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História da Igreja 3ª Época: Capítulo VIII

Frederico Barba-Roxa

O imperador da Alemanha, Frederico, chamado Barba-Roxa pela cor de sua barba, perturbou durante muitos anos a paz da Igreja. Depois de ter incendiado e reduzido a um monte de ruínas as cidades de Suza, Chieri, Asti e Milão, convocou um concílio e elevou à dignidade pontifícia um anti-Papa excomungado por Alexandre III. Cheio de ira contra o legítimo pontífice, resolveu marchar sobre Roma para vingar-se cruelmente; porém uma terrível epidemia que fez perecer a maior parte de seus soldados, obrigou-o a desistir da empresa. Então determinou dirigir suas armas contra Alexandria da Palha, cidade que o mesmo pontífice tinha mandado edificar para libertar a si e a Itália de suas iras. Sitiou a cidade e quis tomá-la de assalto, mas foram vãos todos os seus esforços. Derrotado pouco depois pelos confederados italianos, na memorável batalha de Lenhano, julgou conveniente humilhar-se e ir pedir perdão ao Papa. Este o recebeu com bondade e levantou-lhe a excomunhão. Frederico, em penitência de seus pecados, foi com seu exército para Palestina, a fim de reconquistar a Jerusalém, mas depois de muitas e gloriosas vitórias, morreu no ano 1199, em um rio da Cilícia, onde fora tomar banho.

São João da Mata

Achando-se naqueles tempos grande número de cristãos escravizados entre os Turcos, especialmente nas costas da África chamada Berbéria, suscitou Deus, para ir em seu auxílio, a São João, nascido em Mata, cidade da Espanha.

Enquanto se achava celebrando a santa Missa em Paris, apareceu-lhe um anjo que descansava suas mãos sobre dois escravos. Conheceu por isto ser vontade de Deus que ele se consagrasse ao resgate dos escravos que tinham caído em poder dos infiéis. Mas para certificar-se melhor da vontade do céu, foi ter com São Felix de Valois, que também levava uma santa vida no deserto. Este santo que tivera a mesma visão, reuniu-se a São João e ambos foram a Roma pedir ao Papa apro­vasse uma ordem que tivesse por fim o resgate dos escravos, podendo-se entregar os próprios religio­sos em troca da pessoa que se quisesse resgatar, toda vez que não se pudesse consegui-lo com dinheiro. O Papa Inocêncio III, que ocupava então a Santa Sé, e que tinha tido igual visão celebran­do a santa Missa, não titubeou em aprovar a nova ordem. (1198).

Fundou São João muitas casas de zelosíssimos religiosos e fez duas vezes viagem a Tunis com o fim de exercer ali suas obras de caridade. Irritados por isto os muçulmanos, ultrajaram-no de diferentes maneiras, e finalmente puseram-no sobre um batel ao qual tinham tirado o leme e as velas, para que perecesse no meio do mar. O santo porém com o crucifixo na mão começou a cantar glórias a Deus, ao passo que o barco guiado pela divina Providência, em poucos dias chegou ao porto de Óstia na Itália, trazendo a bordo cento e vinte escravos que ele tinha resgatado. Abatido pelos males sofridos nesta viagem e pelas austeridades de sua vida, morreu João em Roma no ano 1212.

Ritos e leis disciplinares desta época

No ano 690, por celestial aviso, erigiu-se um altar em Roma, para onde se transladaram as relíquias de São Sebastião, com o fim de debelar uma horrível epidemia que no mesmo instante cessou.

No século oitavo, estabeleceu-se como regra geral para ser observada indistintamente por todos os cristãos e em todos os casos, (excetuando o de enfermidade grave) que ninguém pudesse receber a Santa Eucaristia senão em jejum. Esta lei existia desde o tempo dos Apóstolos; mas como estava sendo esquecida ou descuidada, renovou-se mais severamente, sendo declarado réu de sacrilégio o que se atrevesse a violá-la.

Foram instituídas várias confrarias em sufrágio das almas dos defuntos, e começou a se recitar o ofício da Bem-aventurada Virgem. No século nono, Gregório IV ordenou que a solenidade de todos os Santos, já introduzida em Roma no século sétimo, se celebrasse em toda a Igreja em honra de todos os Santos, o que até então não se fazia a não ser em relação aos mártires.

No ano 893, João XV registrou nos fastos dos santos a Santo Ulderico, bispo de Augusta, com rito público e solene, com bula chamada de canoniza­ção; o que, segundo parece, nunca se fizera antes, porque os santos eram então canonizados em sua própria diocese por voz do povo e decreto do bispo, ou por decreto de todos os bispos da província eclesiástica à qual pertenciam.

No século décimo o bem-aventurado Hermano compôs a Salve Regina, até as palavras nobis ostende. São Bernardo acrescentou, como já dissemos, o clemens, o pia, o dulcis Virgo Maria. As últimas palavras: Dignare me landare te, Virgo sacrata, etc., afirma-se, pertencem a São Domingos. Introduziu-se em toda a Igreja a solene comemoração dos fiéis defuntos no segundo dia de novembro. A respeito disto é digno de lembrar-se o presente feito à Igreja de Santa Maria de Pinerolo, em 1064 pela princesa Adelaide de Sabóia, marquesa de Suza, em sufrágio da alma de seus pais e particularmente do marquês Odon seu esposo.

No ano 1136, a Igreja começou a celebrar so­lenemente a festa da Conceição de Maria Santís­sima. São Bernardo se opôs a isto a princípio não porque lhe desagradasse que se desse este maior grau de honra a Maria, porém porque desejava que antes se consultasse a Santa Sé, sem cuja intervenção não queria se tomasse determinação alguma de interesse geral para a Igreja.