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História da Igreja 3ª Época: Capítulo VI

São Bruno

Nasceu São Bruno em Colônia de família ilustre, e fez tais progressos na ciência e na virtude, que ainda muito jovem, tornou-se credor de cargos muito elevados. Querendo, porém, abandonar o mundo e entregar-se inteiramente a Deus, partiu com seis companheiros e subiu com eles a altíssima e mui escabrosa montanha de Grenoble, chamada Cartuxa. No meio daqueles montes rodeados de precipícios, e de penhascos espantosos, fundou a ordem dos Cartuxos, assim chamada pelo lugar onde teve princípio. A nova ordem se difundiu rapidamente por toda a Europa. O Papa Urbano II queria nomear a Bruno arcebispo de Reggio; ele porém não quis nunca aceitar essa dignidade. Permitiu-lhe então o Pontífice que se retirasse para a Calábria com alguns companheiros, onde fundou outro mosteiro chamado a Torre. Morreu no ano 1101.

Libertação dos Santos Lugares

Os Santos Lugares, que por suma desgraça e ludibrio da cristandade, se achavam desde mais de cinco séculos em poder dos maometanos, foram libertados por meio das Cruzadas, isto é, exércitos reunidos pelos príncipes da Europa. O iniciador desta grande obra foi um simples sacerdote da diocese de Amiens, chamado Pedro, e apelidado o eremita por sua vida solitária. Fazendo uma peregrinação a Jerusalém, comoveu-se vivamente ao ver mesquitas e estábulos em redor da Igreja do Santo Sepulcro, e ao contemplar todos os lugares santificados pelo nascimento, vida, milagres, pregação, morte, sepultura, ressurreição e ascensão do Salvador, em poder dos infiéis e de mil modos profanados. Ao chegar a Roma apresentou-se a Urbano II, e pintou tão ao vivo o triste estado daqueles lugares, que o Pontífice se propôs lançar mão de todos os meios para libertá-los de semelhante profanação. Pedro, alentado assim pela aprovação do Papa, em breve tempo animou as potências européias a que se armassem para levar a cabo aquela santa e grande empresa. Os que se alistavam tomavam por divisa uma cruz de lã encarnada que faziam colocar sobre o ombro direito, donde o nome de cruzados. Ao chegar o exército cristão perto de Jerusalém, sitiou a cidade e assaltou os inimigos com tal ímpeto e com tanto valor, que depois de cinco semanas de combate, se apoderou da cidade, expulsando de lá os inimigos e fez desaparecer todas as imundícies que desonravam aqueles santos lugares. Os fieis em agradecimento ao divino favor tomaram vestidos de penitentes, e com os pés descalços foram visitar os lugares consagrados pelos padecimentos do Salvador. Fizeram logo uma festa esplêndida sagrando ao valente e piedoso capitão Godofredo de Bouillon, duque de Lorena, como rei e soberano do reino de Jerusalém. Em sinal de reverência a Jesus, Godofredo jamais quis levar a coroa naquela cidade. Em seguida, para honrar o culto divino, fundou ali um cabido de cônegos, fez um mosteiro no vale de Josafá e levantou muitas Igrejas às quais ofereceu preciosos dons. (1099).

Com o fim de por dique aos infiéis que molestavam os cristãos, muito capitães se consagraram ao serviço do Senhor, formando e instituindo para tal fim a ordem dos Hospitaleiros de São João. Seu ofício consistia em assistir aos enfermos, servindo-lhes com suas próprias mãos, como criados, e combater valorosamente pela causa da Religião. Esta ordem chamou-se mais tarde Cavaleiros de Malta porque tinham fixado moradas nessa ilha desde o ano 1530.

Santo Anselmo, bispo e doutor

Nasceu Santo Anselmo em Aosta de pais nobres no ano 1033. Desde pequeno deixou vislumbrar grande ardor para o estudo e para a virtude. Aos quinze anos espantado já com os perigos que encontrava no século, queria fazer-se monge; porém seu ardor juvenil e alguns falsos companheiros, lhe fizeram retardar a execução de seu santo propósito seguindo por algum tempo as máximas do mundo. Mas iluminado pela graça divina, abandonou as vaidades mundanas, vendeu todos seus bens, e retirou-se para a abadia de Bec em França sob a observância das regras de São Bento. Ajudado ali e instruído pelo célebre Lanfranco, fez tais progressos na virtude, na filosofia e na teologia, que depois de três anos foi eleito prior. Este novo cargo serviu-lhe de estímulo para andar com maior ardor no caminho da perfeição. Empregava o dia nos exercícios monásticos e em instruir os outros e de noite, depois de muito breve descanso, ocupava-se na meditação das verdades eternas e em responder aos que por carta lhe pediam conselhos. À imitação do Salvador, entretinha-se com predileção em instruir as crianças. Tinha como regra que na educação dos pequeninos não se deve empregar demasiado rigor, nem se deve levar ao cumprimento do dever à força de castigos, porque dizia, acontece com eles o que se dá com as tenras plantas que, cercadas com demasiada estreiteza, ficam sufocadas e não produzem frutos.

Sua ciência profunda unida à eminente santidade, grangeou-lhe as simpatias e o carinho dos reis, dos bispos e do pontífice São Gregório VII, que, oprimido pelos poderosos do Século, recomendava­se a suas orações juntamente com sua Igreja. Morto Lanfranco, que fora nomeado arcebispo de Cantuária, sucedeu-lhe Anselmo. O rei Guilherme, porém, que tinha promovido sua eleição, começou desde logo a persegui-lo, pretendendo se intrometer nos assuntos eclesiásticos. O santo Arcebispo se opôs com firmeza. Despojado de todos os seus bens e obrigado a por a salvo sua vida por meio do desterro, foi a Roma junto do pai comum dos fiéis que era então Urbano II. O Papa o cumulou de louvores e de graças e valeu-se dele em muitos e importantes negócios. Dali a pouco morreu o rei Guilherme e sucedeu-lhe Henrique. Um dos primeiros atos do seu governo foi chamar imediatamente o nosso santo para a Inglaterra; porém, pouco depois o mesmo o desterrou de novo cruelmente. No meio daquelas continuas aflições, o santo costumava dizer que nada temia no mundo senão o pecado.

“Se de um lado, dizia, visse eu o pecado, e de outra parte as penas do inferno, escolheria de preferência estas antes que cometer um pecado”

Estas últimas perseguições não duraram muito, pois que dois anos depois, quando parecia que as coisas se tinham novamente regularizado com o rei dormiu no Senhor na idade de 76 anos. Deixou fama de grande santidade e de operador de milagres em vida e depois de morto (1109). Sua santidade e sua vasta e profunda doutrina fizeram que fosse enumerado entre os doutores da Igreja.

Santo Isidro, o lavrador

No seio da Igreja católica todos, Seja qual for a sua condição, podem chegar a possuir a perfeição das virtudes; bem o dá a conhecer assim um pobre lavrador chamado Isidro, que se distinguiu naquele século. Nasceu em Madri de pais pobres, e ainda que se visse obrigado a ganhar o sustento com o trabalho de suas mãos, conservou-se sempre fervoroso no serviço do Senhor. Costumava levantar-se de manhã muito cedo, e, antes de trabalhar, ia todos os dias ouvir a santa Missa. Era muito devoto da Virgem, e, já caminhando pelas ruas, já trabalhando no campo, rezava sempre a Ave Maria, sua oração favorita. Alguns invejosos acusaram-no a seu amo, dizendo-lhe que para cuidar de suas devoções descuidava a cultura dos campos. Este então tratou de surpreendê-lo; mas qual não foi sua surpresa quando, ao chegar junto de seu servo, viu dois arados que aravam com Isidro! Perguntando de quem eram aqueles dois arados que tinham desaparecido à sua chegada, Isidro respondeu-lhe:

“Eu não conheço outro auxílio senão o de Deus a quem invoco no princípio de meus trabalhos, e nunca o perco de vista durante o dia”

Conheceu então o amo a santidade de seu servo, e vendo os campos bem cultivados, o exortou a perseverar em suas santas práticas. Cheio de caridade para com os órfãos, dava-lhes tudo o que sobrava de seu escasso alimento. Passou toda sua vida entre pobres agricultores e morreu no ano 1130, Em pouco tempo operaram-se muitos milagres em seu sepulcro; por isso o clero e os magistrados foram ao cemitério comum com o fim de transportar o corpo do glorioso lavrador para lugar mais honroso. Nessa ocasião deu-se um fato assaz extraordinário; porque ao dar o primeiro golpe para exumá-lo, todos os sinos tocaram de per si e não pararam até se concluir a cerimônia.