, por conseguinte indigno de Vós; outro, a eterna reprovação de todo o gênero humano, as suas ações sem mérito, as suas orações sem virtude, a sua existência sem alvo. Tudo na terra teria sido triste sem consolação, humilhante sem nada do que reanima: não teria restado aos homens senão a desesperação; e teríeis podido repetir com mais justiça a vossa palavra das primeiras épocas:

Peso-me de ter criado o homem – Paenitet me fecisse hominem (Gn 6, 7)

Ó Verbo Encarnado, quão necessário, pois, éreis à glória de Deus! Sede sempre conosco, pois sem Vós nenhuma glória podemos dar a Deus Vosso Pai, que seja digna dEle.

SEGUNDO PONTO

Pela Encarnação, podemos dar a Deus uma glória infinita

O Verbo Encarnado, colocado essencialmente pela Sua dignidade à frente da criação, ali se torna o centro e instrumento, a vida, a religião do céu e da terra, o ponto de junção de todas as criaturas que por Ele oferecem culto a Deus, e dirigem ao Pai celestial orações de um preço infinito. Oh! Quão sublime, quão belo, quão divino é o mundo unido assim ao Verbo, sua cabeça! Os seres materiais adoram pelo homem; o homem adora por Jesus Cristo que, único digno adorador, recebe no Seu coração o culto de todas as criaturas, as diviniza na Sua pessoa cobrindo-as com os Seus méritos; e daqui resulta um magnífico concerto de adorações, de ações de graças, de amor, de louvores e orações, o qual, partindo ao mesmo tempo de todos os pontos do globo terrestre, forma ante o trono de Deus como um hino universal e nunca interrompido, tão glorioso à majestade divina como proveitoso ao homem. Por quanto um só ato de adoração do Verbo Encarnado, alcança mais gloria ao Criador do que o culto de milhares de mundos prolongados durante toda a eternidade, ainda que se supusesse esses mundos povoados de anjos, ocupados unicamente em glorificar a Deus. Um só destes atos reconcilia com Deus quem quer ser reconciliado – Deus erat in Christo mundum reconcilians sibi (2Cor 5, 19); obtêm à terra todas as graças e bênçãos – Benedixit nos in omni benectidione spirituali… in Christo (Ef 1, 3) Eis aqui porque a Igreja do céu não adora a Deus senão pelo Amém eterno, que une as suas adorações às do Verbo; e a Igreja, seguindo o seu exemplo, oferece o seu culto e as suas orações a Deus por Jesus Cristo – Per Dominum nostrum Jesum Christum. Que consolação para nós poder assim render culto a Deus, e dirigir-lhe orações de um preço infinito, e por conseguinte, onipotentes sobre o Seu coração! Se tivéssemos uma viva fé nesta verdade, conseguiríamos milagres – Si quid petieritis Patrem in nomine meo, dabit vobis (Jo 16, 23). Mas ao mesmo tempo, que dever nos é por isto mesmo imposto, de viver e obrar sempre em união com Jesus Cristo, em um completo desapego das criaturas e do amor-próprio, para não formar senão um com Ele! É desta sorte que obramos ?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 63-66)