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O Centurião e os homens de meia fé

Jesus Cristo e o Centurião
Jesus Cristo e o Centurião

Tire o maior proveito desta Meditação seguindo os passos
para se fazer a Oração Mental proposta por Santo Afonso!

Meditação para o 3º Domingo depois da Epifania

Amen dico vobis: non inveni tantam fidem in Israel – “Em verdade vos digo: não achei tamanha fé em Israel” (Mt 8, 10)

Sumário. Prouvera a Deus que todos os cristãos imitassem a fé do Centurião! Então o Senhor não terá de dirigir-lhes também a eles a queixa: “Não achei tamanha fé em Israel”. Mas infelizmente é demasiadamente grande o número dos homens de meia fé, dos que creem nos dogmas do Evangelho sem se importar com a observância das suas máximas. Os infelizes! Tal fé repartida servir-lhes-á de maior condenação perante o tribunal de Jesus Cristo.

I. Tendo Jesus Cristo entrado em Cafarnaum, saiu-lhe ao encontro um centurião, para lhe suplicar que restituísse a saúde a um seu criado paralítico. Respondeu-lhe o Redentor: Eu mesmo irei e o curarei. — Não, Senhor, replicou o Centurião; eu não sou digno de que entreis em minha casa; basta que digais uma só palavra, e o meu criado estará salvo. — Jesus Cristo, ao ouvir tal palavra, admirou-se; consolou o Centurião dando no mesmo momento saúde ao criado, e voltando-se para os seus discípulos disse-lhes: Em verdade vos digo que não achei tamanha fé em Israel.

Ah! Prouvera a Deus que todos os cristãos imitassem a fé daquele centurião; então o Senhor não teria de dirigir-lhes também a eles a queixa: Non inveni tantam fidem in Israel — “Não achei tamanha fé em Israel”. Mas é excessivamente grande o número de cristãos de meia fé somente. Quero dizer que há católicos que creem nas verdades especulativas da fé, que dizem respeito à inteligência, e não creem, ou ao menos não mostram que creem, também nas verdades práticas, que dizem respeito à vontade e aos costumes.

Com efeito, como se pode dizer que creem no Evangelho aqueles que julgam desonrar-se quando perdoam, que não pensam senão em ter vida de delícias, que julgam infeliz o que se abstém dos prazeres terrestres e mortifica a sua carne? Como se pode dizer que creem no Evangelho aqueles que por humano respeito e para não se exporem aos escárnios dos outros, deixam as suas devoções, deixam a frequência dos sacramentos, deixam o recolhimento de espírito, e se dissipam em confabulações, em banquetes, quiçá em coisas piores? Ah! Desses tais deve dizer-se, ou que não têm mais fé, ou que creem somente em parte: Non inveni tantam fidem in Israel — “Não achei tamanha fé em Isael”.

II. Irmão meu, suplico-te pela salvação de tua alma, examina com diligência qual é a vida que levas. Se por desgraça não a achares de todo conforme à religião que professas, faze um firme propósito de emendá-la, a principiar de hoje mesmo. Reflete que essa meia fé, esse crer nos dogmas do Evangelho sem a observância das suas máximas, não te será de nenhum proveito perante o tribunal do juiz eterno; ou antes, servir-te-á para tua maior condenação.

Eis aí exatamente o que Jesus Cristo diz no Evangelho de hoje: “Eu vos digo que muitos virão do Oriente e do Ocidente e se sentarão à mesa com Abraão, Isaac e Jacó, no reino dos céus. Os filhos do reino, porém, serão lançados nas trevas, onde haverá pranto e ranger de dentes.” — Com estas palavras, nos quis dizer que muitos dos que nasceram entre os infiéis se salvarão com os santos, ao passo que muitos nascidos no grêmio da Igreja irão ao inferno, onde o verme roedor da consciência, com os seus remorsos, os fará chorar amargamente por toda a eternidade, lembrando-lhes sempre que, se é insensato quem não crê no Evangelho, muito mais insensatos foram os que nele creram somente pela metade.

Ó meu amabilíssimo Jesus, eu também há muito tempo mereci ser contado no número daqueles insensatos, porque não tomei sempre a vossa Lei por norma das minhas ações, e Vos ofendi, ó bondade infinita. Senhor, não me atreveria a recorrer a Vós para obter misericórdia; mas: Ad quem ibimus: A quem iremos? Assim Vos direi com São Pedro: Verba vitae aeternae habes (1) — Vós tendes as palavras da vida eterna. Dizei portanto uma destas palavras e a minha alma será salva de todas as enfermidades espirituais, que lhe causei com os meus pecados.

— Quanto ao futuro, renovo agora a minha fé em todas as verdades reveladas no Evangelho, mas somente nas especulativas, senão também nas práticas, e protesto que antes quero morrer do que tornar a transgredi-las.

— E Vós, “Deus onipotente e eterno, olhai propício para a minha fraqueza e estendei em minha defesa a mão poderosa da vossa majestade” (2); fortalecei-me com a vossa graça a fim de que não Vos torne a trair. Peço-o também a vós, ó grande Mãe de Deus e minha Mãe, Maria.

Referências:

(1) Jo 6, 69
(2) Or. Dom. curr.

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 173-175)