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Quarto remédio para os extravios da Imaginação

Meditação para a Décima Sétima Quarta-feira depois de Pentecostes. Quarto remédio para os extravios da Imaginação

Meditação para a Décima Sétima Quarta-feira depois de Pentecostes

SUMARIO

Meditaremos sobre o quarto remédio que devemos opor aos extravios da imaginação, que consiste em uma diversão:

1.° Pronta;

2.º Humilde;

3.° Pacifica.

– Tomaremos depois a resolução:

1.° De nunca nos desconsolarmos, quaisquer que sejam as divagações da nossa imaginação, e de termos sempre paciência e ânimo;

2.° De-lhes opormos constantemente uma diversão pronta, humilde e pacifica.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Jó:

“Os meus pensamentos se desvaneceram, sendo verdugos do meu coração” – Cogitationes meae dissipatae sunt, torquentes cor (Jó 17, 11)

Meditação para o Dia

Adoremos Nosso Senhor tentado no deserto, fazendo diversão à tentação com passagens da sagrada Escritura, com a oração e a união com Deus seu eterno Pai. Agradeçamos-Lhe este exemplo, e imploremos-Lhe a graça de O imitar.

PRIMEIRO PONTO

Devemos opor à imaginação uma diversão pronta

Querer conter a imaginação à viva força, seria querer o impossível: concentraríamos mais depressa o ar na nossa mão. A diversão é o único recurso; voltamos as costas ao inimigo, cuidando com mais ardor no que temos a fazer, lançando-nos com amor nos braços de Deus com impulsos afetuosos, como o menino que querem arrancar do seio de sua mãe e que se une tanto mais a ele quanto mais se esforçam por separá-lo dele. O essencial é não tardar: porque, já tão má de si, que não faria a imaginação, se a deixássemos dominar por alguns instantes? Arrastar-nos-ia seduzidos pelas suas risonhas pinturas, nos faria perder o tempo, muitas vezes até alguma coisa mais preciosa, misturando com as imagens permitidas imagens perigosas, depois imagens perniciosas. Eis o que lucramos transigindo com, as leviandades da imaginação, em vez de nos distrairmos delas desde o primeiro momento.

Examinemo-nos a este respeito. Vigiamos habitualmente o nosso interior, para não deixar penetrar nele vãs imagens? Não conservamos, ao contrário, cientemente certas ideias, que nos recreiam? Não as tornamos a chamar, quando se escapam, e não formamos outras mais vivas? Não nos enganamos a nós mesmos pensando que, em certas ocasiões, podemos dar largas à nossa imaginação?

SEGUNDO PONTO

Devemos opor à imaginação uma diversão humilde

Como a imaginação é, de todas as nossas faculdades, a mais degradada e uma das nossas maiores misérias, devemos humilhar-nos profundamente diante de Deus, e, prostrados a seus pés, dizer-Lhe com um vivo sentimento da nossa miséria:

«Ai de mim, Senhor! Eu não sou mais que uma ligeira folha, que o menor vento leva, um assopro que passa e não volta (1). Perdi o respeito devido à Vossa presença, e só mereço que me desprezeis. O meu lugar é debaixo dos pés de toda a criatura. Glorifiquem-Vos milhares de anjos contemplando-Vos; gozem as almas santas as delícias da piedade; quanto a mim, indigno de contentar o Vosso amor, reputarei grande honra estar aqui prostrado aos Vossos pés para satisfazer à Vossa justiça pelas minhas faltas de fervor. A minha sorte é a miséria, a fraqueza; abismado no meu nada, aceito-a e resigno-me»

Tal é a humilde diversão que devemos opor às importunidades da imaginação. A alma, que lhe é fiel, atrai sobre si a vista e o agrado de Deus, que a consola, a ilumina, a une tanto a si, que um piedoso autor disse (2), que as distrações, quando sabemos humilhar-nos, são um meio de chegar à contemplação.

TERCEIRO PONTO

Devemos opor à imaginação uma diversão pacífica

A paz do coração é o mais, precioso de todos os bens; e tirar-no-la seria um triunfo para o demônio, ainda quando extraviando a nossa imaginação deixasse o nosso coração inocente. E para que dar este gosto ao inimigo da nossa salvação? Por estarmos distraídos, não somos culpados, enquanto não dermos a isto ocasião, nem consentimento. Jó não era menos santo, quando os seus vãos pensamentos lhe atormentavam o coração (3); tão pouco Davi, quando as ilusões da sua imaginação vinham impor- tuná-lo (4); tão pouco todos os santos, quando a imaginação os levava aonde não queriam. Não devemos, portanto, perder a paz, nem irarmos, nem afligir-nos, ainda que a imaginação nos fizesse padecer até à morte. Santa Tereza padecia por este motivo ainda depois de quarenta anos de oração.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Spiritus vadens, et non rediens (Sl 77, 39)

(2) O Pe. Guilleoré

(3) Cogitationes meae disspatae sunt, torquentes cor meum (Jó 17, 11)

(4) Lumbi mei impleti sunt illusionibus (Sl 37, 3)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo V, p. 29-31)