Por Dom Henrique Soares da Costa
A primeira leitura da Missa de hoje é, em parte, a mesma da Noite do Natal:
“O povo que andava na escuridão viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu! Fizeste crescer a alegria e aumentaste a felicidade! Todos se regozijam em Tua presença”
Irmãos, esta luz que ilumina as trevas, que dissipa as sombras da morte, que traz a felicidade, é Jesus! O texto do Evangelho que escutamos no-lo confirma: Jesus é a bendita luz de Deus que brilhou neste mundo! Ele mesmo afirmou:
“Eu sou a luz do mundo! Quem Me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida!” (Jo 8,12)
Palavras de fogo, estas! E, no entanto, já escutamos tanto tais afirmações, que corremos o risco de não perceber o quanto são revolucionárias, o quanto nos comprometem, o quanto são capazes de transformar a nossa vida!
A Palavra de Deus nos ensina que o mundo é marcado pelas trevas: trevas na natureza, que muitas vezes nos aparece hostil, trevas na história, trevas no coração da humanidade e de cada um de nós. Olhemos em volta! O mundo não é bonzinho: há forças destrutivas, caóticas, desagregadoras, forças diabólicas, que destroem a alegria de viver e ameaçam devorar o sentido da nossa existência…
Hoje, tantos e tantos julgam que podem passar sem Deus, que a religião é uma bobagem e uma humilhação para o homem… Há tantos que zombam de Deus, do Cristo Jesus, da Igreja…
O que vale no mundo atual? O que é importante? O que conta realmente? O sucesso, os bens materiais, o prazer e a curtição da vida ao máximo, sem limites, sem peias…
Será que não nos demos conta ainda que vivemos num mundo novamente pagão, novamente bárbaro, novamente entregue ao seu próprio pensar tenebroso?
Será que não percebemos que o que vemos e lemos e ouvimos dos meios de comunicação é a defesa de uma humanidade sem Deus e sem fé, de uma humanidade que tenha somente a si própria como deus? Mesmo quando falam em Deus, referem-se a um deus feito sob encomenda, um deus de uma religiosidade vaga, confusa e difusa…
Num mundo assim, Jesus nos diz:
“Eu sou a Luz!”
A luz não está nas universidades, a luz não está nos famosos deste mundo, a luz não está na tecnologia, a luz não está na ciência fechada em si mesma, a luz não está nos que têm o poder político, econômico ou social! A Luz é Cristo! Só Ele nos ilumina, só Ele nos revela o sentido da existência, só Ele nos mostra o caminho por onde caminhar! Só Ele nos revela o Pai! Ser cristão é crer nisto, é viver disto, é nisto apostar toda a vida! O cristão respeita a todos, mas não abra mão da sua convicção e não pode renunciar jamais ao mandato do Senhor de testemunhar, de anunciar tal certeza: a Verdade é Jesus, a Luz é Jesus, a Vida é Jesus, o Cristo do Pai, pleno do Santo Espírito!
Pois, esse Jesus, hoje, no Evangelho, nos convida a convertermo-nos a Ele, a segui-Lo de verdade, a colocar os passos de nossa vida no Seu caminho:
“Convertei-vos! O Reino dos Céus está próximo!”
Eis o apelo que o Salvador nos faz – far-nos-á sempre! Ninguém, absolutamente, pode ser cristão, pode ser discípulo, sem entrar no doloroso e comprometedor caminho da conversão!
Converter-se significa mudar totalmente o rumo de nossa existência, alicerçando-a Nele e não em nós, abraçando o Seu modo de pensar e deixando o nosso, seguindo Sua Palavra e não nossa razão, nossas ideias, nossa cabeça dura, nosso entendimento curto!
Quem vai arriscar? Quem vai caminhar com Ele? Quem vai abraçar Sua Palavra, tão diferente do que o mundo quer, do que o mundo prega, do que o mundo valoriza?
“Convertei-vos!”
Jesus nos exorta porque sabe que também nós andamos em trevas, também nós, simplesmente entregues à nossa vontade e aos nossos pensamentos, jamais poderemos acolher o Reino dos Céus! Não nos iludamos! Não pensemos que somos sábios, centrados e imunes! Somos, nós também, cegos, curtos de entendimento, pecadores duros e teimosos! Nosso coração é embotado por tantas paixões e por tantas cegueiras!
“Convertei-vos!”
O mundo vai para um lado; Jesus nos convida a ir para o outro! Converter-se é pensar diferente de nós mesmos e do mundo; é andar na contramão para caminhar com Cristo! Converter-se é deixar-se, como Pedro e André, Tiago e João que, “imediatamente deixaram as redes, deixaram a barca e o pai” e seguiram o Senhor!
Caríssimos, como não recordar a exortação do Apóstolo?
“Não andeis como andam os pagãos, na futilidade de seus pensamentos, com entendimento entenebrecido, alienados da vida de Deus!” (Ef 4,17)
Quando aceitamos esse desafio, esse convite, o sentido de nossa existência muda, porque começamos a enxergar e avaliar as coisas de um modo novo, um modo diferente: o modo de Cristo Jesus! Aí se realiza em nós a palavra da Escritura:
“Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor! Andai como filhos da luz!” (Ef 5,8)
Mais uma vez, é preciso dizer: não se pode afirmar ser cristão, amar o Senhor, segui-lo e fazermos simplesmente o que desejamos, do nosso modo no tocante aos bens materiais, à sexualidade, à vida familiar, ao negócios, à relação com os demais! Em tudo isto, “convertei-vos!”, em tudo isto, mudemos de vida, abracemos a medida de Jesus nosso Senhor – que não é a nossa!
Nunca esqueçamos e não nos iludamos: não se é cristão por admirar a Igreja, não se é cristão por uma admiração estética, não se é cristão pelo gosto dos ritos da nossa fé, não se é cristão por certa sensibilidade histórica, não se é cristão por amizade ou simpatia por alguém! É-se cristão simplesmente por crer que Jesus é o Cristo do Pai, a Luz do mundo e a Ele aderir, a Ele converter-se em todos os aspectos e níveis da existência!
Caríssimos, deixar-se iluminar pelo Senhor, permitir que Ele dissipe nossas trevas, é um trabalho, um processo que dura todo o nosso caminho neste mundo. Jamais estaremos totalmente convertidos, totalmente iluminados! Na segunda leitura da Missa, São Paulo convidava os cristãos de Corinto à conversão para uma vida de união e de amor. É assim: a Igreja toda inteira e cada um de nós pessoalmente, seremos sempre chamados a essa mudança, a esse deixar que a luz de Cristo invada a nossa existência tenebrosa! Nunca esqueçais, caríssimos, porque é verdade:
“Outrora, sem Cristo, éreis trevas, mas, agora, sois luz no Senhor! Andai, pois, como filhos da luz!”
Seja esse o nosso trabalho, seja essa a nossa identidade, seja essa a nossa herança, seja essa a nossa recompensa! E que o Senhor nos socorra com a força da Sua graça, Ele que é fiel e bendito para sempre! Amém.