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Um exame

Na linda natureza de Deus
Jorge procurou sanar sua ignorância em anatomia, e durante alguns dias dedicou-se a esse estudo. Em nossa biblioteca ambulante encontrava-se uma obra relativa ao assunto. Depois, orgulhoso apresentou-se ao professor para submeter-se a um exame. O mestre aceitou, fez algumas perguntas, mas intercalou muitas ponderações interessantes, sobretudo quanto à mão do homem.

“Diga-me, Jorge, que sabe você da mão?”

“A mão do homem se compõe de 27 ossos, ligados entre si por meio de 4O músculos, segundo um princípio tão maravilhado quão simples”, começou Jorge.

“Por ora basta. Considerem rapazes, que sem o sensível mecanismo da mão, o homem havia de perder sua superioridade intelectual sobre os animais. Por causa da mobilidade da mão e sua multíplice adaptabilidade, podemos executar o mais grosseiro, bem como o mais delicado trabalho. A nosso desejo, ela toma a forma de colher e assim nos serve. Se eu quiser, torna-se um grampo com o qual posso trepar. Sua maior vantagem consiste em poder-se colocar o polegar em oposição aos demais dedos é com a tenaz resultante levantar objetos mesmo pequenos. Os dedos não tem todos o mesmo comprimento. Por que? A fim de podermos levantar também objetos redondos, não é?”

“E a gesticulação?”

“Também isso. Quantos sentimentos e sensações se podem exprimir por meio das diferentes posições dos dedos! A mão é verdadeira obra-prima do Criador. O homem deve à inteligência e a mão sua superioridade no meio dos seres. Essa mesma mão, tenaz forte que segura os instrumentos, é igualmente capaz de manter levemente uma caneta e dirigir suavemente o lápis do desenhista. Seguramos o instrumento com o punho, a pena entre o polegar e o indicador. Com isto já temos um duplo mecanismo construído na mão. Não é apenas um duplo mecanismo, mas toda uma série engrenagens! Podemos também apalpar, apertar com a mão, sendo para isso, necessário um novo dispositivo. Um bom engenheiro pode construir máquinas que espremem e outras que agarram. Que sábio construtor deve ter tido a máquina que, ao mesmo tempo, espreme, agarra, apalpa, sente, sem que uma atividade estorve a outra!”

“Como é, senhor professor, que o dobrar dos braços não produz atrito?”

“É realmente digno de nota. Já repararam quantas vezes as articulações duma máquina devem ser lubrificadas? A técnica está tão avançada que as grandes máquinas possuem uma lubrificação automática, caindo o óleo continuamente, às gotas. Uma máquina, porém, que produza ela própria o óleo necessário, como acontece nas juntas dos ossos, ninguém a soube construir.

Consideremos agora que operação complicada, agarrar algum objeto com os dedos.”

“E é isso coisa tão singular?”

“Certamente! Sabem como se dobram os dedos? Os músculos que dão para as falanges se contraem. Mas o mais enigmático é que cada parte é movida por uma força exterior, ao passo que o nervo é movimentado por uma força encerrada no próprio músculo. O nervo apenas toca o músculo, e no mesmo instante, neste começa a agir uma força motriz. A mesma força que se move, também, transmite movimento. Máquina, assim o homem não poderia nem imaginar, quanto mais construir.”

“Senhor professor, que força pode ser essa, latente no homem e despertada pelo nervo?”

“Alguma espécie de eletricidade. Cada músculo é verdadeiro acumulador de eletricidade. Centenas de baterias repousam no corpo humano, e todas tem por fim produzir algum movimento. Imaginem que mecanismo complicado deve ser!

Mais uma coisa: Que é que obriga os músculos dos dedos n executar sua função? Façamos uma experiência, Jorge. Vou dar uma ordem a seu dedo, e você a cumprirá. Agora:

“Direito!” O dedo de Jorge endireitou-se.

“Dobre!” Foi nova ordem, e o dedo virou-se como uma rosquinha.

“Direito!” — e o dedo estava de novo teso.

Então, meu caro. Seu cérebro ordena, o dedo obedece. As ordens dele são transmitidas ao membro por fios telegráficos, os nervos. A humanidade precisou milênios para descobrir o telefone e o telégrafo, quando no corpo de cada homem está funcionando uma rede telegráfica de inimitável exatidão. Se o telégrafo é uma invenção admirável, como é grande a sabedoria que nos revela a organização do corpo humano! Nem mesmo a rede telefónica das maiores cidades tem uma central tão complicada como o cérebro humano!

Nós podemos não apenas agarrar, mas também apalpar e sentir com a mão. Isso se produz ainda por meio de fibras nervosas, que se ramificam ao máximo na ponta dos dedos. Toda a superfície do corpo está munida de tais postos de observação que notificam à central o que ocorre no mundo exterior: frio, calor, dureza, etc., dos objetos. As extremidades dos nervos de visão audição, paladar e olfato, são postos avançados cujas notícias chegam à central, incessantemente, com a rapidez do relâmpago. Por meio deles chegamos a saber imediatamente que imagens, sons, odores, nos circundam e se são proveitosos ou nocivos a nosso organismo.

Nos grandes empreendimentos é indispensável que haja alguém que esteja ao par do andamento de todo o complexo e seja sempre informado de tudo. Na guerra, o quartel general está munido de uma rede telefônica cuidadosamente estendida, e equipado de divisões automóveis, a fim de que o comandante em chefe receba o máximo de notícias do campo de batalha. Se para isso já é necessária tanta precaução, quanto maior sabedoria demonstra o equipamento de todo o corpo humano, com tantos postos de observação e informação!”

Todo esse tempo, Jorge acenava compreensivamente com a cabeça, sua fisionomia indicava aplauso, e assim se saiu do exame de anatomia.

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(TOTH, Monsenhor Tihamer. Na linda natureza de Deus. Editora S. C. J., 1945, p. 97-101)

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